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Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
30.
Empapamos de suor
Os lençóis da juventude
Com a fé e o ardor
Dos profetas da virtude
Entrelaçamos de dor
Os dias de vastidão
Enterramos o bolor
Que cresce na solidão
Aprendemos o caminho
Nas noites de agonia
Senhor mostra-me o carinho
Com que derretes o dia
Maria Sofia Magalhães
Prosas Bíblicas
Pág. 42
11.
Vou plantando incertezas
Entre caminhos escuros
Arrancando asperezas
Construindo alguns muros
Solto os cães dentro de mim
Que guardam o vento leste
Mastigam num frenesim
A marca que me fizeste
O tempo já corroeu
A divina tatuagem
Senhor agora sou eu
A refazer a viagem
Maria Sofia Magalhães
Prosas Bíblicas
pág. 23
Cenas da vida de Cristo – Entrada em Jerusalém
14.
Falareis da rosa como se soubésseis de espinhos
Cuidareis dos filhos para que morram sozinhos
Carregareis as pedras com que fareis os caminhos
Servireis a fome que alimentais de carinhos
Mas a cova que vos espera será de lama
Mas o templo que vos tenta será de vento
Mas o tempo que vos gasta será a chama
Que do espaço vos devora sem um lamento
Maria Sofia Magalhães
Prosas Bíblicas – Livro 3
Pág. 74
6.
Somareis os vossos braços ao trabalho e às canseiras
Correreis como as formigas pelos matos e carreiras
Calçareis botas de chumbo para ateardes fogueiras
Dormireis amarfanhados nas covas das toupeiras
Ficareis no sopé dos montes por escalar
Náufragos retidos nas algas do mar
Secareis de esperança por braçadas de ar
Desistindo da morte que vos há de tentar
in Prosas Bíblicas, Livro 3 (pág.66)
(quem estiver interessado pode enviar pedido através de
sofia.l.santos@sapo.pt)
5.
Gastei os caminhos com os meus passos
soprei as areias de todos os desertos
consumi os olhos com que velei pelas noites
em busca do meu amor ausente.
Talvez um dia no rasto dos meus pés
no eco da minha voz na centelha do meu olhar
se acendam faróis que o guiem ao meu altar.
in Prosas Bíblicas, Livro 2 (pág.51)
(quem estiver interessado pode enviar pedido através de
sofia.l.santos@sapo.pt)
6.
Na vida que me insuflaste
Faltam-me os dedos da mão
Parelha que não sonhaste
Olhos da minha paixão
Falta-me Senhor alento
Suspiro de solidão
Falta-me amor e sustento
Para a minha dimensão
Já hoje é o sexto dia
Olho a terra em redor
No sono que me asfixia
Abre-me o corpo sem dor
Da minha massa fecunda
Farás a minha metade
Serei aquela que funda
O ventre da humanidade
in Prosas Bíblicas, Livro 1 (pág.18)
(quem estiver interessado pode enviar pedido através de
Uma hipótese de prenda para o Natal:
27.
O meu irmão me criou
Com paus com pedras com cinto
Por sete mães me deixou
Por entre noites de absinto
O meu irmão me vendeu
Por dinheiro e por carinho
Por sete mares me perdeu
Morrendo devagarinho
O meu irmão me fechou
Para abafar o lamento
Por sete caves calou
A fome do meu tormento
O meu irmão definhou
Sem descanso nem perdão
Por sete infernos passou
Sem quebrar a maldição
in Prosas Biblicas - Livro 1
(pág. 39)
23.
Pus-me ao sol a depurar
Em busca da tua essência
Sentimentos a crestar
Em rios de decadência
Passam noites passam dias
O tempo corre e dilata
Corpos sofrem agonias
As almas viram sucata
Sacudi estrelas e pó
Resíduo do que ficou
Na verdade estou só
Nada de novo mudou
in Prosas Bíblicas, Livro 1 (pág. 35)
na Ler Devagar
10.
Bebi a água sagrada
Junto à fonte da verdade
A minha face banhada
Êxtase de santidade
Subi ao trono bem alto
Degraus firmeza rigor
A vida sem sobressalto
A alma sempre em fulgor
Pensei que me era devido
O ouro o mel e o pão
O paraíso perdido
Na palma da minha mão
Caí do meu pedestal
Estilhacei os espelhos
Condenada afinal
A caminhar de joelhos
in Prosas Bíblicas, Livro 1 (pág.22)
na Ler Devagar
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