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Au Revoir Les Enfants

Adeus Rapazes

por Sofia Loureiro dos Santos, em 17.03.24

A propósito do livro Village of Secrets que aqui referi, vi anteontem um filme - Au Revoir Les Enfants, de Louis Malle, que apenas conhecia de nome. É um filme de 1987 que recebeu, em 1988, 7 prémios César: melhor filme, melhor realização, melhor cenário original ou adaptado, melhor fotografia, melhor decoração, melhor som e melhor montagem.

O filme é baseado numa história verídica vivida pelo próprio Louis Malle. De uma simplicidade espantosa, sóbrio, silencioso, comovente, mostra mais um exemplo de como as comunidades religiosas, desta vez uma cristã, contribuíram para esconder e salvar crianças e adultos judeus, na França ocupada e colaboracionista.

O mais interessante do filme é o facto de não haver bons nem maus. Todos os personagens têm cambiantes e, por isso mesmo, faz-nos pensar na nossa própria ética, nos nossos próprios valores e de como estes podem ser postos à prova e serem, por nós, esquecidos.

Todos somos humanos, mas há heróis de todos os dias, que não precisam de caixas de ressonância nem de espelhos de aumentar. Porque são, eles mesmos, uma versão melhorada das nossas inquietudes e preocupações.

Num dia de trabalho intenso, como todos, em que as actividades domésticas na minha ausência também foram exuberantes, um jantarzinho a dois, numa bela cervejaria, seguida de uma noite de cinema.

A felicidade das pequenas coisas.

À la Clair Fontaine

Schubert

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publicado às 15:50

Pequeno espelho da sociedade

por Sofia Loureiro dos Santos, em 25.02.24

A publicidade é um espelho da evolução da sociedade. Pode ser muito interessante e inspiradora, inócua ou, simplesmente, abjecta.

Na última categoria considero o anúncio aos Cheetos, que passa inúmeras vezes na TV, e que apela ao egoísmo, à falta de sentimento de inter-ajuda e generosidade. É mesmo revoltante. Não percebo bem o que a campanha quer, se calhar é só tonta e incompetente, mas mostra muita coisa indecente.

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publicado às 13:32

Village of Secrets

por Sofia Loureiro dos Santos, em 17.02.24

village of secrets.jpg

Muitas vezes me questiono sobre os valores morais, a decência, a mudança dos mesmos e das suas definições ao longo dos séculos, o que é aceitável em 1500, 1900, 1940 ou 2024, de como, no século XXI, tantos comportamentos assustadores e inimagináveis começam a reaparecer. Como foram possíveis, no último século, e como estão eles a renascer?

A relatividade com que, hoje, se fala dos direitos, liberdades e garantias, a falta de sobressalto quando se ouvem líderes políticos defenderem atitudes, comportamentos, leis, que há uns anos nos pareceriam dignos de gente louca, terrorista ou criminosa, mostra bem que somos os mesmos, a mesma massa humana, e que tantos séculos de evolução pouco mudaram a nossa mente.

Mas na verdade, as pulsões da intolerância, da xenofobia e do racismo mantêm-se, por vezes mais abertas por vezes mais escondidas. O que permitiu às sociedades ocidentais fenómenos ditatoriais e de escravização das minorias, dos diferentes, a forma como rapidamente o anti-semitismo cresce e se espalha, como gente comum se torna em gente mesquinha, medrosa, criminosa (a tal banalidade do mal), é aquilo a que vamos assistindo, ciclicamente, ao longo da História.

Porque os sentimentos humanos, a generosidade e a solidariedade, o respeito pelo outro, a empatia e a compaixão, a certeza de que há atitudes, pensamentos e valores que são certos e que devem ser defendidos a todo o custo, mostram-nos que somos amálgamas imperfeitas mas que há sempre aqueles que são justos, mesmo com risco da própria vida.

O livro Village of Secrets - Defying the Nazis in Vichy France, é a história de muitos heróis simples e discretos, gente que, mesmo com as dificuldades da ocupação, com a fome e o roubo a que permanentemente estavam sujeitos pelos ocupantes alemães, aqueles que se negaram a colaborar com a regime de Vichy, numa comuna francesa junto à fronteira com a Suíça (Le Chambon-sur-Lignon), fizeram das suas casa, quintas, hotéis, cafés, escolas, caves, dos seus amigos, conhecidos, familiares, um exército civil de resistência, de esconderijos e refúgio para judeus, criação de identidades falsas e arquivos de nomes verdadeiros de crianças, juntamente com impressões digitais, para que, na esperança de um fim mais feliz, fosse possível aos milhares de martirizados que ajudavam, recuperarem o mínimo da sua identidade familiar e cultural.

Não nos enganemos. Podemos ser os libertadores e os algozes. Aquilo a que vamos assistindo pelo mundo, à destruição da decência, a criação de verdades e de factos alternativos, o desatar dos nossos mais baixos instintos, auguram o regresso da escuridão. Felizmente há sempre alguma luz. Que não a percamos de vista.

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publicado às 16:13

Entrudos

por Sofia Loureiro dos Santos, em 13.02.24

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Entrudo - aldeias do xisto de Góis

 

É mesmo um Carnaval, ao que vamos assistindo.

Em vésperas de eleições, os bailes televisivos são feios, cacofónicos, inúteis, tristes, dispensáveis. Nem as máscaras são novas, nem bem feitas, nem vistosas. Apenas velhas, defeituosas e assustadoras.

Ouvem-se palavras e ideias, palavras sem ideias e ideias verdadeiramente inomináveis. Parece que, de repente, todos nos transformámos em gente grosseira, sem princípios nem valores, de uma estreiteza de vistas difíceis de compreender.

De tudo se faz tábua rasa - militares e paramilitares a fazer greve e filiados em partidos? Por que não? Ameaças de boicote às eleições? Qual o problema? Criminalizar os imigrantes sem autorização de residência? Os malandros que nos andam a tirar empregos e a islamizar?

As guerras na Ucrânia e israelo-palestiniana? Não têm interesse nenhum. O que é importante é o leilão das medidas, sem qualquer base estratégica, sem qualquer noção do que se quer, do rumo e do investimento (não só financeiro) que se entende melhor para o futuro.

Infelizmente, o Entrudo não acaba amanhã. Estaremos em corso sem paragem pelo menos até 10 de março. Em Portugal, nos EUA, na Europa. Mais tarde ou mais cedo, virá a Quaresma.

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publicado às 11:31

As previsões de há 6 anos

por Sofia Loureiro dos Santos, em 10.09.23

expresso 2017.jpg

Expresso, 12 de Dezembro de 2017

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publicado às 17:08

Da simplicidade

por Sofia Loureiro dos Santos, em 07.08.23

emily amalia.jpg

Parece tão simples e lógico. Ditas pelo Papa as palavras têm uma ressonância ligada à fé, aos preceitos dos que pertencem a uma comunidade religiosa.

Mas o que o Papa disse, de uma forma assertiva e, para a Igreja, revolucionária, é exactamente o fundamento do cristianismo e de todos os que olham para a vida e lhe vêm a essência, o que, de facto, importa.

Uma sociedade inclusiva, que olha e toma conta dos que mais necessitam, que não distingue a etnia, a cor, a religião, o estatuto, o poder, seja ele de que tipo for, uma sociedade que dá mais importância ao outro que a si próprio, que divide, que partilha, que é tolerante, que é livre.

Amar e ser amado, fazer alguma coisa por alguém.

Parece tão simples e lógico.

 

IF I CAN STOP ONE HEART FROM BREAKING

 

If I can stop one heart from breaking,

I shall not live in vain;

If I can ease one life the aching,

Or cool one pain,

Or help one fainting robin

Unto his nest again,

I shall not live in vain.

[Emily Dickinson]

 

AL CABO

 

Al cabo, son muy pocas las palabras

que de verdade nos duelen, y muy pocas

las que consiguen alegrar el alma.

Y son también muy pocas las personas

que mueven nuestro corazón, y menos

aún las que lo mueven mucho tiempo.

Al cabo, son poquísimas las cosas

que de verdad importan en la vida:

poder querer a alguien, que nos quieran

y no morir después que nuestros hijos.

[Amalia Bautista]

 

E é sempre tão difícil.

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publicado às 15:51

Do ensimesmamento

por Sofia Loureiro dos Santos, em 03.07.22

Não sei se é resultado da pandemia se é apenas do passar dos anos e do encolher do corpo, das ideias, do mundo à nossa volta, do ensimesmamento a que nos votamos, da cada vez maior incapacidade de cumprir o assumimos como dever, a verdade é que sinto um cada vez maior isolamento.

A todos os níveis – familiar e profissional – e com todas as gerações. Vamos trocando mensagens, alguns telefonemas ou vídeo conferências, mas a vontade de estar junto, os abraços que foram banidos do nosso quotidiano, a moralização da pandemia com a instalação da culpa, tudo contribui para que estejamos cada vez mais sós.

E por isso as raras ocasiões em que se quebra esse hábito, viciante e desolador, fica um gosto bom de aconchego e carinho, aquele sentimento que perdura quando estar com alguém é um bem muito importante.

E como acontece desde tempos imemoriais, as refeições são uma boa razão para o convívio, a troca de ideias, o riso, a partilha de histórias. Começa-se por uma sangria de champanhe com frutos secos, continua-se com uma sardinhada, um naco na pedra, uns lagartos grelhados, os diversos e profusos brindes com os obrigatórios copos a baterem uns nos outros, melodia inconfundível de um almoço entre amigos.

Vivemos tempos em que aquilo que é mais essencial ao Homem, a sua sociabilidade, a sua necessidade de amar e ser amado, o toque das mãos, o sorriso, o olhar, a expressão facial, é agora uma memória que teima em ser enterrada, em nome de uma assépsia e de uma incrível nova ordem da esterilização da pele, do ar, do mundo.

Para além das ameaças bem reais que nos cercam, fabricamos mais medo e terror para nos transformarmos em gente que não se atreve a amar e que já se esqueceu do que era pensar nos outros e não em si mesmo.

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publicado às 18:29

Realidade virtual

por Sofia Loureiro dos Santos, em 01.12.21

Não sei mesmo que sociedade estamos a construir.

O anúncio de Natal deste ano, da NOS, é bem exemplificativo de como incentivamos o desligar da realidade.

Nada serve, nada estimula, nada completa o desejo de uma criança (filha única, com pais a que não faltam recursos económicos, numa idílica casa no meio da neve) a não ser o que não há. Apenas com isso ela se satisfaz.

A perfeição do mundo está na nossa imaginação. Mas neste anúncio o mundo é um holograma do que não há.

Que mensagem é esta? Como a conseguimos incluir na retórica do Natal, para não dizer no espírito do mesmo?

Estranho. E assustador.

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publicado às 14:35

Que sejamos felizes

por Sofia Loureiro dos Santos, em 31.12.20

picnic.JPG

Picnic

Anna McNeil

 

Nem tudo foi mau.

Internacionalmente os sinais foram muito positivos – congregação de esforços na investigação científica, investimento maciço no desenvolvimento da vacina contra o SARS-CoV-2, equipamentos e recursos humanos nas áreas da saúde e da segurança social, uma União Europeia que aprendeu alguma coisa com os erros da crise anterior, a derrota de Trump.

Mas muita coisa foi péssima.

O vírus, a pandemia, a inacreditável invasão de falsidades, o enorme aumento da pseudociência, do autoritarismo, do medo irracional, da pobreza, das desigualdades, da caça às bruxas, dos sentimentos pidescos, da solidão, da tristeza e do desamparo.

Esperam-nos muitas dificuldades e, como sempre, a uns mais que a outros, nomeadamente aos mais frágeis e desfavorecidos, mas estou confiante que o próximo ano será melhor.

Temos que nos empenhar nas nossas vidas, individual e colectiva. Temos que nos amar, sem conta, peso ou medida. Isso é o que verdadeiramente importa. Em todas as esferas da nossa vida pessoal, no trabalho, nas responsabilidades que assumimos, nas escolhas que fazemos.

E isso significa saber o quanto para o outro significam todas as carências e abundâncias, todas as vitórias e derrotas, todos os lutos e renascimentos.

Que sejamos felizes, o mais que pudermos, fazendo felizes os outros.

Até ao próximo ano.

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publicado às 14:38

Quino

por Sofia Loureiro dos Santos, em 30.09.20

quino.jpg

Quino

 

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publicado às 23:18


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