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Retrocesso civilizacional

O monstro desperto

por Sofia Loureiro dos Santos, em 05.07.25

erwin blumenfeld the-minotaur-or-the-dictator-pari

O Minotauro / O Ditador

1937

Erwin Blumenfeld

 

 

Tem sido muito rápido, o retrocesso civilizacional. Em poucos anos Portugal, um país de imigrantes, decide prescindir da Constituição, dos valores humanistas e da ética, tudo a que se comprometeu com a assinatura dos tratados que se interligam para uma sociedade de igualdade, de liberdade, de direitos humanos.

O que se tem passado em relação à discussão da lei da nacionalidade e dos estrangeiros, nunca se perdendo a oportunidade de associar emigrantes a violência e criminalidade, de induzir a distinção entre emigrantes ricos e pobres, entre etnias, etc., é a escalada da extrema-direita, que vamos assistindo a impor e manipular o espaço público, com a conivência dos media, que se transformaram todos em tablóides.

Trump deu o tiro de partida. O mundo a que chamamos civilizado abriu as portas aos sentimentos larvares de nacionalismo ultramontano, xenofobia, racismo e misoginia. Por todos os países esta ideologia alastra como fogo. Temos de o reconhecer e dizer sem medo, que o pudor e o horror aconselham. Não há que ter pejo em reafirmar a falsidade de todos estes discursos, ignorantes, fascistas, ultra-conservadores.

Não há dados que sustentem as percepções? Não faz mal, as percepções transformam-se em factos. Toda a retórica da extrema-direita vai minando, a pouco e pouco, a comunidade. Quem assim não pensa, remete-se ao estupor pelas ameaças explícitas de quem quer voltar à idade média. 

Hoje atingiu-se um novo patamar. No Parlamento (a partir dos 50:00), o inominável presidente do partido de extrema-direita referiu (a partir dos 52:04), de forma desrespeitosa e desprezível, nomes de crianças de uma escola pública, dizendo alto e bom som, que "são zero portugueses", após Pedro Delgado Alves ter nomeado grandes portugueses, mesmo que o não fossem de origem. O rancor, o ódio, a boçalidade, a grosseria, a alarvidade destes representantes do povo, são assustadores.

Mesmo que a maioria afirme e defenda um caminho, não é isso que lhe dá razão, que o diga Galileu Galilei, quando ameaçado de morte pela Santa Inquisição, ao defender que a Terra girava em torno do Sol e não o contrário.

Como disse Pedro Delgado Alves, um monstro foi acordado. Todos são responsáveis, os que o alimentam e os que se calam.

A História repete-se, inexoravelmente.

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publicado às 10:53


5 comentários

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De Olivier a 05.07.2025 às 12:22

Quando a barbárie se veste de discurso político, nunca é demais escutar a História.
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De Raul Pina Vicente a 06.07.2025 às 20:40

"El sueño de la razón produce monstruos", já ilustrava Goya em 1799. A natureza humana continua convenientemente dominada pelo seu lado animal e irracional, onde apenas a lei do mais forte impera inabalada desde sempre. Os que jogam limpo são espezinhados pelos que jogam sujo, porque o jogo está viciado desde o início, onde a ilusão de livre-arbítrio mantém adormecidos os que não concordam com as regras, como gatos de Schrödinger mortos-vivos no terrível medo de arriscar a sair da caixa.
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De Anónimo a 07.07.2025 às 13:15

Os portugueses devido ás sucessivas crises internas no país tiveram que imigrar lá para fora, não para um local especifico mas para esse mundo fora.

O que se passa agora em Portugal é muito diferente (e talvez inédito), está todo um mundo a vir para cá e sem qualquer controlo, quantas pessoas é que acha que o país aguenta receber, qual é o limite?
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De Sofia Loureiro dos Santos a 07.07.2025 às 14:27

Bom dia
Gostaria de saber que dados suportam essa afirmação ("está todo um mundo a vir para cá e sem qualquer controlo") e quais as fontes onde os recolheu. Gostaria ainda de saber qual a diferença entre andar pelo mundo, e escolher um só país. Há comunidades de portugueses por todo o mundo, resultado de emigrações de pessoas que fugiram à fome, ao desemprego e à ditadura.
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De Anónimo a 07.07.2025 às 16:46

Bom está nas noticias, se pesquisar no google, mas posso fazer um resumo.

Dizem que estamos a caminho dos 2 milhões de imigrantes, sabe-se que nós lá fora (por todo o mundo) temos cerca de 1.8 milhões de emigrantes, logo aqui há uma enorme diferença não foi de um dia para o outro que se chegou a esse valor, foram necessários 65 anos desde 1960, e essa emigração aconteceu exatamente pelo que referiu.

Com a imigração foi tudo muito rápido, no espaço de 6 anos, e que se saiba não são da ucrânia por causa da guerra, ou da palestina, ou de outros locais onde há litígios, é de onde calha e de várias dezenas de países diferentes, com culturas e línguas completamente diferentes.
E o sem controlo, porque não se sabe o que vêm para cá fazer, poderia haver uns estádios para construir como foi no euro 2004, mas que se saiba não é o caso.

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