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Os novos inquisidores

por Sofia Loureiro dos Santos, em 22.10.20

Condenada por la Inquisicion.jpg

Eugenio Lucas Velázquez

 

Fiquei a saber da existência de um grupo de médicos, enfermeiros e psicólogos que se intitula Médicos pela Verdade Portugal ao ler este artigo do Público, que dá conta do levantamento de processos disciplinares a 7 médicos pela Ordem dos Médicos, o que me deixou indignada.

Independentemente de concordar ou não com muito do que lá se diz, não consigo acreditar que no nosso país se levantem processos disciplinares contra quem discorde da linha oficial do combate à pandemia, com muitos e bons argumentos científicos.

O debate científico tem que ser isso mesmo - ciência e não ideologia. A politização da pandemia é de tal forma disparatada que não se consegue ter uma conversa normal e produtiva sobre o assunto. Se se concorda com o uso indiscriminado de máscaras, nomeadamente ao ar livre, confinamentos e restrições sociais, é-se de esquerda e do lado certo. Se se tenta discutir e levantar dúvidas a esta estratégia, está-se do lado errado e é-se de ultra-direita.

De vez em quando aparecem entrevistas que tentam remar contra a maré do pânico e do desnorte, como a de Jorge Torgal e a de Henrique de Barros. É indispensável que o governo se foque em desdramatizar e acalmar a população, de forma a tentar que as consequências do combate à pandemia sejam o mais possível minimizadas. O regresso à actividade é premente, numa tentativa de recuperar tudo o que ficou suspenso durante estes últimos meses. As cirurgias, tratamentos, rastreios, consultas de acompanhamento dos vários tipos de patologias, desde as oncológicas às cardio-vasculares, têm que ser retomadas sob pena de assistirmos à degradação dos indicadores de saúde do país.

Não desvalorizo a importância do combate à pandemia. Mas não podemos esquecer tudo o resto - outras patologias, o deslaçar dos laços sociais, a degradação do emprego, da economia, o aumento da pobreza e da desigualdade com o consequente e previsível aumento da conflitualidade social. Felizmente a realidade da gravidade do vírus é menor do que a que se previa, no início.

Não quero acreditar que, no meu país, esteja de volta a Inquisição, portadora da verdade indesmentível e indiscutível, calando a voz de quem, honesta e cientificamente, tenta dar alternativas.

Após este texto, ninguém precisa de me delatar nem de me acusar. Aguardo serenamente a ideia de ter um processo disciplinar à minha espera.

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publicado às 11:32


1 comentário

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De Jaime Santos a 23.10.2020 às 15:14

Se calhar, aqueles que reclamam censura deveriam, também pela parte deles, fazer bem a distinção entre argumentos de índole científica e os que são de índole puramente ideológica, ou ética, se quisermos, dado que a clivagem nem sequer é necessariamente entre Esquerda e Direita:

https://acmedsci.ac.uk/more/news/navigating-covid-19-through-the-volume-of-competing-voices

Desconheço, até porque não tenho acesso ao artigo do Público, quais as acusações que são feitas as estes 7 médicos. Mas cabe notar que a opinião de um médico carrega muito mais peso do que por exemplo a minha.

Existem imensas dúvidas sobre a natureza desta doença, mas existe um consenso científico que se vai formando, fruto da investigação. Desse consenso faz parte a importância do uso de máscara, sobretudo para proteger terceiros (muito embora o seu uso incorrecto acarrete riscos para o portador da mesma, basta ver a quantidade de pessoas que a usam no pescoço, por exemplo), a importância dos testes e do rastreamento de contactos, o distanciamento social, o isolamento profilático, etc.

A impaciência das pessoas, mesmo o seu desespero perante uma empresa que vai à falência, ou um tratamento que se atrasa, ou um familiar idoso que fenece isolado num lar é compreensível mas cabe notar que se os contágios continuarem e os hospitais atingirem níveis de saturação, será necessário um confinamento geral de consequências ainda mais funestas.

Aconselho-lhe igualmente a entrevista serena dada por outro médico, Nelson Pereira, do S. João, esta semana à RTP3. Ele explica que este hospital retomou e conseguiu recuperar as consultas e cirurgias em atraso, mas se os casos de covid-19 continuarem a aumentar, então o retomar desse serviço dito normal terá que ser suspenso para dar combate à pandemia.

Neste processo, não há infelizmente balas mágicas, não poderemos seguramente retomar a nossa vida normal, provavelmente só muito depois de existir uma vacina eficaz...

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