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Domingo de Páscoa

Prosas Bíblicas - Livro 1

por Sofia Loureiro dos Santos, em 31.03.24

prosas biblicas 1.jpg

 

30.

 

Empapamos de suor

Os lençóis da juventude

Com a fé e o ardor

Dos profetas da virtude

 

Entrelaçamos de dor

Os dias de vastidão

Enterramos o bolor

Que cresce na solidão

 

Aprendemos o caminho

Nas noites de agonia

Senhor mostra-me o carinho

Com que derretes o dia

 

Maria Sofia Magalhães

Prosas Bíblicas

Pág. 42

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publicado às 12:13

Stabat Mater dolorosa

por Sofia Loureiro dos Santos, em 30.03.24

Philippe Jaroussky & Julia Lezhneva

Stabat Mater dolorosa - Pergolesi

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publicado às 11:40

Sábado de Aleluia

Prosas Bíblicas - Livro 1

por Sofia Loureiro dos Santos, em 30.03.24

prosas biblicas 1.jpg

11.

 

Vou plantando incertezas

Entre caminhos escuros

Arrancando asperezas

Construindo alguns muros

 

Solto os cães dentro de mim

Que guardam o vento leste

Mastigam num frenesim

A marca que me fizeste

 

O tempo já corroeu

A divina tatuagem

Senhor agora sou eu

A refazer a viagem

Maria Sofia Magalhães

Prosas Bíblicas

pág. 23

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publicado às 11:14

Domingo de Ramos

Prosas Bíblicas - Livro 3

por Sofia Loureiro dos Santos, em 24.03.24

Giotto_domingoramos.jpg

Giotto di Bondone

Cenas da vida de Cristo – Entrada em Jerusalém

Cappella degli Scrovegni

 

14.

 

Falareis da rosa como se soubésseis de espinhos

Cuidareis dos filhos para que morram sozinhos

Carregareis as pedras com que fareis os caminhos

Servireis a fome que alimentais de carinhos

 

Mas a cova que vos espera será de lama

Mas o templo que vos tenta será de vento

Mas o tempo que vos gasta será a chama

Que do espaço vos devora sem um lamento

 

Maria Sofia Magalhães

Prosas Bíblicas – Livro 3

Pág. 74

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publicado às 17:18

Cordeiro

por Sofia Loureiro dos Santos, em 06.04.23

 

sheep-lambs-mosaic.jpg

Mosaico

Museu Glencairn

 

Nesta roda mal rodada

Que com penas nos depena

Pelo tempo depenada

Com suspiros mas sem pena

 

Hora agora que rezamos

Aos fiéis de pacotilha

As mãos postas que mostramos

Santa cruz na gargantilha

 

Não nos chegam os pregões

Nem os joelhos no chão

Amealham-se os sermões

p'ra futura redenção

 

Toca o sino e o badalo

Pasta o cordeiro de leite

Dorme o burro e canta o galo

Não há deus que se respeite

 

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publicado às 15:47

Páscoa

por Sofia Loureiro dos Santos, em 13.04.22

Lamentación_sobre_Cristo_muerto,_por_Andrea_Mante

Andrea Mantegna

Cristo morto

 

Cristo vai morrendo serena

e diariamente sem remédio nem retorno

dos pecados que o mundo lhe oferece

na eternidade da paixão que ressuscita.

Entre pedras tumulares e gritos de espanto

Cristo morre e levita

sem sentido nem perdão

atraiçoado pela fé que em si e em nós

deposita.

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publicado às 16:50

Páscoa

por Sofia Loureiro dos Santos, em 04.04.21

ultima ceia.jpg

Última Ceia

Isabel Catarrilha Pires

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publicado às 15:16

Trava-línguas pascal

por Sofia Loureiro dos Santos, em 02.04.21

pascoa 2021.jpg

 

Um dois três

quatro cinco seis

vamos ter festa

e não é de Reis.

Sete oito nove

dez onze doze

amêndoas não tenho

que ninguém as trouxe.

Treze catorze quinze

dezasseis dezassete dezoito

mas em vez delas

comprei um biscoito.

 

Dezanove vinte vinte e um

foge cabritinho

que já estás gordinho.

Vinte e dois vinte e três vinte e quatro

vamos embora

que está na hora.

 

Já se faz tarde

nesta vidinha

o que vai dar

não se adivinha.

Besunta a forma

espreme o limão

à nossa retoma

de escravidão.

Sopra no forno

limpa a colher

que não há retorno

vamo-nos benzer.

Cristo confina

confino também

a alma definha

e fica refém

do corpo dobrado

que não se sustém.

 

Recolhe a esmola

que sem vintém

ninguém se consola

e esta revolta

já não se detém.

 

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publicado às 13:54

Das festas que escolhemos

por Sofia Loureiro dos Santos, em 12.04.20

mousse chocolate.jpg

 

Não tenho feito pão, nem bolos, nem compotas, nem licores, nem nada que se coma, para além do que já fazia antes do confinamento obrigatório – umas saladinhas, uns ovinhos cozidos, enfim, deixo a comida para o expert cá de casa.

Mas ontem resolvi recuperar um pouco da minha veia artística e inventiva e resolvi fazer uma mousse de chocolate, já várias vezes tentada e muitas sem grandes resultados.

Portanto comprei uma tablete de 200 g de chocolate negro com 70% de cacau, parti-o em pedaços para dentro de um tacho, juntei 150 g de açúcar, um bocado de leite do dia gordo (não medi, mas foram cerca de 100 a 150 ml) e, grande acrescento que aprendi por essa internet fora, uma colher de sopa de azeite. Sim, leram bem: uma colher de sopa de um bom azeite. Liguei o fogão baixinho, para o chocolate derreter e não queimar.

Entretanto tinha deixado 6 ovos fora do frigorífico para ficarem à temperatura ambiente – li algures que isso fazia tooooooooda a diferença. Separei as gemas das claras e mexi muito bem as gemas, com uma colher de pau, de forma a que se transformassem num creme amarelado e homogéneo.

Depois do chocolate ficar em papa com o açúcar, o leite e o azeite, tudo muito bem mexido, retirei do lume, deitei lá para dentro um bom golo de licor caseiro de poejo e, devagarinho e mexendo sempre com grande vigor (todas as minhas receitas necessitam e evidenciam enorme vigor), fui juntando o creme das gemas para se irem incorporando na papa de chocolate.

A seguir, sempre com o pensamento estratégico na finalização da dita mousse, que requer mais planeamento que o isolamento viral, bati as claras em castelo bem firme (o castelo, claro) com uma pitada de sal, outro dos grandes segredos mal guardados da culinária ancestral. Mal o castelo se manteve de cabeça para baixo sem sofrer a acção da gravidade, comecei a misturar levemente as claras com o preparado de chocolate, envolvendo-as delicadamente, desta vez sem qualquer vigor, para que a mousse ficasse leve.

Frigorífico com ela e hoje, após deglutir um cabrito que demorou séculos a assar, mas que estava delicioso (do qual não sei a receita porque não meti prego nem estopa na sua confecção), com esparregado e batatinhas novas com casca, foi devidamente apreciada por todos os que partilhamos a almoçarada.

Enfim, mesmo com as ameaças invisíveis que nos rodeiam tratámos de nos banquetear, celebrando a festa de estarmos juntos. E a festa somos sempre nós que a decidimos e escolhemos.

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publicado às 18:21

Em modo recosto pós prandial

por Sofia Loureiro dos Santos, em 20.04.14

 

 

Vieiira da Silva

 

 

Do cabrito reza uma história que não sei contar. Talvez lá para as bandas do último dos Romanos se possa descortinar a receita. Sei apenas que ocupou uma prateleira do frigorífico durante vários dias, mergulhado numa molhanga encarniçada. O passeio diário de 180 graus era bastante custoso, pois os 2 garfos compridos, quais forquilhas do demo, eram parcos para tanta costela. Fiquei mesmo com a impressão que a metade tinha um multiplicador, como agora está na moda dizer-se a propósito da austeridade, mas este era de aumentação.

 

Mas que estava uma delícia, isso é um facto, com acompanhamento de castanhas e esparregado, regado com o costumeiro vinho que já se tornou tradição pascal, cá em casa.

 

Para não mencionar um maravilhoso pudim, também da autoria do cozinheiro de serviço, que era uma bomba calórica, mistura entre leite condensado, leite de coco, gelatina e frutos silvestres, mas que se derretia na boca e se deglutia quase sem se perceber.

 

Enfim, se os impostos sobre produtos nocivos já estivessem activos, nós hoje já tínhamos contribuído com uma bela percentagem para a redução do défice. Só faltou mesmo um certo canadiano de empréstimo para que o dia fosse perfeito...

 

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publicado às 16:28


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