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Os cravos que inventamos

por Sofia Loureiro dos Santos, em 25.04.25

van gogh carnations.webp

Vincent Van Gogh

 

Tenho uma casa assombrada

Pelos ecos do passado

A verdade abandonada

O poema censurado

 

Tenho uma casa cinzenta

Com ramos de realidade

Onde se guarda e sustenta

O fogo da liberdade

 

Tenho uma casa encantada

De armas que se calaram

De ventos na madrugada

De mãos que não se negaram

 

Tenho uma casa encarnada

Para quem quiser entrar

Seja o fim da caminhada

Seja a voz a desfilar

 

Tenho uma casa vestida

Dos cravos que inventamos

Flutuam pela avenida

No futuro que criamos

 

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publicado às 14:51

Alfazema

por Sofia Loureiro dos Santos, em 18.04.25

Lavanda 1.jpg

Alfazema

1.

Concentrar a vida em alfazema

A sua cor perfume capacidade de serenar

A possibilidade de encher o vazio instalado

A metade que falta de colorir a inquietude

E o negrume das sombras

Concentrar a vida nas pequenas e fugazes

Alegrias no abraço inesperado nas raras sensações de realização

Janelas e suaves cantares de aves

O murmúrio aconchegante de outros ocupando lentamente

A aridez à minha volta

Concentro-me em respirar

Na cumplicidade muda

Da flor

 

2.

São sinais de roxo mantos

Lençóis de penitência

No pecado do esquecimento

É preferível o vermelho da liberdade

O verde da aventura

Nem roxo nem paixão

Aventura

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publicado às 16:05

No mar

por Sofia Loureiro dos Santos, em 29.05.24

underwater sculptures.JPG

Jason deCaires Taylor

 

Alargo no peito os abraços do mar

Dissolvo no sal as angústias de ser

Nas ondas da vida o cansaço de dar

Nas dobras do medo o soluço de ver

 

Não tenho do tempo uma agenda guardada

Nem marcas carícias ternuras ou cardos

Aceito do vento essa voz torturada

De ramos e pombos que crio e resguardo

 

Os dias são poucos mas tantos sinais

Na terra nos corpos nas almas distantes

Que faltam que sobram que prendem demais

Gritos solitários de velhos amantes

 

Alargo no peito o cansaço da vida

Dissolvo no tempo o soluço de amar

Nas ondas do mundo já estou de partida

Nas dobras do vento afundo no mar

 

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publicado às 18:17

Limão

por Sofia Loureiro dos Santos, em 10.09.23

limao espremido.jpg

Sinto que a vida me vai espremendo

como a um limão

transformando-me numa casca dura e seca

azeda e ácida

sedenta da frescura de uma rodela

em dias de Verão.

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publicado às 10:37

A chave

por Sofia Loureiro dos Santos, em 03.07.23

Pinheiros Hasegawa Touhaku.jpg

Pinheiros

Hasegawa Touhaku

 

A minha mãe vai buscar

O meu anel de noivado

Para que possa enfeitar

O meu amor de brocado

 

A minha mãe vai soprar

As folhas envelhecidas

As aves vão recriar

Melodias esquecidas

 

A minha mãe vai benzer

Bordados que nunca fiz

A fome de bem-querer

Os muros que nunca quis

 

A minha mãe vai guardar

A chave que não me entrega

No cofre do seu olhar

O canto que me sossega

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publicado às 17:01

Vertigem

por Sofia Loureiro dos Santos, em 01.07.23

GaryChristian_IsThereHope.jpg

Is There Hope

Gary Christian

Saboreio a solidão
Como um abraço de mar
Perco-me na imensidão
No delírio de afundar

Cubro o mundo com o véu
Que inventei só para mim
Entre os olhos e o céu
Uma fronteira sem fim

No vício desta vertigem
Que me faz voar por dentro
Concentro-me na origem
Buraco negro no centro

Vou morrendo nesta luz
De um silêncio que arrebata
Uma ausência que seduz
Um nó górdio que se ata

Pode ser que venha a paz
Manto seguro e constante
Com que a alma se desfaz
Num futuro já distante

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publicado às 08:15

Arraial

por Sofia Loureiro dos Santos, em 11.06.23

Alcindo-Barbosa.jpg

Alcindo Barbosa

Não há santo que nos valha

Nem demónio que nos tente

Pois a sorte que nos calha

Está no fado que é da gente

 

Está no fado que é da gente

E no sol que nos aquece

Na saudade que desmente

O que a alma não esquece

 

O que a alma não esquece

Na memória que há da terra

Na viagem que merece

O saber que o mar encerra

 

O saber que o mar encerra

Na vida que o tempo traz

No sonho que me desterra

No vento que me desfaz

 

No vento que me desfaz

Nos braços do meu País

Na casa que colhe a paz

Do mundo que sempre quis

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publicado às 17:32

Cordeiro

por Sofia Loureiro dos Santos, em 06.04.23

 

sheep-lambs-mosaic.jpg

Mosaico

Museu Glencairn

 

Nesta roda mal rodada

Que com penas nos depena

Pelo tempo depenada

Com suspiros mas sem pena

 

Hora agora que rezamos

Aos fiéis de pacotilha

As mãos postas que mostramos

Santa cruz na gargantilha

 

Não nos chegam os pregões

Nem os joelhos no chão

Amealham-se os sermões

p'ra futura redenção

 

Toca o sino e o badalo

Pasta o cordeiro de leite

Dorme o burro e canta o galo

Não há deus que se respeite

 

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publicado às 15:47

Vida

por Sofia Loureiro dos Santos, em 01.04.23

poison.jpg

Alexander Iv Ivanov

 

Um pequenino veneno quotidiano

lento e seguro

remoendo memórias e espanto.

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publicado às 18:03

Se eu fosse à terra do bravo

por Sofia Loureiro dos Santos, em 17.11.22

acores.jpg

Fritz Bultman

 

Se eu fosse à terra do bravo

Se eu fosse à terra do bravo

Bravo meu bem

Sem a tua companhia

Bravo meu bem

Sem a tua companhia

 

E de lá viesse cravo

E de lá viesse cravo

Bravo meu bem

Para ver se alvorecia

Bravo meu bem

Para ver se alvorecia

 

Se as ondas que o mar estende

Se as ondas que o mar estende

Bravo meu bem

Nos braços da ventania

Bravo meu bem

Nos braços da ventania

 

No canto que se suspende

No canto que se suspende

Bravo meu bem

Com a tua valentia

Bravo meu bem

Com a tua valentia

 

Que seja de bravo e terra

Que seja de bravo e terra

Bravo meu bem

O amor que arrepia

Bravo meu bem

O amor que arrepia

 

No cravo da nossa guerra

No cravo da nossa guerra

Bravo meu bem

A espuma que nos sacia

Bravo meu bem

A espuma que nos sacia

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publicado às 17:11


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