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Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
A verdade é que o meu espírito natalício custa cada vez mais a chegar e chega cada vez mais tarde. Mas o tempo urge. Hoje dei início às hostilidades.
Os cabazes cá de casa estão esqueléticos e anémicos, literalmente, pois o licor de pêssego, embora delicioso, tem uma cor ligeiramente descorada.
Portanto este ano experimenta-se o doce de dióspiro. Este é um fruto que sempre evitei, pela sua textura e aparência demasiado gelatinosa, até ao ano passado, altura em que o experimentei (o de roer) e fiquei fã.
Como cá em casa tudo se transforma em compotas e licores, lá descasquei e cortei em pedacinhos 1,5 Kg de dióspiros que coloquei num enorme tacho com 1 Kg de açúcar, sumo e casaca de 1 laranja, 3 paus de canela e uns goles de moscatel de Setúbal.
Depois de fervilhar fazendo espuma durante algum tempo, resolvi reduzir a puré com a varinha mágica e deixar ferver mais um pouco.
Agora está a aguardar que arrefeça, para ver se necessita de voltar ao lume. Os frasquinhos serão cheios e rotulados para rechear os frugais cabazes, que serão saudáveis, naturais e sustentáveis - tudo muito bio e artesanal, para não ferir a economia circular - discurso muito em voga, seja lá o que for que significa.
Fui à feira dos afectos
que se vendem bem baratos
mas os meus predilectos
estavam já desbotados.
Fui à loja dos carinhos
para enfeitar a amizade
achei apenas uns ninhos
de cinismo e má vontade.
Onde estão os corações
os abraços e a bondade?
Onde andam as canções
paz e solidariedade?
Voltei a casa cansada
de tanto buscar em vão
as luzes claras da estrada
acesas num turbilhão.
Mas a porta estava aberta
nos teus olhos de Natal
com amor na dose certa
sem hora nem ritual.
No teu enlace a quentura
conforto de quem se quer
nesta festa de ternura
Jesus já pode nascer.
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