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Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
BOLO DE LIMÃO
Como ninguém sabe a volta e a reviravolta destas eleições, o bolo hoje é de limão. Parece-me uma excelente alegoria para gostar e não gostar (do resultado das ditas, não do dito, claro).
Na minha casa não há bolos sem pré-aquecimento do forno. E sempre a 180º, pois não é de mais nem de menos.
Esta receita é uma espécie de adaptação de várias outras que encontrei na internet, fruto de estudo apurado e pensamento estruturado, claro. Como fiquei fã incondicional de bolos feitos no liquidificador, o que é rápido e fácil e não precisa de grandes elaborações culinárias, este também seguirá esse procedimento.
Cortei 2 limões amarelos (sicilianos) em 4, depois de lhes tirar as pontas; limpei-os de caroços e da película branca que os cobre, coloquei-os no copo misturador. Juntei 3 ovos (deveriam ser 4 mas só tinha 3), 300 gr de açúcar (mistura de amarelo com branco, porque o que tinha de amarelo não chegava) e 180 ml de óleo.
Liguei o botão e ficou tudo a liquidificar durante bastante tempo, até estar um líquido espesso e homogéneo. Deitei o líquido para uma taça grande e peneirei – verdade, já cheguei a esse ponto de perfeição – 300 gr de farinha de trigo integral e 1 colher de sobremesa de fermento em pó (peneirar a farinha serve para que não haja grumos no fim). Incorporei a farinha com o fermento no líquido, verti a massa para 2 formas de bolo inglês anti-aderentes (outra inovação que não dispenso) e lá foram para o forno, onde estiveram 30 minutos.
Nada mau. Mas precisa de melhorar – mais 1 ovo, 1 iogurte de baunilha, uma colher de sopa de fermento e todo o açúcar amarelo. Veremos se da próxima vez fica mais saboroso (espero que apenas o bolo.....).
Girl with Grandmother
A realidade torna-nos em gente muito mais comum do que nos pensamos, até mesmo em clichés ambulantes. Também me está a acontecer a mim.
Acordada à hora costumeira, seja semana ou fim dela, o meu primeiro pensamento foi para aquela coisinha minúscula e fofa que me virá visitar mais tarde, aquela pequenina bolinha de ternura que faz agora parte de mim.
Essa ideia veio acompanhada do planeamento do lanche para quem a vier ver, com bolo à mistura, chá, etc. tudo aquilo a que as avós têm direito de fazer para que tias e bisavós tenham o direito de comer.
Há uma semana reiniciei as aventuras culinárias com bolo de laranja, daqueles que usam a laranja toda. O forno portou-se bem e o bolo ficou bastante bom.
Hoje será de banana, porque há umas que estão a amadurecer perigosamente na cesta e precisam de uma atenção redobrada.
No entanto, os pormenores das tabelas de conversão de pesos e medidas, são um quebra-cabeças – chávenas, xícaras, copos e colheres, de todos os tamanhos e feitios, para sólidos e líquidos, são medidas muito pouco científicas. Gosto de gramas, quilos, litros e mililitros. Mas nada me demove, nem a proibição médica de pegar em pesos com o braço a consolidar. Paciência, terei de ser imaginativa.
Entre as dentadas e a degustação que se antecipam, os carinhos e os beijos naquela maravilhosa pequenina, haverá lugar a acaloradas discussões político-filosóficas, a propósito do andamento do país e do mundo, que não conseguimos salvar.
Há lá melhor forma de passar uma tarde de sábado?
BOLO DE BANANA
Liguei o forno a 180 graus; no copo misturador, coloquei 3 bananas aos bocadinhos, 180 ml de óleo, 80 ml de leite, 3 ovos e 300 gr de açúcar amarelo. Previamente tinha moído 300 gr de flocos de aveia (não tinha farinha) e misturei 1 colher de sobremesa de bicarbonato de sódio (não tinha fermento).
Logo que a mistura ficou bem homogénea, fui juntando a farinha de aveia com uma colher de pau. Depois de tudo bem ligado, enchi 2 formas anti-aderentes de bolo inglês e coloquei no forno, por 30 minutos (como o forno é eléctrico, deixei-o lá dentro até esfriar, para acabar de cozer).
Outro dia deram-me várias laranjas, tangerinas e abacates, com os seguintes avisos: tudo biológico, natural e sem químicos; as tangerinas muito boas, as laranjas um pouco ácidas e os abacates à espera de amadurecerem.
Depois de ter provado as tangerinas, de facto deliciosas, olhei para as laranjas e decidi fazer um bolo, iguaria apreciada cá por casa. Procurei receitas na internet e aí vou eu, de mangas arregaçadas e espírito de exímia pasteleira, acompanhada do ralador e do espremedor de citrinos, confeccionar a iguaria. No entanto, depois de aturadas e apuradas buscas na dispensa, concluí que faltavam alguns ingredientes essenciais: farinha, fermento e açúcar branco.
Mas os 5 ovos já estavam numa taça com a raspa e o sumo de 2 laranjas, para além de 1 chávena de chá de óleo. Nada de pânico, disse o grilinho da minha cabeça. Reuni tudo o que podia substituir a farinha, no caso farinha de linhaça dourada, farelo de centeio e coco ralado, os ingredientes que a minha PT acha adequados à minha parca alimentação, e consegui encher as 2 chávenas de chá que se impunham; o açúcar amarelo fez as vezes do branco (também 2 chávenas de chá) e o bicarbonato de sódio (1 colher de café) tomou o lugar do fermento.
Podem crer que está muito bom, húmido e peganhento, um monumento à gula, totalmente biológico, nutritivo e saudável!
Nota: a azul estão os ingredientes da receita original.
O pão-de-ló é um bolo de grande tradição na cozinha portuguesa e nesta particular época festiva. Sim, porque todas as celebrações religiosas acabam sempre em grandes banquetes e, por muito devotos que sejamos (e eu não sou rigorosamente nada), ninguém dispensa as iguarias que se preparam afanosamente, com mais ou menos imaginação.
Pois um dos segredos do bom pão-de-ló é o tempo durante o qual se deve bater o açúcar com os ovos, para que fique bem fofo. Esse é um segredo que todos conhecem. Um outro, mais bem guardado, é a forma de conseguir um pão-de-ló líquido no centro. Para além da enorme quantidade de gemas necessária, não percebo como se faz.
Sendo assim, atrevida mas ainda não o suficiente, deixo essa experiência para outra altura.
Hoje resolvi preparar o pão-de-ló como é hábito (50g de açúcar por cada ovo/ metade do peso do açúcar em farinha) - bater muito bem os ovos com o açúcar, até ficar um creme quase branco, juntar-lhe a farinha e misturar, cozer em forno médio (foram cerca de 15 minutos para 6 ovos) numa forma untada com margarina e polvilhada de farinha. Mas...
... não é em vão que se consomem várias horas de MasterChef (Austrália). Pão-de-ló, só assim, tão ló e só é pouco para a minha mesa de Páscoa. E que tal uma calda, para molhar o dito? Raspei (com o inexcedível Microplane) 2 laranjas e espremi essas 2 e mais uma para dentro de um tacho, juntei 6 colheres de sopa de açúcar e um pouco de licor de café (a olho, confesso, umas boas goladas). Depois de fervilhar durante um bocado, até ficar com um pouco de ponto, dei a calda por terminada. Mas...
... faltava ainda a parte crocante. Toca de moer grosseiramente uns amendoins e de os torrar na frigideira antiaderente (foi um instante, ficaram ligeiramente torrados de mais). Mas...
... para a felicidade e a sofisticação serem supremas, a cereja no topo do bolo, ou seja, ainda precisava de ter natas batidas com açúcar, cremosas e sedosas, o que daria ao pão de ló a companhia ideal para ser mais ló que pão. O problema é que as natas que encontrei - mimosa - me mimosearam com a tristeza de nem serem de seda nem se transformarem em creme, apenas num líquido pastoso e desanimado.
Está no frigorífico. Pode ser que amanhã ressuscite, para condizer com o dia.
Recuperação do tempo perdido - grande azáfama da Irmandade do Avental - foi a vez do doce de abóbora. Este ano não ficou a macerar de um dia para o outro. Só hoje houve tempo e paciência para atacar a abóbora, que rendeu 3 quilos para o doce e mais um saco dela para congelar. Juntei canela em pau (2/Kg), sumo de lima (não havia limões - 2/Kg) e cravinhos (2/Kg), para além do açúcar, claro. No fim - nozes partidas aos bocadinhos. Está maravilhosa.
Ainda produzimos 2 tortas (foi tudo aos pares) com recheio de geleia de marmelo e iogurtes magros de café e canela. A torta fez-se batendo 3 ovos com 150g de açúcar até duplicar o volume da massa; juntámos 75g de farinha e foi a cozer num tabuleiro previamente untado com margarina e polvilhado com farinha, durante 10 minutos, em forno médio.
Os iogurtes de café resultaram de uma ideia que me deram outro dia. Segui os passos destas receitas:
Fervi 1/2 l do leite com o café e o pau de canela; misturei depois o leite frio e juntei aos iogurtes e ao leite em pó. Deitei tudo nos copinhos da iogurteira que liguei durante 12 horas - vou consumir amanhã, depois de gelarem no frigorífico.
Para o próximo fim-de-semana estão programados os licores. Depois do engarrafamento, impressão e colagem de rótulos, tudo estará pronto para as festividades da época.
Este é um bolo adequado à nova geração dos nossos governantes. Soletram-se os ingredientes, demora-se no mexer da colher de pau, deleita-se o paladar no vagaroso saborear.
Imaginemos o nosso ministro olheirento com um avental e uma colher de pau, rodeado de uma organizadíssima mesa de cozinha, a tarde por conta dele (provavelmente a mulher aproveitou para arejar, de forma a não assistir à dolente epopeia culinária). Rigoroso, lê os ingredientes e coloca-os a todos à sua volta, perfilados e obedientes:
Para o recheio:
Uma tablete de chocolate para culinária com, pelo menos, 50% de cacau
Dois decilitros de leite gordo
Seis colheres de sopa de açúcar
Duas gemas de ovo
Um pouco de canela em pó
Duas colheres de chá de licor (qualquer um, se caseiro melhor)
Para a massa:
Seis ovos
Trezentas gramas de açúcar
Cento e cinquenta gramas de farinha
Para a forma:
Margarina e farinha para barrar
Começa por ligar o forno, aproveitando para derreter a margarina dentro da forma – grande com buraco a meio, ou sem buraco. Com um pincel barra bem o interior da forma e depois peneira-a de farinha.
A seguir parte os seis ovos para dentro de uma tigela, mistura o açúcar e bate tudo por muito tempo, até a massa duplicar e ficar quase branca. A seguir junta a farinha, bate mais um pouco. Leva a massa ao forno, em lume médio, por 30 a 40 minutos (tem de certeza palitos de vários tamanhos para espetar no bolo, apreciando a cozedura).
Enquanto coze o bolo parte a tablete aos bocadinhos para dentro de uma panela pequena, junta o açúcar e o leite quase todo e um bocadinho de canela, deixa ao lume brando até derreter o chocolate, mexendo. Bate as gemas com uma colher de pau e mistura o resto do leite, deitando depois no chocolate derretido para engrossar, mexendo sempre. Quando está quase ferver, junta o licor e desliga o lume.
Logo que o bolo se apresentar cozido deixa-o arrefecer um pouco, desenforma e parte-o ao meio, para poder rechear com a papa de chocolate. Junta as duas metades e cobre-o com a papa sobrante. Nesta altura já a excelentíssima esposa deve ter regressado, preparadíssima para deglutir o bolo que amorosamente o queridíssimo fez.
Quem sabe as qualidades escondidas que terá o nosso ministro olheirento?
Tenho uma queda acentuada para o disparate, mesmo quando pretendo seguir à risca as pisadas dos rituais domésticos, familiares, de enraizamento social e místico-urbano-cético-religioso. Cabrito assado não é coisa para principiantes. Matrona cinquentona não se amedronta por tão pouco. Meio cabrito (cerca de 3 Kg) esquartejado, um rim, a cabeça pela metade (o que bastante me atormenta, com miolos à mostra), de marinada em vinho branco e tinto, um pouco de vinagre, muito alho, tomilho, alecrim, pimenta moída, pasta de pimentão (marca pingo-doce), sal e azeite, de um dia (ontem à tarde) para o outro (hoje até às 11.30h).
Mas a minha ambição culinária, que só cresceu desmesuradamente após horas de MasterChef Austrália, não se ficou pelo prato principal. Na calha estava torta com recheio de ovos, pedido especial cá de casa (penso que acharam que era melhor jogar pelo seguro).
O despacho é a chave da boa cozinheira. Forno a aquecer a meio-gás; calda de açúcar (200g de açúcar para 100ml de água) a adquirir ponto ao lume, com um pau de canela; 6 gemas e 2 claras misturadas com uma colher de pau – tudo a andar e bem controlado. Subitamente apercebo-me que o ponto pérola se transformou em pedregulho espesso e borbulhante. Retiro o tacho do lume e, muito cuidadosamente, começo a verter a pasta de ovos. De imediato cozeram, não em fios mas em meadas. Suspendo a função e resolvo que é necessário juntar água. Mal coloquei um bocadinho…. deu-se a solidificação repentina e irreversível do preparado, que se transformou num cimento esbranquiçado.
Na natureza nada se perde, tudo se transforma – ao lume outra vez, com mais um bocadinho de água. Lá ferveu em ponto de pérola. Retirei do lume e deixei arrefecer, enquanto pincelava a forma da torta com manteiga e polvilhava de farinha. Só que havia um ligeiríssimo contratempo: a farinha era pouca para a torta. Nada que me fizesse desistir desta empreitada. Escorripichei os bocados de farinha de trigo, de milho e maisena, conseguindo angariar os 75g para os 150g de açúcar e os 3 ovos que bati até tudo ficar cremoso.
Massa para a forma, no forno durante 10 minutos. O tempo à justa para tentar, de novo, misturar os ovos com a calda já mais no ponto que lhe competia. Desta vez correu bem. Mas tive que passar tudo por um passador, depois de ter engrossado ao lume. Depois da massa cozida, deitei-a para um pano com açúcar, pintei-a com o recheio de ovos e enrolei-a. Mas a massa não cooperou e partiu-se por 2 vezes. O aspeto, portanto, não era dos melhores.
O cabrito foi assar no tabuleiro do forno, com a marinada, 4 bocados de banha e regado com xarope de ácer, onde permaneceu por 1:30h,voltado sobre si mesmo por 2 vezes (de 30 em 30 minutos). As batatinhas com casca, meio cozidas já antes de se lhe juntarem, assaram por 15 minutos. Acompanhei ainda com brócolos, porque não encontrei couves de Bruxelas. Do dia anterior tinha sobrado meia travessa de tigelada (6 ovos batidos com 250g de açúcar e 2 colheres chá de canela em pó, aos quais se junta 500ml de leite aquecido com casca de 1 limão e 1 pau de canela, a cozer no forno alto – máximo - durante 45 min numa tigela grande, de barro vidrado, de preferência, já aquecida e sem retirar do forno).
Custou mas valeu a pena – iguarias dignas das mais seletas e sofisticadas casas de família, com décadas, para não dizer séculos, de tradição, regadas a vinho - do tinto (Châteauneuf-du-Pape) - a preceito. Enfim, um almoço bem burguês, nada a ver com a síntese revolucionária de uma mente revoltada e em crise, a fazer jus à época das trevas que atravessamos.
Esta época do ano, cá em casa, é ocupada por inúmeras festas. Desde o Natal, passando por aniversários e pelo fim de ano, é um continuum de ocasiões para celebrar, com fim no dia de Reis.
A experiência, hoje, ficou-se por um bolo de chocolate com laranja.
É claro que ficou ex-tra-or-di-ná-rio-o. A ideia de o besuntar com chantilly era maravilhosa, mas devia ter esperado que o bolo arrefecesse totalmente. Assim ficou tristemente derretido e não lhe fazia falta nenhuma.
Experiência coroada de êxito. A repetir (sem o chantilly).
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