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Traições

por Sofia Loureiro dos Santos, em 11.04.21

socrates.jpg

Só agora começou

 

Atraiçoada é exactamente o sentimento que define o que, durante algum tempo, senti em relação a José Sócrates.

Fui eleitora de Sócrates para Primeiro-ministro nas duas eleições em que ganhou, primeiro em maioria absoluta e depois em relativa. Defendi as políticas de saúde e de educação dos seus governos, as opções estratégicas pelas energias renováveis, a aposta na literacia digital e nas tecnologias de informação. Ainda hoje defendo tudo isto.

Indignei-me com as manipulações políticas, as falsas acusações, as fugas de informação, a inacreditável forma como foi preso em directo. Tudo o que escrevi sobre o assunto, mantenho.

No entanto foram as suas palavras, as suas justificações, as suas alegações e as suas mentiras que me deixaram boquiaberta, que me deixaram indignada de novo, mas com a minha própria ingenuidade. Como me foi possível, a mim e a tantos outros, sermos tão redondamente enganados pela sua personalidade? É claro que fiz e faço um julgamento moral da sua pessoa, do seu carácter, e da sua falta de vergonha para afirmar que foi afirmando.

E por isso, se calhar como tantos outros, me senti atraiçoada naquilo que, para mim, era uma questão de honra, de probidade de quem nos governa. Não é preciso santidade nem virtudes robóticas e enganosas. Nunca confiaria em alguém sem mácula nem vício, porque as pessoas são uma mescla de tudo e tudo é necessário para se ser inteiro. Mas afirmar que se sente atraiçoado pelo partido parece-me uma tal forma de alheamento da realidade, de desconhecimento da sua própria pessoa, para não dizer de desfaçatez e falta de vergonha, que me custa a entender.

Não é fácil admitir perante nós próprios as nossas fraquezas e defeitos, as nossas ingenuidades e faltas de sagacidade. Mas não é possível fingir que as somas em dinheiro vivo trocadas entre Sócrates e o motorista, as justificações sempre diferentes da proveniência do dinheiro, primeiro da mãe, depois do amigo, o facto de guardar obras de arte em casa dos empregados, enfim, tantos e tão profusos disparates debitados ao longo destes anos que a ninguém convencem.

A Justiça tem o seu papel e ninguém deve ser condenado em praça pública. O que se passou e passa no caso do ex-Primeiro-ministro é um susto para qualquer cidadão. Mas não podemos fechar os olhos e os ouvidos ao que o próprio nos ofereceu e oferece. E não é bonito. Não são estas as características que desejo para alguém que nos represente e governe.

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publicado às 16:21


4 comentários

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De Anónimo a 11.04.2021 às 18:53

Mario Soares não o atraiçoou !
Visitou-o sete vezes durante o cativeiro de 9 meses!
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De Anónimo a 11.04.2021 às 20:57

Se ele tivesse um pingo de gratidão, já nem digo pingo de respeito, ao partido que o catapultou, jamais diria que este o atraiçoou.
Para qualquer estudante de filosofia, aqui também se aplica a sentença de Salomão: a importância da criança, a importância do partido.
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De Anónimo a 12.04.2021 às 19:23

Discordo da sua análise, cara SLS. Só os ingénuos não viram que a acusação a JS foi um libelo acusatório encapotado a toda a governação socialista. Na verdade, só os ingénuos acreditaram que seria possivel a um PM ser corrompido pelo que lhe foi imputado, sem ter envolvido outros membros do Governo e de outras estruturas da Administração. E sobre este detalhe, que é todo um programa, o PS...calou-se!

Quanto à gestão da vida privada de JS, dizendo a Sofia quais as suas fontes de apreciação, pois desculpará que lhe diga mas sabe tanto como eu: nada ! Por isso prefiro não comentar. Avaliações éticas? Talvez as faça na intimidade de uma cabine se voto, se se der o caso. E mais não digo.

Cordialmente.

MRocha
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De Anónimo a 14.04.2021 às 18:59

A Lei de Lynch e as fogueiras da Inquisição
O atual processo mediático, em que comentadores, pseudo jornalistas e pseudo moralistas arrastam o bojo pela lama tentando cada qual agradar mais à turba sedenta de sangue, depois de ser durante anos instrumentalizada, faz-me pensar que não gostaria de ver ninguém cair nas mâos daqueles que, em Portugal, verdadeiramente, estão acima da Lei.

Marcelo Lima

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