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Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
Fiquei a saber da existência de um grupo de médicos, enfermeiros e psicólogos que se intitula Médicos pela Verdade Portugal ao ler este artigo do Público, que dá conta do levantamento de processos disciplinares a 7 médicos pela Ordem dos Médicos, o que me deixou indignada.
Independentemente de concordar ou não com muito do que lá se diz, não consigo acreditar que no nosso país se levantem processos disciplinares contra quem discorde da linha oficial do combate à pandemia, com muitos e bons argumentos científicos.
O debate científico tem que ser isso mesmo - ciência e não ideologia. A politização da pandemia é de tal forma disparatada que não se consegue ter uma conversa normal e produtiva sobre o assunto. Se se concorda com o uso indiscriminado de máscaras, nomeadamente ao ar livre, confinamentos e restrições sociais, é-se de esquerda e do lado certo. Se se tenta discutir e levantar dúvidas a esta estratégia, está-se do lado errado e é-se de ultra-direita.
De vez em quando aparecem entrevistas que tentam remar contra a maré do pânico e do desnorte, como a de Jorge Torgal e a de Henrique de Barros. É indispensável que o governo se foque em desdramatizar e acalmar a população, de forma a tentar que as consequências do combate à pandemia sejam o mais possível minimizadas. O regresso à actividade é premente, numa tentativa de recuperar tudo o que ficou suspenso durante estes últimos meses. As cirurgias, tratamentos, rastreios, consultas de acompanhamento dos vários tipos de patologias, desde as oncológicas às cardio-vasculares, têm que ser retomadas sob pena de assistirmos à degradação dos indicadores de saúde do país.
Não desvalorizo a importância do combate à pandemia. Mas não podemos esquecer tudo o resto - outras patologias, o deslaçar dos laços sociais, a degradação do emprego, da economia, o aumento da pobreza e da desigualdade com o consequente e previsível aumento da conflitualidade social. Felizmente a realidade da gravidade do vírus é menor do que a que se previa, no início.
Não quero acreditar que, no meu país, esteja de volta a Inquisição, portadora da verdade indesmentível e indiscutível, calando a voz de quem, honesta e cientificamente, tenta dar alternativas.
Após este texto, ninguém precisa de me delatar nem de me acusar. Aguardo serenamente a ideia de ter um processo disciplinar à minha espera.
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