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Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
Três Macacos Sábios
A mais subtil e invencível censura é a própria, tendendo a transformar-se em omnipresente. Impõe-nos um silêncio que se torna mais profundo e que abrange cada vez mais assuntos. E eu estou imersa na capacidade de me auto-censurar.
Ontem este blogue fez 17 anos. Tal como eu e tantas coisas que aprecio, nomeadamente a liberdade, está fora de moda. Discutir, trocar ideias, colocar opiniões à apreciação pública sem que estas sejam de imediato a razão de insultos, de assassinatos de carácter, do destilar de ignorância, preconceitos, ódio, desprezo, acusações, são conceitos datados e a cheirar a bafio.
Mas quando me revolto e resolvo empunhar a metafórica pena da expressão livre do pensamento, quando decido que vou opinar sobre as minhas pequenas e pouco importantes preocupações, ouço o nosso Presidente Marcelo Rebelo de Sousa a demonstrar que o silêncio pode ser mesmo de ouro, que as palavras devem ser medidas e escrutinadas pela nossa censura interior, que a prudência e a possibilidade de causar mais turbulência e ruído esdrúxulo devem ser muito ponderadas, antes de as proferirmos.
Aliás o nosso Presidente é o exemplo vivo da verborreia cada vez mais perigosa, da falta de filtros, do desbragar do disparate. Não percebo bem se o objectivo é provocar ou se é apenas um destemperamento irreprimível de alguém que nunca foi muito contido.
E por isso, tal como um sinal dos céus, desce de novo sobre mim o manto da censura impelindo-me ao calar da boca, mas mantendo os olhos e os ouvidos bem abertos.
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