Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
Qualquer semelhança ente a notícia da TSF e o comunicado do SIM é pura coincidência.
(...) A Federação Nacional dos Médicos e o Sindicato Independente dos Médicos convocaram uma greve para 8 e 9 de julho, uma decisão tomada após uma longa reunião realizada na sexta-feira. (...)
(...) Na base desta protesto está a proposta sobre a existência de um Código de Ética, que a Ordem dos Médicos rejeita tendo mesmo pedido ao ministro da Saúde para que recuasse nesta matéria. (...)
(...) Reunidos hoje durante 4 horas com o Sr. Ministro da Saúde, conjuntamente com a Ordem dos Médicos e a Federação Nacional dos Médicos (e após uma reunião prévias das três organizações médicas), foram apresentados conjuntamente pelas duas associações sindicais médicas os pontos abaixo discriminados, os quais mereceram do Sr. Ministro uma aparente receptividade e uma resposta genericamente pela positiva, (...)
(...) Relativamente á resolução anunciada na reunião pela Federação Nacional dos Médicos (FNAM) de decretar uma Greve Nacional dos Médicos, o SIM manifesta desde já e publicamente a sua compreensão pela opção, caso esta se confirme.
As várias organizações médicas possuem os seus órgãos dirigentes eleitos e dotados de natural autonomia de decisão conferida pelos respectivos estatutos. Nesse sentido, é natural que existam diferenças de avaliação das situações político-sindicais e de posicionamento perante os problemas concretos que afectam os médicos.
Cada organização médica é livre de tomar as posições que entender e de assumir, por essa via, as suas responsabilidades perante os médicos em geral e os seus associados em particular.
O Secretariado Nacional do SIM (reunião com o Ministério da Saúde - 06/06/2014)
Se o meu objectivo fosse ter muitos comentários aos posts que vou escrevendo, bastava fazer uma qualquer referência semanal que beliscasse a FENPROF, para que que as patrulhas dos camaradas me mimoseassem com os seus insultos. Assim tenho esse privilégio só de vez em quando.
Para que fique bem claro e explícito:
Os manifestantes contam-se às centenas de milhar, cem mil, duzentos mil, trezentos mil, começaram contra Mário Soares, Salgado Zenha, Cavaco Silva, Maria de Lurdes Rodrigues, Sócrates, continuam agora contra a Troika, Passos Coelho e Cavaco Silva. Jerónimo de Sousa rejubila com tantos milhares precisando até de recuar 32 anos, para abarcar a enchente.
Infelizmente é isso mesmo, estamos a recuar muitas décadas. Mas não só nos direitos adquiridos. Também no conveniente apagamento do que é uma democracia representativa, resultados eleitorais, no competente exaltar das forças trabalhadoras e da rua, a rua que o PCP, a CGTP e o BE tanto gostam de invocar para fazer cair governos democraticamente eleitos. Exactamente os mesmos partidos que em sede parlamentar tudo fizeram para derrotar o governo anterior, o tal mais à direita de sempre, como todos os governos de Portugal desde 25 de Novembro de 1975.
O sindicalismo velho e derrotado pelas circunstâncias, pela História e pel’Os Mercados continua, cego e surdo às avalanches da sociedade. Os trabalhadores já não usam calças com peitilho mas os sindicatos continuam a usar o mesmo espartilho. A consagração de Arménio Carlos foi apoteótica. E os próximos capítulos serão iguais aos que já passaram.
Nota: Vale a pena ler o Valupi.
Não farei greve.
Não porque não saiba da manipulação e dos embustes que conduziram esta maioria ao poder. Não porque não perceba o desmantelamento do estado como servidor público e garante dos direitos de todos os cidadãos, assente na dignidade intrínseca ao ser humano. Não porque confie nesta direita conservadora que varre a Europa, e que entende a vivência da crise como a volta ao passado, do Portugal pobre, isolado, pouco qualificado, cinzento e infeliz. Não porque defenda a teocracia d'Os Mercados, em que as instituições democráticas são substituídas por quem nunca se dispôs a enfrentar a escolha popular, por quem vilipendia a atividade política e a cola abusivamente à corrupção. Não porque aceite a precariedade no emprego, a falta de oportunidades, a desigualdade e a revoltante caridadezinha que percorre a ideia do estado caritativo, renovado por este governo.
Não farei greve.
Porque do que precisamos é de olhar em frente e trabalhar, muito, bem, com qualidade e eficiência, em todas as áreas em que pudermos, a aprender outras competências, a sermos mais exigentes e menos contemplativos, a premiarmos os melhores e a punirmos quem merece ser punido, a deixarmos as queixas, a engolirmos as lágrimas, a não termos medo.
Não farei greve.
Amanhã será mais um dia em que respeitarei quem a fará, em que questionarei a ausência de serviços mínimos, a ausência de contratos de trabalho para quem é produtivo, a ausência de despedimento, na função pública ou na privada, de quem não cumpre, a morosidade da justiça, o enorme desperdício de talentos, de recursos, o desinvestimento na escola pública, na saúde, na cultura, a redução salarial de alguns, a fuga ao fisco, a privatização de tudo a todo o custo, as queixas dos bancos, a prepotência de Angela Merkel. Amanhã respirarei a minha frustração mas trabalharei, o melhor que posso e sei, porque precisamos de trabalhar, nesta altura e em todas, mais que nunca. Amanhã direi, com o meu trabalho, que não me resigno a esta modorra triste, que não me revejo nesta oposição sem nexo nem alternativa, que me revolta este sindicalismo datado, sem perspetivas e sem soluções.
Não farei greve.
Amanhã trabalharei e dignificarei o meu trabalho, o trabalho de quem não o tem e o trabalho de quem entende que a melhor forma de protesto é fazer greve.
Saudações revolucionárias, solidárias e discordantes.
Até amanhã, camaradas.
É oficial: estou a ficar conservadora. As revoluções populares alicerçadas em ecos do vazio, por muito que tenham razões sociológicas e psicológicas para se desencadearem, não me seduzem. Principalmente porque essas revoluções só acontecem onde existe a tal democracia burguesa e ultrapassada, o tal regime, fruto da indignação dos indignados. Por isso tenho muita dificuldade em entender o júbilo de tantos comentadores, que aplaudem o fenómeno.
Não tenho nada contra manifestações, marchas, discursos e outras formas de protesto. Penso mesmo que são saudáveis pois permitem a expressão de convicções e frustrações, um escape para, de forma pacífica e, por vezes, muito criativa, transformar a intrínseca violência em grito de paz. O que não posso aplaudir são aqueles que pretendem que estas manifestações e estas palavras de ordem são o verdadeiro veredicto popular às políticas do governo, são a verdadeira e real democracia. Não me sinto bem a ouvir pedir outro 25 de Abril, arrepio-me quando os discursos populares pedem (…) Corram com estes políticos daqui para fora! O país está a saque ou questionam o que faz o Presidente da República? (…) Ele que custa milhões de euros ao país por ano? Porquê tantos deputados? (…) Assusto-me quando vejo manifestantes a ocuparem a Assembleia da República e a vandalizarem os símbolos da democracia.
É precisamente por sermos uma democracia verdadeira que todos estes corajosos oradores, que vilipendiam e insultam os detentores do poder político democraticamente eleito, se podem manifestar. Não podemos confundir a voz do protesto e da indignação com o poder da rua e na rua, com a insuflação dos sentimentos antidemocráticos e justicialistas, que só podem conduzir ao avolumar das condições que geram ditaduras. É claro que tudo tem razões e significado. Não é em vão que os partidos políticos não têm sabido renovar-se, não é sem consequências que os nossos representantes usam o populismo demagógico, é para todos óbvio que o movimento sindical é totalmente irrelevante.
A CGTP, cujo secretário-geral Carvalho da Silva, cargo que exerce desde 1999, e que se sucedeu a si próprio (exercia o cargo de coordenador da CGTP desde 1986), é controlada há 25 anos pela mesma pessoa. Esta central sindical preocupou-se, durante as últimas décadas, em fazer prevalecer os direitos adquiridos de quem tem emprego garantido, sem nunca se adaptar aos novos desafios que se colocavam ao mundo do trabalho, resultantes de todas as mudanças sociais, políticas e económicas que se verificaram a nível global.
A UGT, cujo secretário-geral João Proença (não consegui perceber há quantos anos exerce o cargo mas, seguramente há cerca de 20 anos), tem servido apenas para ser o contraponto político da CGTP, predominantemente à esquerda, e a muleta do poder do bloco central, disponibilizando-se para assinar acordos que a CGTP se indisponibiliza a aceitar.
Os sindicatos, particularmente os dos funcionários públicos, nunca se preocuparam com as alterações da legislação laboral no que diz respeito à adaptação e flexibilização dos horários, à revisão das razões justificativas de justa causa para os despedimentos, à verdadeira avaliação de desempenho, à diferenciação positiva pelo mérito, pelo empenho, pela competência, pela motivação em aprender. Nunca quiseram liderar a mudança, tendo-se entrincheirado atrás de um tempo que acabou, anquilosadas e totalmente irrelevantes para os problemas que o novo desenho social coloca.
Numa altura em que os trabalhadores estão esvaziados de qualquer poder reivindicativo, em que a justificação do a bem da nação serve para alterar horários de trabalho e remunerações, para extinguir de postos de trabalho, para deixar de contribuir para a segurança social, para reduzir as condições de segurança, os sindicatos estão limitados à retórica de alguns líderes partidários, sem força, imaginação ou capacidade de mobilização para uma verdadeira reforma no sector laboral.
A crise económica, social e política deve indignar os democratas, aqueles que ainda defendem o poder do voto, a representatividade, a troca de opiniões e o escrutínio eleitoral, e alertar todos os actores para a urgência da mudança. Sob pena de criarmos uma sociedade em que já não haverá espaço livre para a mais que justa indignação.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.