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Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
Salazar vomitando a Pátria – não se percebe bem o que é Salazar, o vómito ou a Pátria. Se calhar é esse mesmo o objectivo: não distinguir umas coisas das outras porque Salazar, a Pátria e o vómito, deviam ser sinónimos para Paula Rego.
Salazar vomiting the Homeland – 1960
De um abstraccionismo estranho e aterrador, de um exílio de muitos olhos e muitas línguas, passa para uma pintura figurativa exímia, com proporções grotescas, intencionalmente absurdas, em que as mulheres são másculas, com braços curtos, cabeças e mãos enormes, expressões fechadas e, por vezes, quase demenciadas.
The maids – 1987
As pinturas de Paula Rego vivem das histórias infantis, em que os personagens reais se transformam e adquirem animalescas figuras, animalescas atitudes e visões. Os adultos com a crueldade desses contos, com a ingenuidade simples e concreta das crianças. Em muitos quadros há várias cenas de uma peça que está a ser visionada, normalmente em planos diferentes, com dimensões diminutas ou cores esbatidas, escondidas em brinquedos ou peças de mobiliário.
Em raros quadros se nota alguma felicidade, com no quadro da dança ou no quadro da fuga para o Egipto. Neste último a figura masculina é preponderante e acolhedora, a feminina carinhosa, sem toque.
Os quadros que retratam as bailarinas são chocantes, pois as figuras a que estamos habituados a associar leveza e beleza, aparecem curtas, grossas, pesadas, desfeadas, em vestidos de cores fortes e escuras, tudo bizarro e violento.
War – 2003
Os últimos quadros retratam a velhice nas suas facetas mais cinzentas, ridículas, dependências e decadências de corpos, amarguras e solidões de almas.
O repouso na fuga para o Egipto – 1998
Interessantíssimos os estudos para os quadros, onde se percebem várias hipóteses antes da decisão, elas próprias séries espantosas, como as da dança, em que há alguns desenhos de corpos em dança satânica, tal como um quadro a preto e branco de diabos e outro sobre as bruxas e os seus bruxedos.
Dancing Ostriches from Disney’s Fantasia - 1995
Não sei como Paula Rego convive com ela própria, mas a quem olha o que ela pinta, o estômago, os nervos e a cabeça revolvem-se e transtornam.
É uma pintura visceral, e que provoca reacções viscerais. É espantosa.
Scavengers – 1994
Vamos descobrindo talentos novos e novas habilidades. Os anos que se somam também servem para remodelar ou redescobrir o mundo que somos.
Joaninha Costa Rosa vai expor os seus trabalhos na galeria do Auto Clube Médico Português, em Lisboa, a partir de 28 de Fevereiro. Tem uma pintura cheia de bonecos e animalejos, povoada de referências da sua vivência profissional, mas que se enrolam e misturam com os mundos da infância, com o rigor e a crueldade da inocência. Não sou entendida em pintura, mas posso dizer que gosto do que faz.
Resta dizer, em jeito de declaração de interesses, que a Joaninha é uma amiga, querida amiga e colega, de tantos anos e tantos mundos.
07 de Setembro
18:30
Sociedade Nacional de Belas Artes
Rua Barata Salgueiro, 36
1250-044
Lisboa
Centro Cultural de Belém
Bordalo II transforma pedaços de lixo em arte. Podemos ver as suas obras nas ruas, como no Centro Cultural de Belém, por exemplo, mas não só.
A primeira grande exposição - Attero by Bordalo II - estará patente na Rua de Xabregas, 49, em Lisboa, a partir de hoje. Não percam.
Há dias assisti, na RTP play, ao filme Paula Rego: Secrets and Stories, de Nick Willing, seu filho. Vale a pena conhecer um pouco desta pintora, verdadeira artista cujo único objectivo na vida era pintar, que para ela era a própria vida. Na verdade só na pintura era capaz de reconhecer e expulsar os seus demónios, os seus medos, as suas esperanças e alegrias.
Através da pintura falava de si, consigo e com os outros, interpretando o seu sentimento para com os mais diversos assuntos, desde a violência da ditadura à violência do aborto. Com a pintura vivia as relações e as depressões, os problemas e as frustrações, reservada, tímida, introvertida, e um rio de personagens e cor nas telas. O seu estúdio é um manancial de figuras que faz e depois explora na pintura.
O relacionamento com o marido, o pintor Victor Willing, seu companheiro, orientador, inspirador e crítico da sua arte, modelou também tudo o que fez depois da sua morte. É comovente a sua carta de despedida que lhe endereçou e que ela conserva sempre consigo.
É também muito interessante perceber o relacionamento com aqueles que divulgaram a sua obra, uma vezes enganando-a, quando ela diz que todos lhe falavam dos preços elevadíssimos das suas obras de que ela não se apercebia, pois o que lhe davam era muito pouco, outras vezes dando-lhe a possibilidade de sobreviver, como a bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian.
Extraordinária e sentida homenagem que lhe faz o filho. E que luxo podermos partilhar as suas histórias.
Graça Morais
La violence et la grâce
31 Maio - 27 Agosto de 2017
Fundação Calouste Gulbenkian - Delegação em França
Deitam-se os pássaros de solidão
asas e penas na imensidão
de um mundo que não voa.
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