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O meu amor é de pedra

por Sofia Loureiro dos Santos, em 15.09.24

tony cragg.jpg

Tony Cragg

 

O meu amor é de pedra

E mora no vento norte

Tal com a tristeza medra

No leito da sua morte

 

O meu amor é eterno

E mora na tempestade

Tal como o manto de inverno

Veste de branco a saudade

 

O meu amor já não parte

No lume da ventania

Tal como a min’ alma arde

Em permanente agonia

 

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publicado às 21:25

No mar

por Sofia Loureiro dos Santos, em 29.05.24

underwater sculptures.JPG

Jason deCaires Taylor

 

Alargo no peito os abraços do mar

Dissolvo no sal as angústias de ser

Nas ondas da vida o cansaço de dar

Nas dobras do medo o soluço de ver

 

Não tenho do tempo uma agenda guardada

Nem marcas carícias ternuras ou cardos

Aceito do vento essa voz torturada

De ramos e pombos que crio e resguardo

 

Os dias são poucos mas tantos sinais

Na terra nos corpos nas almas distantes

Que faltam que sobram que prendem demais

Gritos solitários de velhos amantes

 

Alargo no peito o cansaço da vida

Dissolvo no tempo o soluço de amar

Nas ondas do mundo já estou de partida

Nas dobras do vento afundo no mar

 

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publicado às 18:17

Domingo de Ramos

Prosas Bíblicas - Livro 3

por Sofia Loureiro dos Santos, em 24.03.24

Giotto_domingoramos.jpg

Giotto di Bondone

Cenas da vida de Cristo – Entrada em Jerusalém

Cappella degli Scrovegni

 

14.

 

Falareis da rosa como se soubésseis de espinhos

Cuidareis dos filhos para que morram sozinhos

Carregareis as pedras com que fareis os caminhos

Servireis a fome que alimentais de carinhos

 

Mas a cova que vos espera será de lama

Mas o templo que vos tenta será de vento

Mas o tempo que vos gasta será a chama

Que do espaço vos devora sem um lamento

 

Maria Sofia Magalhães

Prosas Bíblicas – Livro 3

Pág. 74

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publicado às 17:18

Acordes

por Sofia Loureiro dos Santos, em 10.09.23

El Pele

Vicente Amigo

Alberto Iglesias

Pedro Almodóvar

 

Ao longo da estrada

ouço a mistura dos sons e dos sentimentos

as luzes meio apagadas da manhã o nevoeiro

os cinzas e os riscos de vermelho que me acordam a alma

bato as palmas no ritmo do volante e

as cordas da guitarra arrepiam-me os dedos.

 

Tão tristes sinceros duros

os acordes desta estrada.

 

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publicado às 17:18

Limão

por Sofia Loureiro dos Santos, em 10.09.23

limao espremido.jpg

Sinto que a vida me vai espremendo

como a um limão

transformando-me numa casca dura e seca

azeda e ácida

sedenta da frescura de uma rodela

em dias de Verão.

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publicado às 10:37

A chave

por Sofia Loureiro dos Santos, em 03.07.23

Pinheiros Hasegawa Touhaku.jpg

Pinheiros

Hasegawa Touhaku

 

A minha mãe vai buscar

O meu anel de noivado

Para que possa enfeitar

O meu amor de brocado

 

A minha mãe vai soprar

As folhas envelhecidas

As aves vão recriar

Melodias esquecidas

 

A minha mãe vai benzer

Bordados que nunca fiz

A fome de bem-querer

Os muros que nunca quis

 

A minha mãe vai guardar

A chave que não me entrega

No cofre do seu olhar

O canto que me sossega

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publicado às 17:01

Vertigem

por Sofia Loureiro dos Santos, em 01.07.23

GaryChristian_IsThereHope.jpg

Is There Hope

Gary Christian

Saboreio a solidão
Como um abraço de mar
Perco-me na imensidão
No delírio de afundar

Cubro o mundo com o véu
Que inventei só para mim
Entre os olhos e o céu
Uma fronteira sem fim

No vício desta vertigem
Que me faz voar por dentro
Concentro-me na origem
Buraco negro no centro

Vou morrendo nesta luz
De um silêncio que arrebata
Uma ausência que seduz
Um nó górdio que se ata

Pode ser que venha a paz
Manto seguro e constante
Com que a alma se desfaz
Num futuro já distante

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publicado às 08:15

Arraial

por Sofia Loureiro dos Santos, em 11.06.23

Alcindo-Barbosa.jpg

Alcindo Barbosa

Não há santo que nos valha

Nem demónio que nos tente

Pois a sorte que nos calha

Está no fado que é da gente

 

Está no fado que é da gente

E no sol que nos aquece

Na saudade que desmente

O que a alma não esquece

 

O que a alma não esquece

Na memória que há da terra

Na viagem que merece

O saber que o mar encerra

 

O saber que o mar encerra

Na vida que o tempo traz

No sonho que me desterra

No vento que me desfaz

 

No vento que me desfaz

Nos braços do meu País

Na casa que colhe a paz

Do mundo que sempre quis

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publicado às 17:32

Cordeiro

por Sofia Loureiro dos Santos, em 06.04.23

 

sheep-lambs-mosaic.jpg

Mosaico

Museu Glencairn

 

Nesta roda mal rodada

Que com penas nos depena

Pelo tempo depenada

Com suspiros mas sem pena

 

Hora agora que rezamos

Aos fiéis de pacotilha

As mãos postas que mostramos

Santa cruz na gargantilha

 

Não nos chegam os pregões

Nem os joelhos no chão

Amealham-se os sermões

p'ra futura redenção

 

Toca o sino e o badalo

Pasta o cordeiro de leite

Dorme o burro e canta o galo

Não há deus que se respeite

 

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publicado às 15:47

Vida

por Sofia Loureiro dos Santos, em 01.04.23

poison.jpg

Alexander Iv Ivanov

 

Um pequenino veneno quotidiano

lento e seguro

remoendo memórias e espanto.

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publicado às 18:03


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