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Tudo como dantes

por Sofia Loureiro dos Santos, em 02.09.15

debate be pcp.jpg

Ouvi hoje alguns excertos da entrevista de ontem com os líderes do BE e do PCP. Aquilo que ouvi é coerente com a atitude destes dois partidos - os tais que se dizem de esquerda - para com o PS, eleito como já é hábito, no seu verdadeiro adversário político, afirmando que o PS tem votado sempre ao lado do PSD e do CDS:

 

(...) a vida tem demonstrado que o PS, em minoria ou em maioria absoluta, sempre, mas sempre, ao longo destes 39 anos, fez uma opção - a política de direita - e a verdade é que os portugueses têm prova de facto, incluindo neste programa eleitoral (...)[do PS]" - Jerónimo de Sousa.

 

Claro que o facto de terem sido estes dois partidos a votarem ao lado da direita para derrubar o governo do PS, o que levou à queda do mesmo e à tomada do poder pela coligação PSD/ CDS é uma cruel ironia e uma triste e recorrente realidade.

 

Quanto à hipótese de haver coligações para viabilizar um governo de esquerda, é apenas mais uma hipocrisia de quem ainda não conseguiu aceitar a democracia que o 25 de Abril de 1974 inaugurou e que o 25 de Novembro de 1975 reatou.

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publicado às 14:58


6 comentários

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De Ideias e Baleias a 02.09.2015 às 15:43

E se tivessem votado a favor do PEC4? Teriam posteriormente possibilidade de criticar as medidas alinhadas com o mesmo? Se discordavam do conteúdo do PEC4 só podiam votar contra. É que a outra opção seria votar a favor.

E em relação a terem derrubado o Governo PS para dar o poder ao PSD/CDS, não foram eles que convocaram eleições, nem foram eles que votaram no PSD/CDS.

Foi o PS que convocou eleições, pois podia ter tentado resolver os problemas sem recurso a eleições (se quisesse realmente fazê-lo).
E depois foi parte dos eleitores que elegeu o PSD/CDS.

De acordo com as posições demonstradas no debate, não é possível haver coligações de governo de esquerda que envolvam PS, BE ou CDU, devido às ideologias e às políticas que defendem. Até porque nem todos estes partidos se comportam como esquerda. Já vi os programas dos 3 e são desequilibrados e não funcionam na prática. Acrescento que o do PS é muito texto com pouca vertente prática; pelo menos a mim não me cativou, para não dizer mais.
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De A.Teixeira a 03.09.2015 às 10:05

"Se tivessem votado a favor do PEC4" todo o establishment político em Portugal tinha caído de cu com a surpresa! Porque a extrema-esquerda não começou por votar contra o PEC4: votou contra o PEC3, o PEC2, o PEC1, os vários tratados europeus, a adesão à CEE,... o comportamento da extrema-esquerda nestes últimos 40 anos tem sido completamente previsível – até na imprevisibilidade da queda do Muro de Berlim e na constatação do fracasso do que defendera até então. Foi António Guterres quem, muito lucidamente, separou «quem fazia parte da solução» de «quem fazia parte do problema». A extrema-esquerda continua a fazer parte do problema, reclamando-se por sua vez ser parte de uma solução que tem o handicap democrático de apenas uma minoria muito minoritária do eleitorado a defender. A esquerda maioritária irrita-se muito mas a extrema-esquerda minoritária está no seu pleno direito de não querer reconhecer o óbvio. O que não é consequente é complementar isso com toda aquela conversa hipócrita das “convergências à esquerda”, porque essa convergência se tem cingido na prática às opiniões dos vários «clubes de amigos» com o mesmo posicionamento ideológico, o que é fácil – veja-se o que aconteceu no recente debate entre PCP e BE. Agora, fazer convergir um leque alargado de opiniões que representem uma maioria dos votos dos portugueses, isso é que é uma chatice, mas é uma daquelas chatices indispensáveis em Democracia.
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De Ideias e Baleias a 03.09.2015 às 16:47

Nunca seria bom votar a favor ou contra o PEC4. O "sim" introduziria por decisão nacional um conjunto de medidas duras. O "não" também porque levou à queda de um governo, que levou à eleição de outro que teve de lidar com os problemas existentes (criados ao longo de décadas por todos) e aí à introdução de medidas duras por exigência externa e aceitação nacional. "Sim" e "não" convergem para o mesmo destino, não sendo muito útil estar a discutir qual dos dois seria mais "mal".
Devido a muitas acções de décadas é que se atingiu esse nível limite em que era...hum...impraticável fazer de outra forma.

Quanto às esquerdas, direitas, centros isto é uma guerra semelhante às discussões entre marido e mulher. Todos se acusam mutuamente e com razão do que os outros fizeram, mas todos têm culpa em algo. "Tu votaste assim naquele dia" e o outro responde "mas tu fizeste assado naquela situação". Isso tem relevância para apurar responsabilidades e moralidades, mas na perspectiva de implementar soluções e fazer andar as coisas para a frente, vale zero. Ou até vale -100 porque o tempo e energia gastos a discutir esses assuntos seriam úteis para trabalhar de forma construtiva.
Na minha opinião, quando se usa a expressão "actores políticos", isso é quase literal. Porque eles são "actores-políticos" que têm de mostrar que estão a favor de algo e contra a oposição/Governo, ao mesmo tempo que seguram o seu lugar a cada mandato. No meio disto tudo, talvez sejam "actores-políticos-crentes" porque fazem o teatro da luta política de forma tão intensa que eles próprios acreditam no teatro que fazem.

Portugal e outros países com situações semelhantes têm de ter consciência de que só estão a adiar o inevitável. Como já tenho escrito no blog, é como um doente que se recusa a ir ao médico. E quanto mais adia, mais a doença avança. Até ao dia em que a doença está tão avançada que o tratamento custa muito mais do que se tivesse sido tratado anos antes.

Voltando às eleições, a cada dia de eleições que se mantém o país a funcionar no mesmo modelo, é um adiamento que se está a fazer ao país.
Se continuarmos assim, daqui a cerca de 10 anos (quando os dos 25-35 tiverem 35-45 anos), a sociedade da antiga classe média tem elevada probabilidade de colapsar ou já ter colapsado. Isto porque a forma como o emprego está a ser conseguido por estas pessoas é muito frágil; ficam sem condições para se sustentarem já hoje, para saírem da casa dos pais, de ter filhos, de fazer "a vida" clássica que conhecemos até hoje. Há também recém-formados que vão directamente para o estrangeiro trabalhar e muitos estudantes já estão a preparar-se para o fazer enquanto estudam. As próprias cidades (populosas por natureza) arriscam-se a ficar esvaziadas como o interior do país.

Tudo isto pode ser resolvido e revertido, desde que exista boa-fé e boa-vontade de quem governa e legisla. Não precisamos de a governação pela esquerda ou pela direita.
Podemos ter um modelo equilibrado entre necessidades sociais e necessidades empresariais. Nem dar todos os benefícios e subsídios às pessoas nem facilitar em excesso a vida das empresas em detrimento dos colaboradores. Não se pode é pensar é que basta mexer em 2 ou 3 componentes do país para atingir este modelo. Tem de ser uma reorganização integrada, onde cada "perda" de um lado é compensada por um "ganho" no outro, e em que bem vistas as coisas, o resultado global é bastante superior ao que existia antes da reorganização.

Os partidos com assento na AR (PS e PSD) têm formas de funcionamento baseado em pequenos ajustes e fazem o suficiente para poderem ter alguns pontos positivos e não serem acusados de não terem feito nada. Para além disso, têm uma enorme necessidade de demonstrarem que são superiores aos restantes, recusando por vezes aprovar ideias dos outros partidos só porque são oriundas dos outros. PSD e CDS receberam a Troika e aguentaram o barco (para não afundar), mas isso eram os mínimos e não deram mostras de que o seu funcionamento fosse inovador em relação aos seus mandatos anteriores. Por isso, o PSD/CDS de 2015 é só uma versão mais velha deles próprios. O PS a mesma coisa. Deram-nos algum sinal de que melhoraram?
Os partidos da esquerda nunca governaram. Não sei se fariam aquilo que dizem que fariam. Se o fizessem...
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De Ideias e Baleias a 03.09.2015 às 17:02

...não sei se funcionaria.
Eu não concordo com muitas das propostas deles (outras sim e outras mais ou menos) e não me parece que o país tivesse recursos financeiros para custear tantos apoios sociais e nacionalizações SEM, em compensação, apostar na indústria, nas empresas, na economia... Já vi pelo menos 2 programas eleitorais mais equilibrados (de partidos mais pequenos).
De qualquer forma, penso que um cidadão comum não tem acesso às fontes de receitas e de despesas do Estado para poder, pelo menos, perceber como poderia ser feito melhor. Entende?

Outro bloqueio é a ligação de Portugal à UE. Pode parecer drástico, mas vou explicar. Como há normas europeias, recomendações e obrigações o país não tem independência a 100%. Não pode fazer tudo o que o Governo gostaria. E não se pode emitir moeda; essa alternativa acabou. PS e PSD costumam estar alinhados (ou submissos) com a UE. Se existisse um governo de BE, PCP ou outro partido, tentariam a rotura com a UE, mas travariam uma dura batalha. E sem capacidade de emitir moeda (e na falta de capital) ficam dependentes de quem lhes empreste. Por isso, mesmo com boa-vontade é difícil desatar as coisas. Possível, mas difícil. Ou difícil, mas possível.
Mas mais cedo ou mais tarde algo irá acontecer. E quanto mais tarde for, maior será a dor.

P.S. - Ah, faltou falar na questão do "convergir" ideias entre partidos. É difícil porque o leque de ideias é tão incompatível que ninguém consegue aceitar a visão dos outros. Eu até concordo com o BE e PCP QUANDO dizem que têm de derrotar (eles gostam de usar estes termos, derrotar, luta, etc) as políticas de direita. Mas é aquela comunicação crítica, repetitiva e negativa que estraga tudo. E as políticas deles não me convencem. Mas outros podem ver de forma diferente.
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De A.Teixeira a 04.09.2015 às 13:04

Uns números apenas. O texto original tem 206 palavras, ¼ das quais pertencem a uma citação. O seu primeiro comentário 175. A minha réplica 229 e isso porque sou – confesso – muito palavroso. Este seu último «lençol» tem 1.039 palavras e o assunto e os visados não o merecem...
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De Ideias e Baleias a 04.09.2015 às 22:16

Sim, estou a perceber a lógica. Já sabe que é muito fácil escrever-se muito sem dar por isso. E como os temas estão mais ou menos ligados começa-se a atingir outros temas a cada frase. Se vir os meus posts, alguns são muito curtos; outros longos até demais para mim.

Com tanto texto, fiz mais ou menos o mesmo que os treinadores e jogadores de futebol após o jogo: qualquer pergunta ou comentário do jornalista recebe como resposta a análise ao jogo.

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