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If I can stop one heart from breaking,/ I shall not live in vain;/ If I can ease one life the aching,/ Or cool one pain,/ Or help one fainting robin/ Unto his nest again,/ I shall not live in vain. [Emily Dickinson]
Há muitos anos atrás, cheguei cedo a uma sala de Teatro. Estava já um senhor sentado na plateia. Gosto de ser público, muito. Resolvi ir sentar-me ao seu lado. Era este SENHOR. Cumprimentámo-nos e conversámos sobre o Teatro e a vida, de tudo e de nada e voltámos a falar no final da peça do que tínhamos visto e sentido e refletido.
Passado uns meses, volto ao mesmo Teatro e na plateia estava o mesmo senhor, e a situação repetiu-se. Rimo-nos da coincidência e voltámos a falar de tudo e de nada, e do Teatro e da Vida.
Ele foi o meu Presidente da Câmara de Lisboa e o meu Presidente da República que muito amo e respeito e tive o privilégio de ir com ele duas vezes ao Teatro, que é a vida que adoro e escolhi.
Acreditem ou não sempre que vou sozinha ao Teatro, penso neste SENHOR que em dois domingos à tarde, foi o meu amigo das mesmas plateias.
Cerimónias fúnebres de Jorge Sampaio (09:46)
Uma pequenina luz bruxuleante
não na distância brilhando no extremo da estrada
aqui no meio de nós e a multidão em volta
une toute petite lumière
just a little light
una picolla… em todas as línguas do mundo
uma pequena luz bruxuleante
brilhando incerta mas brilhando
aqui no meio de nós
entre o bafo quente da multidão
a ventania dos cerros e a brisa dos mares
e o sopro azedo dos que a não vêem
só a adivinham e raivosamente assopram.
Uma pequena luz
que vacila exacta
que bruxuleia firme
que não ilumina apenas brilha.
Chamaram-lhe voz ouviram-na e é muda.
Muda como a exactidão como a firmeza
como a justiça.
Brilhando indefectível.
Silenciosa não crepita
não consome não custa dinheiro.
Não é ela que custa dinheiro.
Não aquece também os que de frio se juntam.
Não ilumina também os rostos que se curvam.
Apenas brilha bruxuleia ondeia
indefectível próxima dourada.
Tudo é incerto ou falso ou violento: brilha.
Tudo é terror vaidade orgulho teimosia: brilha.
Tudo é pensamento realidade sensação saber: brilha.
Tudo é treva ou claridade contra a mesma treva: brilha.
Desde sempre ou desde nunca para sempre ou não:
brilha.
Uma pequenina luz bruxuleante e muda
como a exactidão como a firmeza
como a justiça.
Apenas como elas.
Mas brilha.
Não na distância. Aqui
no meio de nós.
Brilha
Jorge de Sena
Silenciosa e dignamente, Jorge Sampaio, um homem sério, honesto, com princípios, com coragem, o nosso Presidente que não tinha vergonha das suas ideias nem das suas emoções, que acertou e errou, como todas as pessoas que o são por inteiro, morreu hoje.
Vão morrendo aqueles a quem tanto devemos a consolidação da liberdade e da democracia.
É difícil acabar este ano sem nos virem à boca todas as palavras azedas e desesperançadas que conhecemos, para expurgar pensamentos e vinagres interiores.
Para não falar do SRAS-CoV-2 e da pandemia, de confinamentos e emergências, de manipulações, histeria e ratos, a minha tristeza e perplexidade olham para o que se tem passado no SEF perante a nossa indiferença e alheamento.
Depois de nos termos apercebido de que um cidadão ucraniano tinha sido morto à pancada em Portugal, na porta de entrada para o que ele esperava ser uma hipótese de vida futura, às mãos do Estado português, perante a cumplicidade e inactividade de todos, com raras e honrosas excepções para muito poucos jornalistas que mantinham a denúncia, vemo-nos confrontados com a incúria e a inépcia política da gestão deste gravíssimo caso, que põe em causa tudo o que propagandeámos de país amigo, tolerante e acolhedor.
O Ministro não actuou de imediato, demitindo a Presidente do SEF, visto que ela própria não o fez. Não só não actuou de imediato como meses depois assumiu a sua inquestionável gestão do caso, divulgando a sua conclusão de que aquele assassinato era caso único e que não manchava o SEF. De tal forma que só depois de mais denúncias, o crédulo Ministro decidiu alargar o âmbito da investigação, como se nada fizesse crer que tudo o que ali se passa deve ser digno de um filme negro de máfias e conluio entre gente inqualificável, que devia estar atrás das grades.
Não só o Ministro mas também o Presidente dos afectos não tiveram a decência de publicamente e em nome do País se desculparem perante tal horror, fazendo o que pudessem para tentar minimizar a dor da família e a nossa vergonha colectiva.
É muito, muito mau. António Costa já devia ter demitido o Ministro, visto que ele não o faz. Mas, mais uma vez, não consegue gerir estas situações, deixando-as apodrecer arrastando todo o governo e a si próprio em marinada lenta de descrédito e estupefacção.
É muito triste, muito mau, muito grave. Só de imaginar o que aquele homem e muitos outros, homens e mulheres, sofreu, sofrem e sofrerão naquele pedaço de Portugal, devia obrigar-nos a todos a olhar para as nossas prioridades.
No fim deste ano de 2020, que parece nem ter existido mas que varreu o mundo destruindo muitos dos alicerces da vida em sociedade, esta é uma péssima amostra do que se passa nalguns cantos que teimamos em não ver.
"(....) Mas a triste sorte de Ihor Homeniuk não mereceu até agora nem a indignação geral nem sequer o interesse específico da Provedora de Justiça, que tanto tem denunciado as condições inaceitáveis dos CIT, aos quais chamou "terras de ninguém" e espaços de "não direito". Não mereceu a exigência de que o SEF seja mudado de cima a baixo - ou extinto. Não mereceu praticamente nada a não ser a obsessão de poucos jornalistas, entre os quais me incluo.
E no entanto pouco houve nos últimos anos que merecesse mais o nosso clamor. Porque se é isto uma polícia portuguesa do século XXI, se é assim que tratamos pessoas completamente desprotegidas, que país somos? Se não chega a diretora do SEF assumir que um homem foi torturado sob a sua guarda, a do Estado português - a nossa - para que lhe indemnizem a família, que falta? Que nos falta?"
É uma vergonha colectiva. Com raras excepções, como a de Fernanda Câncio (21/11/2020), calamos um inqualificável e gravíssimo atropelo a tudo o que tem a ver com leis, Direitos Humanos, decência.
Nem Cristina Gatões, nem Eduardo Cabrita, nem António Costa, em Marcelo Rebelo de Sousa, nem nós, cidadãos, que tantas indignações diárias temos por ninharias e tanto nos calamos por aquilo que de facto importa.
Marcelo Rebelo de Sousa, fala, fala e fala demais, dizendo o que não devia, metendo-se onde não deve meter-se. A DGS não tem que ser politizada e Marcelo sabe muito bem disso, ou deveria saber.
Por outro lado, se a DGS não tinha que divulgar as orientações em relação à festa do Avante (e, de facto, quem deveria divulgá-las seria o próprio PCP), o governo não tinha que a desautorizar, correndo atrás de Marcelo e de Rui Rio. O populismo a ser o norte e o sul da política portuguesa.
Tanta trapalhada!
Começo a pensar que é mesmo importante que Ana Gomes avance para a Presidência.
Mensagem do Presidente da República ao País sobre a declaração do estado de emergência
Marcelo Rebelo de Sousa quis retomar a iniciativa política após a sua auto infligida quarentena um bocado extemporânea, que muitos louvaram e outros criticaram por não se justificar nas circunstâncias em que ocorreu.
Nesse sentido, e sempre com o Expresso como porta-voz oficioso, lançou-se imediatamente a imensa e irreversível emergência de decretar o estado da dita, dando ressonância à resistência do Primeiro-ministro.
Após o Conselho de Estado, e depois da amplificação da vontade do Presidente da República em decretar o Estado de Emergência, a decisão tornou-se irreversível até pelo alarme social a que se assistia. A atitude de António Costa só podia ser a de apoiar o Presidente, tal como aconteceu com o Parlamento, numa demonstração de grande responsabilidade institucional e de coesão entre os vários órgãos de soberania e poder.
Marcelo assumiu a responsabilidade e assumiu o protagonismo, essencial em tempo da crise já instalada e da que há-de vir, até porque as eleições presidenciais aí estão.
A convocatória a Mário Centeno para ir a Belém, com o Expresso a propagandear que Marcelo queria garantir que Centeno não abandonava o barco, imediatamente seguida pela insinuação de que teria sido a reunião com o Presidente a convencer Centeno a ficar e a assumir a sua responsabilidade, são exemplos gritantes de notícias plantadas. No mínimo essa insinuação é ofensiva. Nunca Mário Centeno assumiu que ia abandonar o governo e seria um suicídio político se o fizesse numa altura destas.
A confiança nos nossos governantes é essencial para que possamos atravessar esta grave situação. É indispensável que o escrutínio continue, através dos órgãos próprios e do jornalismo, ele próprio um órgão de controlo dos poderes quando não se transforma numa correia de transmissão de um qualquer projecto político, com é o caso.
Não quero ser mal interpretada. Como já aqui referi considero que no meio de tanta desgraça temos a felicidade de contar com um Presidente, um Governo e um Parlamento, com especial destaque para Rui Rio que tem tido uma postura de grande responsabilidade. Por isso me custam estas manobras, que me parecem dispensáveis.
Ou se calhar não. Pelo menos há um arremedo de que a vida continua.
E tem mesmo de continuar.
Presidente da República nomeia Procuradora-Geral da República
O Presidente da República, sob proposta do Governo, decidiu nomear Procuradora-Geral da República a Senhora Procuradora-Geral Adjunta, Dra. Lucília Gago, com efeitos a partir de 12 de outubro de 2018.
Fê-lo por duas razões determinantes:
1.ª - Sempre defendeu a limitação de mandatos, em homenagem à vitalidade da Democracia, à afirmação da credibilidade das Instituições e à renovação de pessoas e estilos, ao serviço dos mesmos valores e princípios.
2.ª - Considera que a Senhora Dra. Lucília Gago garante, pela sua pertença ao Ministério Público, pela sua carreira e pela sua atual integração na Procuradoria-Geral da República - isto é, no centro da magistratura - a continuidade da linha de salvaguarda do Estado de Direito Democrático, do combate à corrupção e da defesa da Justiça igual para todos, sem condescendências ou favoritismos para com ninguém, tão dedicada e inteligentemente prosseguida pela Senhora Dra. Joana Marques Vidal.
O protocolo permitia apenas um escasso número de pessoas a acompanhar cada agraciado. Atentamente e com os murmurinhos das antecipações cerimoniais, fez-se silêncio à entrada do Presidente da República.
Marcelo Rebelo de Sousa foi conciso, agradecendo em nome de Portugal (da Pátria, palavra em desuso e mal amada, mas razão de ser de qualquer militar) aos nove agraciados que deram de si o melhor pelo País.
O nome foi chamado alta e claramente, pronunciado de forma a percebermos todas as sílabas. O meu pai deu dois passos em frente e recebeu, das mãos do Presidente, a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada, colocada com cuidado, respeito e carinho. As fotografias da praxe. E ele, com um aprumo que faz parte da sua essência, da sua mais funda memória de militar, perfilou-se.
Tão pouco que somos. E tanto que alguns de nós são. Aquela figura frágil, quase etérea, perfilada e orgulhosa, segura pelo núcleo da sua vida, de frente para o destino.
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