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Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
Confesso que fui um pouco apreensiva assistir a este espectáculo. O meu gosto pelo fado passa mais pela rotura que Alain Oulman, com Amália Rodrigues, dando significado e expressão às palavras e aos poemas para além da beleza da música e dos trinados da guitarra e da voz que a acompanha, que se apodera de quem ouve num sentimento de doce e melancólica tristeza, dispensando a compreensão racional. Por outro lado tinha muita curiosidade em relação ao fado tradicional de Lisboa e às casas onde ele se canta, a solo ou à desgarrada.
O grande auditório estava repleto. A minha primeira surpresa surgiu ao ouvir as vozes poderosas e potentes de fadistas com mais de 70 anos. De repente, aqueles anciãos e anciãs, de fatos completos e xailes com lantejoulas, em penteados mais ou menos armados, em cima de uns saltos mais ou menos absurdos, com mais ou menos facilidade de locomoção, adquiriram uma presença e uma dignidade difíceis de descrever.
O dedilhar da guitarra soberbamente tocada, com o respectivo acompanhamento da viola e do baixo, aos quais se juntou um quarteto de violinos, elevando-se com o arranque das vozes moduladas, penetraram no corpo e na alma num enlevo que muito se assemelha ao que acontece com as mornas ou com o flamenco. Percebo bem o fascínio que o fado exerce, sendo um êxito em países cuja compreensão da língua é nula mas que comungam na apreciação da música e da voz, da guitarra e da quase magia que se instala, como uma névoa de um ópio invisível.
Obrigada a estes Mestres - António Rocha, Artur Batalha, Filipe Duarte, Nuno Aguiar, Maria Amélia Proença, Maria Armanda, Maria da Nazaré e Cidália Moreira. Foi uma noite verdadeiramente surpreendente.
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