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Enquanto os porta-vozes desta luta sindical não forem trocados por pessoas que prezem o significado da palavra negociar, continuaremos a assistir ao completo atropelo do razoável e a um desafio ao Estado de Direito, perpetrado pelo advogado Kamikaze, que nunca foi motorista profissional mas é vice-presidente de um sindicato de motoristas, e do advogado que exige muito e demais, dirigindo-se ao governo como quem se dirige a um soldado.
O governo não pode substituir-se às partes em desacordo, pois são privadas, mas pode e deve manter o país a funcionar e usar o poder democrático de um Estado de Direito para impedir que uma franja, por muito importante que seja, possa levar o País aos limites a que o está a levar. E é o que tem estado a fazer. Convinha que se unissem os esforços dos ministros e das pessoas com um mínimo de bom senso, tanto da ANTRAM como do SNMMP, para que acabe esta escalada que só pode ter mau resultado, para todos. Até porque as vozes a favor de alterações à lei da greve, vindas da direita, fazem o seu caminho.
Afastem-se os dois advogados e recomecem as negociações, que isto já está a ultrapassar os limites do que é tolerável.
Muito interessante a forma como, subtilmente, Pedro Pardal Henriques deixou o protagonismo para outro porta-voz, falando menos e aparecendo em segundo plano nas fotografias.
O vice-presidente e porta-voz do Sindicato Nacional dos Motoristas de Matérias Perigosas (SNMMP) e o porta-voz Associação Nacional de Transportadores Públicos Rodoviários de Mercadorias (ANTRAM) são ambos advogados. Jovens e cheios de verve, o país assiste a um combate de estrelas.
Parece que, pelo menos até agora, Pedro Pardal Henriques parece estar a perder em relação a André Matias de Almeida. Indirectamente, este acaba por beneficiar da estratégia arbitral do governo. Por outro lado, parece que o primeiro não estará assim tão dentro dos assuntos jurídicos como a sua prosápia dá a entender.
Os verdadeiros motoristas e os restantes cidadãos, que da bancada assistem, uns mais incrédulos que outros, são quem mais vai perder. Tanto protagonismo e auto propaganda, não serve para defender trabalho nem trabalhadores, mas para alimentar egos e agendas políticas - próprias e alheias.
... do post anterior, se considerarmos o número de cirurgias programadas efectuadas em 2017, segundo os dados da ACSS terão sido 575.834, e o número de cirurgias já suspensas desde o início da greve dos enfermeiros - 5.000, é o adiantado pela imprensa, concluímos que, tal como a Ministra da Saúde disse, é uma percentagem residual - mais precisamente 0,8%.
Isto não diminui a gravidade do assunto, mas também convém ter uma perspectiva de peso e das percentagens, pois ajuda a compreender que a adesão é, de facto, residual. O mais extraordinário é a forma como a Bastonária da Ordem dos Enfermeiros está a comandar esta greve.
A Very British Coup é uma série de TV já com 30 anos, que conta a história de uma vitória eleitoral de um político de esquerda, do tipo do Jeremy Corbyn, que assume o lugar de Primeiro-ministro do Reino Unido. Como tal elimina o monopólio dos jornais, promove a retirada das bases militares americanas do seu território e a saída da NATO, para além do desarmamento nuclear unilateral, o que desencadeia uma união das forças políticas da oposição aliadas às empresas e aos lóbis mediáticos para desacreditar o próprio Pimeiro-ministro e promoveram um alarme social para levar à demissão do governo.
Ao assistir a esta onda de greves, principalmente à dos enfermeiros, que já levou ao adiamento de milhares de cirurgias, cujo reagendamento é muito difícil e levará, muito provavelmente, ao recurso às instituições privadas para tentar recuperar e tratar os doentes, penso sempre nesta série.
Será que não estará a haver instrumentalização dos enfermeiros para dar uma forte machadada no SNS? É que se o objectivo fosse boicotar só por boicotar, a forma não poderia ser mais bem escolhida.
Acho sintomático ler várias pessoas referirem-se aos que não fizeram greve com aqueles que tiveram necessidade de justificar esse facto. Realmente está de tal forma impregnado, na ala esquerda, que quem não é grevista está vendido, é amarelo, defende o patrão, é cobarde e outros epítetos, tal como para a ala direita se passa exactamente o contrário, que muitos se sentem compelidos a explicarem-se. No fundo, é o que estou a fazer.
Realmente respeito muito quem faz greve, se a faz porque está convencido que essa forma de luta terá consequências, é uma tomada de posição de dignidade e clamor. Tal como respeito quem a não faz, se pensa que não se revê nesse tipo de manifestação de desagrado. Mas há patrulhas ideológicas dos dois lados, que gostam de insultar quem não faz a escolha certa, dependendo da lateralidade em que se está.
A verdade é que acredito cada vez menos nas greves como meio de pressão. Parecem-me anacrónicas, um ritual que se repete sem consequências. Penso que a pressão sobre o poder político, pois esta é uma greve com fins políticos e não laborais, a cumplicidade e o ganho da opinião pública se conseguem através da capacidade de chegar aos media e influenciar a opinião pública. É só estarmos atentos ao bombardeamento a que, desde que sequestrou os subsídios no sector privado - o governo tem sido submetido, com comentadores de todos os tipos, jornalistas, politólogos, economistas e filósofos, a desdizerem o que ansiavam como terapêutica salvífica nos últimos tempos do governo anterior. Também foi assim que se criou a onda de crucificação do governo de Sócrates.
E temos também o fenómeno das redes sociais, que podem levar à desvalorização da representatividade dos eleitos, pois confunde-se a vontade do povo com o que se lê nas redes e com a organização das ditas manifestações inorgânicas. Fenómeno esse ainda não compreendido nem aproveitado pelo regime.
Os bloqueios da circulação das pessoas, como os tentados na ponte 25 de Abril, ou da saída de trabalhadores que não aderiram à greve, cpomo o que aconteceu na Carris, são ilegítimas e a polícia tem por função impedi-las. A democracia assenta no respeito pelas escolhas de todos, por muito que não sejam as nossas.
Se o meu objectivo fosse ter muitos comentários aos posts que vou escrevendo, bastava fazer uma qualquer referência semanal que beliscasse a FENPROF, para que que as patrulhas dos camaradas me mimoseassem com os seus insultos. Assim tenho esse privilégio só de vez em quando.
Para que fique bem claro e explícito:
Os professores pedem a demissão de todos os ministros e já não é a primeira vez que ameaçam fazer greve aos exames. Com Maria de Lurdes Rodrigues passou-se o mesmo. Se Nuno Crato muda as datas, por causa do pré-aviso de greve, ficará refém dos sindicatos.
Por muito que discorde deste governo, neste caso concordo com Nuno Crato e com Passos Coelho.
Kimberly Conrad
É, de facto, uma situação muito difícil, como Maria de Lurdes Rodrigues afirma.
Portugal é um assunto mesmo dificílimo. Professores e outros funcionários públicos, os cidadãos em geral, têm muitíssimas razões para fazerem greve, geral total e absoluta. Aliás a greve global à capacidade de tentar perceber a realidade já está em acção há muito tempo. Desde há 2 anos que o governo e esta maioria decretaram greve à democracia e ao estado de direito. São grevistas que já perderam a noção de que o mundo está a mudar, mas não eles.
O problema é que quem decreta greve geral já decretou tantas vezes greves, manifestações e revoluções sem razão ou razões discerníveis, tanto se queixaram de todos os ministros, de todas as políticas, de todos os governos, de todos os reaccionários, fascistas e esmagadores das classes trabalhadora e do povo, que já ninguém perde tempo a concordar ou não com a greve. É só mais uma.
E assim estamos todos, com um enfado tal a toda esta situação, que já nem conseguimos indignar-nos. O clima continua adverso aos investimentos na inteligência dos nossos governantes e dos líderes das nossas oposições. É tempo de nos cobrirmos de casacos e guarda-chuvas. A invernia ainda não acabou.
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