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Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
O Minotauro / O Ditador
1937
Tem sido muito rápido, o retrocesso civilizacional. Em poucos anos Portugal, um país de imigrantes, decide prescindir da Constituição, dos valores humanistas e da ética, tudo a que se comprometeu com a assinatura dos tratados que se interligam para uma sociedade de igualdade, de liberdade, de direitos humanos.
O que se tem passado em relação à discussão da lei da nacionalidade e dos estrangeiros, nunca se perdendo a oportunidade de associar emigrantes a violência e criminalidade, de induzir a distinção entre emigrantes ricos e pobres, entre etnias, etc., é a escalada da extrema-direita, que vamos assistindo a impor e manipular o espaço público, com a conivência dos media, que se transformaram todos em tablóides.
Trump deu o tiro de partida. O mundo a que chamamos civilizado abriu as portas aos sentimentos larvares de nacionalismo ultramontano, xenofobia, racismo e misoginia. Por todos os países esta ideologia alastra como fogo. Temos de o reconhecer e dizer sem medo, que o pudor e o horror aconselham. Não há que ter pejo em reafirmar a falsidade de todos estes discursos, ignorantes, fascistas, ultra-conservadores.
Não há dados que sustentem as percepções? Não faz mal, as percepções transformam-se em factos. Toda a retórica da extrema-direita vai minando, a pouco e pouco, a comunidade. Quem assim não pensa, remete-se ao estupor pelas ameaças explícitas de quem quer voltar à idade média.
Hoje atingiu-se um novo patamar. No Parlamento (a partir dos 50:00), o inominável presidente do partido de extrema-direita referiu (a partir dos 52:04), de forma desrespeitosa e desprezível, nomes de crianças de uma escola pública, dizendo alto e bom som, que "são zero portugueses", após Pedro Delgado Alves ter nomeado grandes portugueses, mesmo que o não fossem de origem. O rancor, o ódio, a boçalidade, a grosseria, a alarvidade destes representantes do povo, são assustadores.
Mesmo que a maioria afirme e defenda um caminho, não é isso que lhe dá razão, que o diga Galileu Galilei, quando ameaçado de morte pela Santa Inquisição, ao defender que a Terra girava em torno do Sol e não o contrário.
Como disse Pedro Delgado Alves, um monstro foi acordado. Todos são responsáveis, os que o alimentam e os que se calam.
A História repete-se, inexoravelmente.
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