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A Máfia do Pinhal*

por Sofia Loureiro dos Santos, em 15.04.18

pinhal leiria.jpg

 

Serei eu que tenho o foco desviado mas acho gritante o relativo silêncio à volta da reportagem da TVI sobre a combinação criminosa de fazer arder o pinhal de Leiria, a 15 de Outubro do ano passado. Lembro-me bem do que aconteceu após a reportagem sobre a corrupção nas Raríssimas.

 

Onde estão os títulos diários nos jornais, as reportagens nas televisões, as indignações, comentários e apelos presidenciais? Será que a devastação criminosa do pinhal de Leiria é menos grave que a corrupção nas Raríssimas?

 

No dia 15 de Outubro do ano passado houve 523 ocorrências, morreram 48 pessoas e arderam mais de 50.000 hectares de terreno. Confesso que não entendo as prioridades dos nossos media informativos.

 

*Título da reportagem da TVI

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publicado às 10:24

Dos incêndios que se anunciam

por Sofia Loureiro dos Santos, em 17.02.18

incendios.jpeg

SIC

 

 

Depois do braseiro nacional do ano passado e dos braseiros dos anos anteriores, caminhamos para outros braseiros que se anunciam. Depois da comoção nacional pela catástrofe de 2017, com Portugal a arder, pessoas a morrer, destruição de empresas, de casas, de vidas, depois de toda a solidariedade, dádivas, ajudas e apoios, acusações e demissões, algumas notícias vão mostrando que, de novo, nos esquecemos de tudo. Porque a culpa ou a responsabilidade nunca é nossa, mas sempre de terceiros - do governo, dos Bombeiros, da Altice, dos loucos, de todos, menos nossa.

 

E no entanto, vamos assistindo às notícias que nos dão conta da corrida aos viveiros para plantar eucaliptos, para tentar contornar e minimizar a proibição legislativa, às declarações dos Municípios que dizem não conseguir promover a limpeza das florestas até à data fixada por lei - 31 de Março - tentando adiar e compartimentar procedimentos absolutamente essenciais, apesar dos meios que têm sido postos à sua disposição.

 

Serão necessários muitos anos para tentar melhorar o que foi abandonado durante décadas e muitos investimentos na renovação e no reordenamento do território, na ajuda a quem mais sofreu. Mas a urgência da situação vai-se esgotando porque as pessoas esquecem depressa que são elas próprias as principais responsáveis.

 

Estamos quase no fim de Fevereiro e a chuva continua muitíssimo escassa. Reunem-se as condições para um Verão quente. E a próxima tragédia está mesmo ao virar da esquina.

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publicado às 10:18

O Relatório sobre o incêndio de Pedrógão

por Sofia Loureiro dos Santos, em 14.10.17

relatorio pedrogao.png

 

 

Do relatório elaborado pela Comissão Técnica Independente sobre o incêndio de Pedrógão Grande apenas li o sumário executivo, mas com muita atenção. E sugiro que todos o leiam.

 

Sem qualquer rebuço os relatores indicam a responsabilidade à Protecção Civil, à incapacidade de previsão atempada, à actuação descoordenada e tardia, as extremos factores atmosféricos e de solo.

 

Mas dizem muito mais e é nisso que nos devemos focar - é preciso mudar tudo, aceitar e integrar o conhecimento científico na verdadeira prevenção e combate aos incêndios, mudar a floresta, envolver as populações e as Forças Armadas, qualificar e profissionalizar os vários agentes, avaliar permanentemente as condições e as performances, descontaminar os Postos de Comando de jornalistas e políticos, actualizar os meios tecnológicos de comunicação, que estão obsoletos.

 

Ou seja, transformar esta tragédia numa lição aprendida e usar o relatório para implementar as mudanças que se impõem. Foi exactamente isso que disse o Presidente, terminando com a frase que, repetidamente, se escreveu nos jornais como exigência ao governo, mas que é uma exigência a todos nós - já perdemos todos tempo demais.

 

Mas o Estado é o responsável pela Protecção Civil. Como tal, deve indemnizações às vítimas. Além disso este governo também foi responsável pela nomeação do Presidente da Autoridade Nacional de Protecção Civil que, obviamente, deve ser demitido.

 

Penso que a Ministra também deve demitir-se. Constança Urbano de Sousa sai muito fragilizada e, mesmo que a admire até pela coragem em ter ficado, sujeitando-se a ataques e vitupérios permanentes, ela é o rosto do governo nesta matéria. O que aconteceu foi demasiado grave para que não se assuma, ao mais alto nível, os custos dessa tragédia.

 

António Costa vai reflectir em Conselho de Ministros. Espero que da reflexão do governo resulte uma verdadeira reforma florestal, uma verdadeira reforma da estrutura da protecção civil, uma verdadeira revolução na forma como olhamos e usamos a floresta.

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publicado às 22:44

Perplexidades (2)

por Sofia Loureiro dos Santos, em 17.07.17

perplexidades.png

Por muito que quiséssemos era obviamente impossível, a qualquer governo, ter resolvido os enormes problemas das pessoas que ficaram sem nada em Pedrógão Grande e nas restantes áreas calcinadas pelos incêndios. Como também é absolutamente demagógico dos nossos anteriores governantes, exigirem que o dinheiro da solidariedade já estivesse nas mãos de quem necessita, sem qualquer veículo estatal que o possa acautelar e colocar nas mãos de quem dele precisa, ou grandes responsabilidades em relação ao SIRESP, como se fossem alheios a tudo o que diz respeito ao Estado.

 

Mas também me parece que as críticas à PT e ao SIRESP da parte de António Costa são dispensáveis. O que se espera do governo é que actue, não que se queixe, mesmo que tenha razões para isso.

 

Não sei já precisar se foi ontem que ouvi, na televisão, uma responsável pela protecção civil assegurar que as falhas verificadas nas comunicações, através do SIRESP, não tinham tido consequências porque havia sistemas de redundância de comunicações para evitar ausência total das mesmas. Fiquei perplexa outra vez, pois está tudo a colocar-se exactamente ao contrário: o SIRESP deveria servir para que as comunicações não falhassem quando os sistemas normais deixam de cumprir.

 

Porque não acabam com um sistema que, pelos vistos, é caro e não serve para nada?

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publicado às 21:30

O misterioso caso das manchetes do El Mundo

por Sofia Loureiro dos Santos, em 23.06.17

Parece que há um jornalista chamado Sebastião Pereira, que se ofereceu ao El Mundo para cobrir o incêndio de Pedrógão Grande, em Portugal, cujos artigos são incendiários e mentirosos e replicados, como é hábito, pelos media nacionais.

 

Parece ainda que não se encontra rasto desse jornalista, nem em Portugal nem em Espanha.

 

Não é preciso espantarmo-nos com as manipulações de outros países em épocas eleitorais, por exemplo nas Presidenciais norte americanas ou no referendo do Reino Unido. Temos as nossas manipulações domésticas, com fabricação de notícias falsas com a cumplicidade (por acção ou omissão) dos meios tradicionais. Nem é necessário recorrer às redes sociais. Basta ter à vontade e desplante para criar casos e factos políticos.

 

Assim vai a nossa democracia.

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publicado às 11:05

Das explicações que se impõem

por Sofia Loureiro dos Santos, em 22.06.17

Morreu muita gente, de uma forma que é quase inimaginável - numa estrada, a fugir de um incêndio de proporções gigantescas. Durante dias as populações afectadas e o resto do país assistiu impotente, assustado e revoltado ao desenrolar das tentativas e do sacrifício de uma quantidade de gente que combateu o fogo, que assistiu as vítimas, que tudo fez para que se acabasse com o sofrimento o mais rapidamente possível.

 

Um manancial de comentadores, peritos em tudo e em nada, doutores em incêndios e ordenamento do território, debitaram chavões que já todos ouvimos, vezes sem conta, durante décadas, rigorosamente todos os Verões. Impõe-se agora que sejam averiguadas as circunstâncias, as causas, as evitáveis e as não evitáveis, o que correu mal e o que correu bem.

 

Contra a demagogia e a desinformação a única arma, aquela que eu espero de um governo honesto e transparente, é a investigação acelerada e rigorosa dos acontecimentos e a assumpção das responsabilidades, sejam elas de quem forem.

 

Politicamente a Ministra da Administração Interna tem o seu cargo a prazo. Acho muito difícil que tenha condições para se manter em funções, seja qual for o desfecho das comissões de inquérito e dos processos de averiguação que entretanto se iniciem. Injusto ou não houve uma tragédia sem precedentes envolvendo a actuação de vários actores que estão sob a sua responsabilidade.

 

Aguardemos o resultado das inquirições. E espero que pelo menos se comecem a por em prática algumas medidas que possam, mesmo que a mais longo prazo, evitar que outras tragédias aconteçam, pelo menos em perda de vidas como a que aconteceu em Pedrógão Grande.

 

Não enganemos as nossas consciências, sempre prontas a apontar o dedo a outros. Este assunto envolve-nos a todos. As alterações ambientais são uma realidade e a desertificação do Interior continuará se não houver uma radical alteração do funcionamento da sociedade, em termos de mercado de trabalho, de distribuição e de horários, de forma a permitir que seja possível viver longe dos grandes centros. Todos teremos que contribuir com as nossas exigências e com as nossas disponibilidades para uma mudança no hábitos e nas necessidades. E aos governos pede-se que implementem as reformas que permitam a deslocalização de pessoas e serviços, que criem pólos de desenvolvimento descentralizado com incentivos para fixar as populações. Não para o ano nem para o mês que vem nem para amanhã - agora.

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publicado às 21:26

Dos abutres

por Sofia Loureiro dos Santos, em 18.06.17

incendio.jpg

Diário de Notícias

 

 

Na rádio e na televisão os pivots insistem com todos os entrevistados na pergunta de como se poderia prever esta tragédia - falta de estratégia, escassez de meios, enfim, tudo.

 

Convinha que houvesse mais decoro. A procura de bodes expiatórios não é compreensível da parte de quem tem obrigação de informar e não desinformar. Há pouco um meteorologista disse que a causa da magnitude deste incêndio é a seca, a falta de água no solo e na atmosfera, para além dos ventos.

 

Tudo deve ser investigado e o que houver a corrigir corrigir-se. Mas a tentativa de aproveitamento político desta situação é vergonhosa e bem típica dos abutres.

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publicado às 11:39

Optar pelo campo

por Sofia Loureiro dos Santos, em 16.08.09

 

A propósito dos incêndios, tema recorrente em todos os verões, e da desertificação do território, segui o conselho de Henrique Pereira dos Santos e fui pesquisar as estatísticas existentes com maior intervalo temporal, para perceber se era possível falar de uma tendência na melhoria de combate aos incêndios.

 

Em relação ao combate aos incêndios os dados existentes na Autoridade Florestal Nacional, sobre número de incêndios e área ardida, datam de 1980.

 

Como se pode verificar pelos gráficos que fiz, há um aumento contínuo do número de ocorrências, mas a área ardida sofreu um aumento e agora uma diminuição muito significativa (desde 2006). É pouco para falar de tendências.

 


Mas se dividirmos a área ardida pelo número de ocorrências, ou seja uma forma de testar a eficácia de combate aos incêndios, há uma verdadeira tendência para a melhoria, neste caso, partilhada por mais do que um governo, mas acentuada com este último.

 


Em relação à desertificação do interior, em marcha desde, pelo menos, a década de 60 do século passado, o seu combate deve ser uma prioridade. Não me parece, no entanto, que insistir na agricultura de artesanato, com pluriemprego para quem escolher essa vida, a implementação do agro-turismo e do ecoturismo, sejam as únicas e melhores respostas a essa questão por uma razão simples: há muito pouca gente disposta a abraçar esse tipo de vida, não só em Portugal como nos outros países industrializados.

 

Penso que teremos que ser mais imaginativos e criar condições para que seja fácil, económico e uma melhoria na qualidade de vida optar pelo campo.

 

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publicado às 13:18


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