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Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
A ultra-direita, à qual se juntam o CDS e o PSD, não se cansam de falar da ideologia de género, propagada pela esquerda e pela extrema-esquerda, que está a corroer o País, as almas, a moral e os bons costumes. Valha a verdade, estou totalmente de acordo com a opinião de David Marçal exposta neste artigo.
Mas quem pratica ideologia de género é mesmo o governo. Mal soube que a DGS ia trocar, temporariamente (até à digtalização dos mesmos), as cores azul e cor-de-rosa dos Boletins de Saúde Infantil e Juvenil pela cor amarela, condizendo com a do Boletim do Programa Nacional de Saúde Infantil e Juvenil, apressou-se a reverter esta decisão, perigosíssima, como se depreende pela rapidez e forma como o fez (1 dia depois). João Almeida, essa excelsa figura, vigilante mor da tal ideologia, postou um pequeno texto na rede social X, antigo Twitter (é sempre assim que todos dizem) com a hashtag #naosomostodosamarelos.
Tal como assinala Sónia Sapage, com tantos assuntos graves e urgentes, este é o eleito para o top das prioridades.
“Os boletins de saúde infantil e juvenil, onde os pais registam as informações mais importantes da saúde e crescimentos dos filhos, já não são cor-de-rosa ou azuis e passaram a ter uma nova cor universal: o amarelo. Mas a mudança, segundo explica a Direcção-Geral da Saúde (DGS), será apenas temporária, já que se está a preparar a "desmaterialização" deste caderno. (…)
(…) "Atendendo à fase de transição em que nos encontramos, considerou-se importante abdicar das cores diferentes — o digital não terá cor — e, por uma questão gráfica, alinhar a cor à do boletim do Programa Nacional de Saúde Infantil e Juvenil, a cor amarela", refere a DGS, (…)"
“ (…) a DGS explica que os boletins rosa e azuis vão afinal voltar, "por decisão do Ministério da Saúde" do Governo de Luís Montenegro. (…)"
Ministra da Agricultura e do Mar
Os membros dos governos deixaram a linguagem pomposa e formal para adoptarem uma postura que roça o grosseiro. Confesso a minha veia reaccionária ao não gostar desta pseudo democratização da linguagem. Não gosto de grosserias de ninguém e não me parece que ajudem a imagem dos nossos representantes.
Assunção Cristas, nesta nova elegante moda, disse que os professores foram aldrabados pelo governo. Não vale a pena os desmentidos já feitos pelos responsáveis governamentais. Não interessa se é verdade ou mentira, conceitos que deixaram de fazer sentido nesta nossa era de factos alternativos. Mas igualando a Presidente do CDS/PP, convém lembrar as aldrabices de Assunção Cristas, que se tem revelado uma bela aldrabona, sendo a maior delas a capacidade que tem de desdizer tudo o que defendeu e fez o governo de que ela fez parte, tal como outros membros do seu partido.
O CDS/PP fez parte integrante do XIX governo (que nos desgovernou entre 2011 e 2015). E eu ainda não me esqueci das aldrabices com que alcançaram e pretendiam manter o poder, desde a promessa de não cortar o subsídio de Natal à devolução da sobretaxa pré-eleitoral.
Como todos os sábados, ouvi calmamente o programa da Antena 2 Um certo olhar, com Gabriela Canavilhas, Luísa Schmidt, António Araújo e Luís Caetano. Como era de esperar falou-se no escândalo da última semana em relação à especulação jornalística e à instrumentalização política da desgraça, concretamente, do número de mortos no incêndio de Pedrógão Grande.
Independentemente do que concordei ou não concordei com o que foi dito, não deixa de me espantar a cuidadosa fuga dos presentes (com exceoção de Gabriela Canavilhas) em criticarem abertamente o Expresso pela divulgação de uma notícia objectivamente falsa, e também a generalização da crítica aos políticos pela utilização deste assunto como arma de arremesso político.
Na verdade foi o Expresso que, a 22 de Julho, faz uma capa em que afirma que a lista oficial dos mortos no incêndio exclui as vítimas de Pedrógão. Imediatamente após desta notícia o PSD e o BE reagiram pedindo explicações ao governo, lançando portanto o anátema de que o governo estava a esconder informação e que tinha obrigação de provar que não estava, tendo Assunção Cristas reagido mais tarde, na exigência de toda a verdade. Apenas o PCP se absteve de alimentar a polémica. Catarina Martins recuou dois dias depois, enquanto o PSD subiu de tom e, de forma insana, faz ultimatos e coloca prazos de resposta.
Portanto: não foram os políticos que instrumentalizaram o assunto, foram alguns políticos do PSD, do CDS e, inicialmente, do BE, enquanto o PCP se demarcou e o PS reagiu escandalizado.
Por outro lado é muito interessante observar o facto de António Araújo desvalorizar a responsabilidade do Expresso, assumindo no entanto que se fosse verdade (que havia mortos escondidos) seria grave. Como se verificou que era mentira, já não é grave o artigo (e a insistência) do Expresso?
A desvalorização e a generalização destes episódios inenarráveis são perigosas. Os políticos e os jornalistas não são todos iguais. Além disso parece que Francisco Pinto Balsemão se indigna com as falsidades divulgadas pelas redes sociais. São, de facto, horríveis, mas as redes sociais não são jornalismo. As responsabilidades não são as mesmas, como ele muito bem sabe, e as exigências também não. Ou será que os jornalistas do Expresso usam os métodos e agem com a ligeireza daqueles que twitam e divulgam disparates?
Mesmo depois de tudo o que aconteceu, o Expresso publica editoriais e outros artigos de opinião em que, em vez de se desculpar, tenta justificar o injustificável, virando os factos de forma a fazer crer que tinha toda a razão e que os outros - mais uma vez os políticos - é que tinham usado mal uma profunda e certeira reportagem, agitando o ataque à liberdade de imprensa e outros chavões como manobras de diversão.
É muito triste assistir a este descalabro no jornalismo livre e independente. Porque livre ele é, independente, já duvido, e jornalismo, é que não é mesmo.
Nota: Tem-se criticado a empresária que terá sido a fonte da notícia do Expresso. Mas quem tem a obrigação de verificar as fontes não são os jornalistas?
Resolução da Assembleia da República n.º 122/2016
Constituição de uma comissão parlamentar de inquérito à recapitalização da Caixa Geral de Depósitos e à gestão do banco
A Assembleia da República, (...) constitui uma comissão parlamentar de inquérito à recapitalização da Caixa Geral de Depósitos e à gestão do banco, (...) com o seguinte objeto:
a) Avaliar os factos que fundamentam a necessidade de recapitalização da Caixa Geral de Depósitos, incluindo as efetivas necessidades de capital e de injeção de fundos públicos e as medidas de reestruturação do banco;
b) Apurar as práticas de gestão da Caixa Geral de Depósitos no domínio da concessão e gestão de crédito desde o ano de 2000 pelo banco em Portugal e respetivas sucursais no estrangeiro, escrutinando em particular as posições de crédito de maior valor e/ou que apresentem maiores montantes em incumprimento ou reestruturados, incluindo o respetivo processo de aprovação e tratamento das eventuais garantias, incumprimentos e reestruturações;
c) Apreciar a atuação dos órgãos societários da Caixa Geral de Depósitos, incluindo os de administração, de fiscalização e de auditoria, dos auditores externos, dos Governos, bem como dos supervisores financeiros, tendo em conta as específicas atribuições e competências de cada um dos intervenientes, no que respeita à defesa do interesse dos contribuintes, da estabilidade do sistema financeiro e dos interesses dos depositantes, demais credores e trabalhadores da instituição e à gestão sã e prudente das instituições financeiras e outros interesses relevantes que tenham dever de salvaguardar.
Pelos vistos não interessa concluir esta Comissão de Inquérito. É muitíssimo mais importante descobrir o que exigia uma Administração que não chegou a funcionar, vasculhando os sms entre António Domingues e Mário Centeno.
TSF
Só para alguns foi feroz o combate à evasão fiscal, precisamente para aqueles a quem o feroz governo PAF retirou rendimentos e fez pagar a crise e a austeridade, penhorando ordenados e retirando casas. Para outros a ferocidade foi bastante inconseguida.
A demissão de Paulo Núncio dos cargos ou funções partidárias não tem nada a ver com carácter nem com assumpção de responsabilidades - Assunção Cristas está a confundir partidos com serviço público e Estado. Isto é apenas para tentar matar o assunto rapidamente, o que só adensa as suspeitas da gravidade do mesmo.
A nova estratégia da direita é desacreditar o Presidente da Assembleia da República, com queixas permanentes, linguagem de taberna e a requentada asfixia democrática.
O ruído é grande e só demonstra a ausência de conteúdo e a aridez da direita política. O descabelo da novela dos SMS está a terminar, o problema dos 10.000 milhões de euros que se escoaram entre 2011 e 2014, sem que o PAF se incomodasse, enquanto tudo era permitido desde que se empobrecesse os cidadãos, são os motivos de tamanha agitação psicomotora e desnorte vocabular.
Mário Centeno é o Ministro das Finanças de um governo que, após os anos de chumbo que vivemos, conseguiu cumprir não todas as promessas, mas algumas delas bem importantes, nomeadamente o défice, ao mesmo tempo que devolvia alguns dos rendimentos que tinham sido retirados dos cidadãos, não provisoriamente como a PAF nos queria fazer crer, mas definitivamente como a PAF prometia em Bruxelas.
Herdou um enorme imbróglio no sector financeiro, com o problema do BANIF a explodir-lhe nas mãos, para além do problema da CGD que, não esqueçamos, Passos Coelho gostaria muito de privatizar. Conseguiu uma vitória negocial em Bruxelas, precisamente sobre a mesma CGD, que todos tinham vaticinado impossível.
Ao querer uma administração profissional, acabou por ceder onde não devia ter cedido - permitir que António Domingues e a sua equipa exigissem o inaceitável. Não tenho dúvidas que o terá feito de boa fé e a bem do País, mas o Estado tem que se dar ao respeito e não pode permitir que os Administradores ditem as leis que querem e que não querem cumprir.
A oposição de direita não tem conseguido vender aos cidadãos a sua cartilha; há distensão social, as pessoas têm mais esperança, os indicadores económicos estão a melhorar, tudo lhe corre mal.
Usando de uma linguagem boçal, dando cambalhotas de incoerência e criando casos, a direita política viu nesta atabalhoada negociação entre o governo e a administração da CGD a oportunidade para atacar Mário Centeno. Tudo serve, até mesmo a publicação das SMS trocadas entre ele e António Domingues. Já não há nada que seja privado, nem as mensagens que se trocam no telemóvel.
E não há boa notícia que abafe a gritaria da direita, secundada por uma comunicação social que faz parte do combate político, cujos comentadores vêm os seus comentários desmentidos pela realidade, à medida que a Geringonça se mantém a governar e até a Europa elogia a governação.
Por muito bom Ministro que Mário Centeno tenha sido e seja, penso que a sua permanência no governo será uma fonte de desgaste permanente. Ou a base política de apoio - PS, BE e PCP - consegue marcar a agenda mediática de forma a calarem a direita, ou Mário Centeno terá que pagar com a sua demissão o erro que cometeu com António Domingues. É muito injusto, mesmo muito, mas não me parece haver muitas alternativas.
Nota: não consigo compreender como Marques Mendes se mantém a fazer as figuras que faz; como Lobo Xavier sabe da existência de SMS comprometedoras ou não; como estas duas personagens se mantém como conselheiros de Estado.
Da mesma forma, a 2 de Julho, Paulo Portas transforma decisivamente o léxico político, dando novos significados ao significante significado da insignificância da sua palavra:
(...) Com a apresentação do pedido de demissão, que é irrevogável, obedeço à minha consciência e mais não posso fazer. (...)
(...) Em consequência, e tendo em atenção a importância decisiva do Ministério das Finanças, ficar no Governo seria um acto de dissimulação. Não é politicamente sustentável, nem é pessoalmente exigível.
Vamos comemorar o feriado de 5 de Outubro um dia mais cedo:
a 4 de Outubro, nas mesas de voto!
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