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Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
Quiet Whisper
Quinze anos se passaram desde que comecei este blogue. Quinze anos em que muito aconteceu e mudou, no mundo e em mim.
Olho para a realidade actual e pergunto-me em que medida fiz parte destes quinze anos, como terei eu participado, moldado ou sido moldada pelas torrentes que nos assolam diariamente, umas mais subterrâneas, outras mais transparentes.
Definhei, particularmente na cor com que olho para o presente e para o futuro. Vou emudecendo, de espanto e incapacidade de processar este novo anormal em que nos tornámos como comunidade. As convicções nos alicerces da liberdade e da democracia rudemente postas à prova perante tão avassalador ataque aos valores da justiça, solidariedade, independência, sabedoria, competência, humildade, todos aqueles que nos habituámos a associar à sociedade do novo milénio, em que o acesso à informação e à cultura, aos mais elementares meios de dignificação da vida seriam, pelo menos, mais alargados, em que a igualdade fosse mais espalhada.
Na verdade parece tudo estar a ruir. A inacreditável hipótese de reeleição de alguém como Donald Trump para a Presidência dos EU é assustadora. A falta de respostas dos sistemas democráticos, o deslaçar das sociedades, o aumento das desigualdades, da pobreza, da xenofobia, do racismo, com o consequente aumento dos populistas, é perigoso e parece não ter forma de ser detido. Os partidos da esquerda não têm sido capazes de dar respostas aos problemas cada vez mais urgentes e os totalitarismos já não são apenas larvares.
Na minha vida também aconteceram coisas muito boas. A internet tem lados negros mas é uma ferramenta poderosíssima no conhecimento, na informação, na criação de laços entre pessoas que, de outra forma, nunca se encontrariam. Conheci pessoas fantásticas, embrenhei-me em grupos, discussões, trocas de experiências, algumas negativas mas a maioria positivas. Estou mais velha mas fiz coisas diferentes e que nunca teria pensado fazer, tanto a nível profissional como pessoal. Publiquei 4 livros de poesia, mudei duas vezes de local de trabalho, participei na organização de vários eventos científicos, ri muito e chorei muito, zanguei-me muito, esperei muito.
Apesar do desânimo, sei que é passageiro. Espero ainda muito, de todos, mas principalmente de mim. Vai-se fazendo tarde e começa a faltar o tempo.
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