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Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
(desenhos do Observador)
Por isso estes debates assumiram a importância que estão a ter. Penso que os pequenos partidos não ganharão muitos votos, nomeadamente o PAN, a IL e o Livre, mas podem fortificar os seus eleitores e tentar evitar o voto útil.
O BE e a CDU estão têm tido a dificuldade óbvia de justificar o injustificável, que foi o chumbo do OE e a consequente crise política, sem a qual não estaríamos à beira de eleições legislativas. Os discursos são sempre os mesmos, mais teatral o BE, mais artesanal a CDU.
Serviram também para irem desmontando o acervo de mentiras, insultos, xenofobia, sexismo e racismo da parte do Chega, cuja prestação se está a transformar naquilo que, de facto, é - um saco cheio de coisa nenhuma.
Mas o debate foi aquele entre António Costa e Rui Rio, como o provaram as audiências. Nele ouviram-se dois possíveis Primeiro-ministros que, com seriedade e elevação defrontaram duas formas diferentes de pensar o País. Talvez não radicalmente diferentes, mas diferentes.
É claro que em momentos distintos estiveram menos bem, mas nada que fizesse perigar o resultado - os eleitores têm uma escolha entre o centro-direita e o centro-esquerda. Penso que a bipolarização foi a grande conclusão: ou António Costa, ou Rui Rio.
Falta saber se conseguiram esclarecer a enorme horda de indecisos e abstencionistas existente. Isso só dia 30 de Janeiro saberemos.
O que se está a passar nos EUA é espantoso e assustador.
Assistir à violência policial, ao racismo entranhado na sociedade, e em especial nas forças policiais, aos cíclicos e repetidos episódios de abuso da força, de homicídio de cidadãos por aqueles que têm por primeira e última missão defendê-los é, infelizmente, um hábito. Mas ter na presidência daquele país um agitador louco, extremista, frenético, estúpido, vaidoso, narcisista, incompetente, e sei lá que mais, é aterrador.
Ouvir em directo o Presidente dos EUA dizer que vai encher as ruas e as cidades de polícia e tropa para esmagar os protestos de cidadãos, queiram ou não os governadores de cada Estado, ouvir o Presidente dos EUA incentivar os cidadãos a usarem armas uns contra os outros, ouvir o Presidente dos EUA ameaçar os seus próprios cidadãos, ouvir os jornalistas, governadores e responsáveis religiosos a desautorizarem e desrespeitarem o seu Presidente, é testemunhar aquilo que nunca julguei possível – o desfazer da democracia americana.
O que se segue a esta escalada? Como será possível manter esta situação até às eleições de Novembro?
Hoje estranhamos o que se passou na Europa, com o alastrar das ditaduras e o romper da II Guerra Mundial. Mas de facto tudo pode acontecer, mesmo naquele país em que pensávamos que as Instituições conseguiriam controlar os mais estranhos desvarios.
Ter uma criatura como Trump na Casa Branca é a prova de que tudo se pode desmoronar perante os nossos civilizados olhos. E a incerteza perante a hipótese de ele continuar, para lá de Novembro, é ainda mais indicativo dos perigos que enfrentamos. Os EUA estão a toransformar-se não só numa inutilidade, mas numa perigosa aberração que muito contribui para o desequilíbrio do mundo.
Expresso - 24 de Agosto de 2019
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