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Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
Arroz de frango ou de pato? De peru ou de marisco?
Arroz ou massa? Estrelinhas ou lacinhos? Ou esparguete?
Frango inteiro ou algumas partes? Cozido e desfiado ou guisado e inteiro?
Com legumes ou com chouriço? Com farinheira? Morcela? Ou com ervilhas e milho?
Com tomilho ou com coentros? Com salsa? Com aipo?
Mas que dúvidas existenciais.
Mas que indecisões incomensuráveis.
Mas que insatisfação inexcedível.
Inovemos:
Frango desnudo e desfeito, em cama de legumes variados e cogumelos, envolvido por arroz agulha e polvilhado de coentros.
Cozer muito bem 2 membros inferiores de frango e 2 peitos, sem peles, em água com sal, pimenta, aipo, cenoura, alho, louro e um pouco de cebola. Reservar o frango e coar a água.
Refogar cebola, alho, pimento vermelho, um pedacinho de gengibre, cogumelos, aipo, couve coração e um pouco de bacon em fatias, com azeite, sal e pimenta. Depois de tudo já bem refogado e ligado, deitar lá para dentro o frango desfiado, arroz agulha e a água de cozer o frango (a água é sempre o dobro do arroz).
Depois do arroz já pronto, polvilhar com coentros (afinal foi salsa) aos bocadinhos.
Servir e comer.
Não sei mesmo que sociedade estamos a construir.
O anúncio de Natal deste ano, da NOS, é bem exemplificativo de como incentivamos o desligar da realidade.
Nada serve, nada estimula, nada completa o desejo de uma criança (filha única, com pais a que não faltam recursos económicos, numa idílica casa no meio da neve) a não ser o que não há. Apenas com isso ela se satisfaz.
A perfeição do mundo está na nossa imaginação. Mas neste anúncio o mundo é um holograma do que não há.
Que mensagem é esta? Como a conseguimos incluir na retórica do Natal, para não dizer no espírito do mesmo?
Estranho. E assustador.
Desde ontem que esta frase não me sai da cabeça.
Ouvi-a, por acaso, num programa da Antena 1, a propósito do Natal, e foi dita por Joel Neto.
Nada de mais simples e difícil: a bondade.
Por isso urgente.
Se um dia eu souber
Ter a alma aquietada
E se o Cristo renascer
Da Palavra anunciada
Talvez a luz ilumine
Os cantos da solidão
Talvez Jesus me ensine
A curva da mansidão
A sorte que tenho em vida
No tempo de ser quem sou
A refeição repartida
Com todos a quem me dou
E então será de Natal
O rumor da madrugada
E a ventura sem igual
Que é amar e ser amada
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