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Filas para o pão, para a caixa, para o jornal. Filas para o almoço e para o jantar. Filas de gente pacata e paciente, que assume o seu lugar com a naturalidade e a filosofia de inúmeros Verões no Algarve, com chapéu amolgado na cabeça, calções pingões, perninhas meio arqueadas, t-shirts de cor berrante e vários sacos pendurados nos ombros.
As filas não são comigo. Sofro-as porque não tenho alternativa, como não a há às melgas e suas mordeduras, com as consequentes borbulhas de comichão torturante. Mas não consigo ser paciente nem pacata nem tolerante.
Outra inevitabilidade são as marcações para o jantar, dos cafés de sandes e cervejas às pizzarias e marisqueiras. E mesmo naqueles restaurantes que há 2 meses nos recebiam de sorriso rasgado, arranjando mesas sem dificuldades, passam agora a fortalezas inexpugnáveis, por onde só se pode esperar na fila na porta da frente, mesmo que se vejam variadíssimas e extensíssimas mesas vazias no interior. Ou aqueles outros lugares onde, não tendo marcação agendada, temos lugar nas mesas ao pé do caixote do lixo, ou na cozinha.
Mas há alturas de sorte, em que pequenas dádivas aparecem sem se fazerem esperar.
Subimos umas íngremes escadas, com esperança de poder comer qualquer coisa no terraço. Sem perguntar pela marcação, um jovem muito simpático e bonito aponta-nos uma mesinha mesmo à beira do varandim, com vista para a praia. Rapidamente vieram as bebidas, depois a comida, tudo acompanhado por um brasileiro armado de violão, com um reportório maravilhoso e uma voz a sério. No fim o pagamento merecido e as palmas solitárias, mas sentidas.
Serenidade.
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