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Presos políticos em Espanha

por Sofia Loureiro dos Santos, em 14.10.19

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Els Segadors

 

A sentença do Supremo Tribunal espanhol, em que condenou à prisão os políticos que democraticamente lutam por aquilo em que acreditam, neste caso a independência da Catalunha, fez o impensável. Para Espanha defender ideias é criminoso, de tal forma que há condenações de 9 a 13 anos de prisão.

É inacreditável como pode isto ser possível no séc. XXI, dentro de um país da União Europeia.

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publicado às 18:17


14 comentários

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De Anónimo a 15.10.2019 às 10:28

Não conheço a Constituição Espanhola. Mas supondo que seja semelhante à Portuguesa no que à "unidade e integridade" do território nacional diz respeito, confesso que não estou a ver o que poderia o Estado Espanhol ter feito de substancialmente diferente. Imagine que o Dr Alberto João resolve promover o independentismo na Madeira, que organiza um referendo sobre o assunto, que proclama a independência com base nos resultados. Deveriam/poderiam os orgãos de soberania do Estado Português limitar-se a assistir ?

Cump.

MRocha
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De António Estrela Teixeira a 17.10.2019 às 14:32

Eu confesso-lhe que, contrariamente a si, estou a ver algumas coisas que o estado espanhol poderia ter feito de substancialmente diferente. E, ainda no domínio da imaginação, quando o vejo a descrever aquilo que o "Dr. Alberto João" poderia "promover" na Madeira, choca-me o que está subjacente ao seu raciocínio: que os madeirenses são uma manada de carneiros e que seguiriam cegamente as directivas do cacique local. Talvez não acontecesse assim, digo eu... Se o referendo fosse livre, talvez se desse o caso de os madeirenses não verem grandes vantagens em se tornarem independentes e o exprimissem nas urnas. É que essas coisas acontecem... Chamo-lhe a atenção, já que gosta de exemplos, que foi precisamente isso que aconteceu na Escócia em 2014, os independentistas perderam o referendo, apesar de ser o SNP que ali ocupava o poder. A Democracia às vezes pode ser misteriosa...
O que nos traz ao seu assunto inicial, aquilo que, mesmo desconhecendo a constituição espanhola, "não está a ver" que poderia ter sido feito de diferente. No meio de tantos "spin" noticioso, que realçam que os condenados o foram por ter organizado um referendo ilegal sobre a independência da Catalunha, há um "esquecimento" sobre o que é que poderia ter sido feito para a realização de um referendo LEGAL. Esse "esquecimento" é conveniente porque a resposta é que, ao contrário do que aconteceu com a Escócia ou com o Quebec ou com Timor-Leste, não há qualquer interesse de Madrid em negociar condições para que se realize um referendo legal na Catalunha. Mesmo que a causa independentista fosse derrotada - que seria o desfecho mais provável, se as sondagens estiverem certas - Madrid parece ter medo do precedente que a admissão do princípio desencadearia. E assim o assunto transformou-se num tabu.

E, encurtando outras oportunas considerações a respeito do tema, é esse o cerne da questão política da Catalunha: um impasse provocado pelos castelhanos que só está a servir para dar protagonismo aos extremistas dos dois lados.

Ou alguém dúvida, já que mostra gostar de analogias, que, se Londres tivesse conduzido a questão escocesa da mesma maneira que Madrid se está a conduzir quanto à Catalunha, não se arranjava também uma "rapaziada" para via "animar" as ruas de Glasgow?

Cumprimentos
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De Lobos disfarçados de cordeiros a 15.10.2019 às 19:34

Concordo com o comentário de MRocha.

Em Espanha tal como cá e em muitos outros países, quem viola a lei e se for crime é um preso da justiça, só a justiça pode mandar prender. A lei tem de ser igual para todos.

O que é inacreditável e como pode isto ser possível no séc. XXI, dentro de um país da União Europeia, é a opacidade que existe, é a dificuldade que existe em divulgar informação importante, é o que eu estou a mostrar no meu blogue e o comportamento de alguns, o silêncio dos bons.

E eu já comentei um post seu onde criticava o jornalismo, mas ignorou o meu comentário, ou pelo menos não respondeu nem foi ver o meu blogue.

Temos os nossos problemas, mas falam nos dos outros, destacam os dos outros, o que é insignificante.

O que é inacreditável são as prioridades invertidas, a preferência pelo que é insignificante, a ocultação do que é importante, as manobras de diversão, a manipulação.

O problema não é não saber, é não querer saber.
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De Sofia Loureiro dos Santos a 16.10.2019 às 10:50

O problema é precisamente esse: em Espanha é possível condenar pessoas por delito de opinião. Se os Tribunais fizeram a sua função, e eu também não conheço a Constituição espanhola, o problema é os tribunais terem essa função. Espero sinceramente, mas com pouca fé, que o Rei possa promover uma qualquer forma de indulto. Este é um problema político, não judicial.
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De João Pedro Pimenta a 22.10.2019 às 23:41

Não se trata apenas da sua opinião. Independentistas sempre houve, desde 1977, e nunca foram presos por defenderem determinada independência. Recorrer a um referendo ilegal (até por não preencher os pressupostos de uma eleição livre e regular) comporta um acto fora da lei. É bastante diferente de exprimir uma opinião.
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De António Estrela Teixeira a 24.10.2019 às 00:34

É "engraçado" esse seu jogo de palavras: os independentistas podem "defender" determinada independência. Mas não a podem "promover" por acções concretas (um referendo) porque essas, são "ilegais", e isso condu-los à prisão. Ora um ideal que se pode "defender" publicamente mas que não se pode "promover" por meios não violentos nesse mesmo espaço parece-me um contrassenso. Tanto mais que, repetindo o que já escrevi acima, se em contraponto ao "referendo ilegal", tivesse havido intenções em Madrid de criar condições políticas para que houvesse um referendo LEGAL, que fosse a tal "eleição livre e regular" de que fala, ainda se poderia falar de precipitação dos independentistas. Mas ambos sabemos que isso (um referendo legal), nas actuais circunstâncias, nunca existirá, não é verdade? É que eu lembro-me de o ter lido a escrever sobre o referendo na Escócia; e permita-me recordar-lhe parte do que então escreveu:

«Mas o referendo permitiu redemonstrar que no Reino Unido, a democracia e a livre opinião mantêm-se sólidas. A forma como tudo se desenrolou, a campanha, os argumentos, a inteira liberdade com que cada parte procurou convencer os eleitores, mostrou mais uma vez que aquele velho conjunto de nações é a democracia mais antiga, e provavelmente a mais sólida, do Mundo.»

É uma pena que em Espanha não esteja a ser assim, não acha?...
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De João Pedro Pimenta a 27.10.2019 às 23:35

O facto de que "não esteja a ser assim" não significa que não possa vir a ser. Sim, a Escócia teve esse referendo porque a coisa surgiu de um entendimento comum. Sim, o estado e vários órgãos de soberania de Espanha provavelmente cometeram vários erros, como a anulação do novo estatuto autonómico da Catalunha. Mas que eu saiba, estado algum admite que um governo de uma região proclame a independência unilateral, depois de uma votação que não cumpriu as regras elementares para um acto desta natureza e quando mais de metade do eleitorado se absteve, até por não concordar com os termos ou com a própria votação. Talvez porque pelo menos metade da população da Catalunha, no mínimo, não seja independentista. Acresce que as próprias normas parlamentares catalãs foram violadas para que se cumprisse o "referendo". Por isso sofre de várias ilegalidade, não de mero "delito de opinião". Aí residem as diferenças, meu caro António Estrela Teixeira.
Aliás, ainda este ano vi uma manifestação de independentistas catalães no coração de Madrid. Não consta que nenhuma deles tenha sido detido.
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De António Estrela Teixeira a 31.10.2019 às 01:20

Sinceramente, parece-me não fazer muito sentido estar a rebater os seus excessos de candura para com o futuro da questão catalã («não significa que não possa vir a ser assim») acompanhados de uma condescendência imerecida para com o comportamento de Madrid («o estado e vários órgãos de soberania de Espanha provavelmente cometeram vários erros...»).

Cometeram vários erros e, por eles, nunca irá ser como na Escócia, porque "provavelmente" vão continuar a cometer esses mesmos erros, que, para eles, não são "provavelmente" erros - o castelhanismo é aquilo mesmo: uma obcecação despropositada em fingir que a Espanha é homogénea.

E, na continuação da sua resposta, reparei que, tendo-se alongado em considerações várias sobre o seu hipotético resultado, desfavorável aos independentistas, especulação que nem contesto, evitou cuidadosamente aflorar os termos para a realização do tal referendo LEGAL de que eu falara, um que fosse equivalente ao da Escócia, o tal que tanto o entusiasmou em 2014.

É que no quadro legal espanhol a que se tem vindo a aferrar na sua argumentação, não há solução, nem parece haver vontade em Madrid que a haja. Só que a questão é política e as lições que eu vou tirando da História sugerem-me que a forma como estas questões se arrastam por resolver tendem a ter impacto significativo no desfecho final.

É bem verdade que, como escreveu, «estado algum admite que um governo de uma região proclame a independência unilateral». É um truismo. Mas, para lhe citar um exemplo histórico, eu tenho a ideia cândida que, se Londres tivesse aprovado um Home Rule até por volta de 1900, a história da Irlanda poderia ter evoluído de forma distinta da que se verificou, quiçá continuando a fazer parte do Reino Unido. É que, noto, nem todos os irlandeses começaram por pedir a independência unilateral do Reino Unido. Foi o extremar de posições que contribuiu para o desfecho de 1922. Não sei se conhece a história... mas asseguro-lhe que, com esta dinâmica, os independentistas catalães acabarão sendo liderados pelos equivalentes de Michael Collins e Eamon de Valera

Aqui, no caso da Catalunha, se quiserem continuar a olhar exclusivamente para o caso legal e a não fazer nada para a resolução política do problema, estão no seu pleno direito. Mas convençam-se que a não resolução do problema - e a resolução do problema não é deixá-los gritar à vontade sem os prender... - radicalizará ainda mais as posições e isso trará consequências. Porque, meu caro João Pedro Pimenta, e para lhe dar um exemplo que lhe será caro, amante de futebol que é: em 2002, um escroque de calibre que dava pelo nome de Jesus Gil y Gil, foi condenado pelo Supremo Tribunal em Espanha - na sua terceira condenação! - a seis meses(!) por um incontável número de desfalques. É comparar a "severidade" dessa sentença com as agora aplicadas aos políticos catalães.
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De João Pedro Pimenta a 04.11.2019 às 02:02

Começando pelo fim, não conhecia a história da condenação final de Gil y Gil, mas a pena deve ter provocado mais choque se contrastada com outras também de "colarinho branco": basta ver a pena do antigo tesoureiro do PP, Luis Barcenas, que apanhou com trinta e três anos de prisão. Bem maior do que os líderes independentistas condenados, além de que não consta que para já ele possa sair da prisão uns dias por semana.

Eu não fiquei propriamente entusiasmado com a possibilidade de independência da Escócia. Para dizer a verdade, torcia mais pelo resultado que se veio a verificar. A Catalunha é um caso ainda mais delicado. Não estamos propriamente a falar de uma imensa maioria oprimida que se opõe a Castela (e às outras regiões) e é bombardeada por blindados. Para uma consulta à autodeterminação convém preencher vários requisitos. Aliás, o entendimento de que uma tal mudança de status quo carece de uma maioria qualificada é defendida por muitos (como aconteceu com a independência do Montenegro, por exemplo, e que teria evitado a confusão do Brexit). Ora essa maioria qualificada não existe. Digo-o com base nas eleições mais recentes, sobretudo as regionais, e com o tal "referendo" de 2017, com todas as suas irregularidades e a abstenção que se verificou por razões maioritariamente de protesto. Podemos até considerar que a recusa de um novo estatuto autonómico, aqui há alguns anos, contribuiu para a confusão reinante. Mas agora, com "comités de protecção da república" em modo vigilante e todo um radicalismo que alastra do interior para o litoral, não me parecem nada reunidas condições para um referendo a curto prazo.

PS: como é óbvio, há também razões pessoais para a minha desconfiança ao independentismo catalão, como a hostilidade de alguns independentistas a Portugal e sobretudo o facto de conhecer catalães espanholistas, que passam as passas do Algarve por causa disso, até a nível administrativo.
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De António Estrela Teixeira a 04.11.2019 às 13:15

Começando por onde começou e eu acabara, os dois casos extremos e despropositados de benevolência e severidade do Supremo Tribunal espanhol que menciona, Gil y Gil e Barcenas, corroboram o quanto as sentenças são percebidas como casuísticas, por muitos argumentos que se evoquem de que existirá uma padronização política. As penas atribuídas aos políticos catalães foram as que foram, porque, tal como aconteceu com Barcenas, se quis passar um recado - político. Acredite nessa hipocrisia da legalidade quem quiser.

Em 2014, eu percebi para onde pendiam as suas simpatias quando do referendo da Escócia. Podemos falar desse assunto, sobretudo da reviravolta do argumento da pertença à União Europeia que entretanto ocorreu - terá havido quem votou Não para que a Escócia ficasse na União Europeia, e que agora, por causa do Brexit, vê a Escócia a sair da União... Mas não tem sido isso que eu tenho aqui debatido. É o processo como o estado central espanhol (capturado pelos castelhanos) tem conduzido as relações com as suas regiões. Ok para a sua opinião de que «para uma consulta à autodeterminação convém preencher vários requisitos». Mas não são muitos requisitos nem muito exigentes, pois não? Aqui há precisamente um ano, a França organizou um na Nova Caledónia (https://www.dn.pt/mundo/nova-caledonia-vota-contra-a-independencia---resultados-provisorios-10129118.html) - os independentistas perderam...

Sobretudo, ao reler aquilo que o João Pedro escreveu no final do seu segundo parágrafo, leio ali um perfeito ciclo vicioso; de que apenas se esqueceu de evidenciar um dos lados: é que, eu sou tentado a concordar consigo que não existirão actualmente condições para a realização de um referendo na Catalunha, mas não me iludo, porque também tenho a convicção que essas condições nunca aparecerão enquanto não houver perspectivas de se realizar um referendo. Parece-me evidente, já que organizado por Barcelona é ilegal, competiria a Madrid romper esse ciclo, suponho...

Só por ilusão e por não viverem na Catalunha é que os espanhóis do resto da Espanha pensarão que o impasse do "status quo" actual funciona a favor da "descrispação" da situação regional - já viu o que "dizem" as últimas sondagens sobre a votação da CUP? (https://www.elperiodico.com/es/politica/20191027/encuesta-elecciones-generales-cataluna-7702991) É por isso que outro dia lhe sugeri que desse uma leitura à evolução do nacionalismo irlandês dos séculos XIX e XX. É que, tomando aquele processo por referência, os seus conhecidos catalães espanholistas arriscam-se a vir a passar ainda muito mais passas do Algarve.
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De João Pedro Pimenta a 07.11.2019 às 00:17

Não estou tão certo de que os restantes espanhóis apostem na "descrispação", como lhe chama. É que assim como faz notar a previsível subida de votos na CUP, o aumento de intenções de voto no Vox funda-se em razões idênticas. E conhecendo o carácter de confronto e até a história recente - a pré-transição, pelo menos - tenho muitas dúvidas sobre esse espírito de conciliação.

Mas fixando-nos só na Catalunha, e mesmo tendo em conta o proverbial centralismo castelhano: porque é que teria de organizar um referendo de autodeterminação na Catalunha? Por causa apenas dos exemplos da Escócia, da Caledónia e do Québec (não ponho de propósito os do Montenegro, pela situação que se vivia, e menos ainda da Crimeia porque não o levo a sério)? També houve no País Basco? A França autorizou o mesmo na Escócia? Ou a Itália no Véneto, apesar de também ter tido a sua "consulta" não autorizada (https://en.wikipedia.org/wiki/2014_Venetian_independence_referendum)? Melhor ainda, dias antes da "consulta" catalã, houve um referendo de independência no Curdistão iraquiano, em que a maioria dos eleitores registados votou a favor. Não houve qualquer espécie de apoio a este território, que teve de se conformar com a hostilidade da Turquia, do Irão e do Iraque (este sim, um estado artificializado), e no entanto vai para cem anos que prometeram aos curdos, tal como aos judeus, um estado próprio, Aliás, sempre que vejo alguém a defender a autodeterminação de determinada região, é certo que está a defender a sua independência (cheguei mesmo a ler artigos no pós-referendo escocês em que se dizia que "os escoceses não quiseram a autodeterminação" como se fossem sinónimos), e no caso da Catalunha, isso não fugiu à regra. Por isso, acho que a obrigatoriedade ou a inevitabilidade do referendo está longe de ser um dado adquirido, e penso mesmo que a tentativa de realização em 2017, com as condições verificadas a que me refiro em cima, ainda dissuadiu mais essa ideia. E se o Supremo Tribunal espanhol está de má fé, o mesmo não se poderá dizer da Generalitat quando organizou o "referendo", passando a imagem de que fosse de que maneira fosse, com ou sem o apoio da maioria da população, haviam de ser independentes?
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De António Estrela Teixeira a 11.11.2019 às 10:59

No início do segundo parágrafo desta sua última resposta coloca-me uma pergunta a que não sei responder ("porque é que teria de organizar um referendo de autodeterminação na Catalunha?"). Não sei responder, mas sei que alguém em Madrid lhe poderá explicar porque a própria Espanha franquista organizou não um, mas dois referendos em 1963 e 1968, em preparação da "autodeterminação" da sua colónia da Guiné Equatorial. Talvez tenham uma "ideia" porque o fizeram... e será um "regalo" ouvir a explicação subsequente, porque é que, no caso da Catalunha, e apesar da Espanha actual se considerar muito mais democrática do que no tempo de Franco, é tudo MUITO "diferente"! Já se sabe que, numa discussão política, uma das partes NUNCA percebe a analogia apresentada pela outra.

Como se aperceberá, não há APENAS (enfatizando a sua expressão) os exemplos da Escócia, da (Nova) Caledónia e do Québec; há dezenas de outros exemplos, de que o da Guiné Equatorial é apenas aquele porpositadamente maldoso que fui recuperar - https://es.wikipedia.org/wiki/Refer%C3%A9ndum_de_autonom%C3%ADa_de_Guinea_Ecuatorial; https://es.wikipedia.org/wiki/Refer%C3%A9ndum_sobre_la_Constituci%C3%B3n_de_Guinea_Ecuatorial_en_1968 - para lhe mostrar as contradições oportunistas do discurso de Madrid quanto a isto de referendos, para lhe mostrar, mais uma vez, e como tenho vindo a insistir desde o princípio, que a questão da Catalunha é política, e que o alívio da tensão que ali se vive só pode vir a ser alcançado por essa via, nunca a via judicial.

Comprovando-o, ainda recentemente, evoquei no meu blogue o 20º aniversário do referendo sobre a transformação da Austrália numa república, um assunto aparentemente premente naquele país em 1999, adormecido desde então (http://herdeirodeaecio.blogspot.com/2019/11/a-republica-da-australia.html). Mas, repetindo um pouco o que já disse acima, também compreendo que as pessoas olhem para os exemplos evocados e só vejam as analogias que quiserem ver.

Por exemplo, não compreendo a relevância do exemplo do Curdistão, que evoca. O Curdistão está dividido entre quatro países vizinhos (Irão, Iraque, Síria e Turquia) e será preciso uma coincidência e uma sorte tremendas para que esses quatro países estejam numa posição de fraqueza simultânea para que o nacionalismo e a nação curda possam emergir. A Polónia teve essa tremenda sorte em 1918, quando a Alemanha, a Áustria e a Rússia estavam conjuntamente em baixo, e mesmo assim os polacos tiveram que sobreviver à tentativa de reanexação russa em 1920. O que se passa com a Catalunha é completamente diferente.

É um prazer conversar consigo, mas não nos dispersamos com coisas que não disse (eu não confundo autodeterminação com independência - https://herdeirodeaecio.blogspot.com/2009/02/autodeterminacao-dos-povos.html - e cinjamo-nos ao essencial do que nos tem feito "trocar bolas" nesta caixa de comentários: a questão do bloqueio ao referendo é, neste momento, um grande activo que os independentistas catalães (que ainda constituem uma minoria, ainda que muito sonora) continuam a brandir e que lhes confere ganhos de simpatia. E tem que ser Madrid a romper o impasse. Enquanto ele subsistir não há evolução de espécie alguma, nem sequer no estatuto da Catalunha e isso, estou convencido, até os mais obtusos em Madrid perceberão que é insustentável.

Nota: eu quando falei da "descrispação" não estava a referir-me àqueles espanhóis que dizem muitos "hoder" e têm muitos "huevos" e que fizeram ontem o Vox vencer em Múrcia. Estava a referir-me aos seus amigos que vivem na Catalunha, onde as animosidades inter-comunitárias se podem exprimir no dia a dia. Mais do que uma vez aqui me referi ao exemplo irlandês: sabe qual a origem da palavra boicote?
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De Manuel Gonçalves Pereira Barros a 20.10.2019 às 15:03

Lembro os bascos independentistas,garrotados em série, por Franco.
Os filhos e netos de Franco movem-se em Espanha,como os filhos e netos de Salazar se movem em Portugal.
Os avós foram,parcialmente,derrotados.Falta acabar o trabalho.
Mãos à obra,amigos da Liberdade !
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De João Pedro Pimenta a 22.10.2019 às 23:39

Os avós foram derrotados em Espanha? Quando? Se não estou em erro, venceram a guerra.
Se se refere ao referendo que estabeleceu o actual regime monárquico parlamentar espanhol, os derrotados foram não só os que queriam conservar os regime até então vigente como os saudosistas da república.
Dá-me a impressão de que o seu "acabar o trabalho" tem muito pouco a ver com a verdadeira Liberdade.

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Maria Sofia Magalhães

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