Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
Javier Cercas continua a escrever sobre a Guerra Civil Espanhola. Mesmo não querendo.
Porque faz parte dele e parte da família dele. Porque faz parte de cada um dos descendentes de cada um dos mortos e de cada um dos sobreviventes da Guerra Civil.
Porque há o medo de descobrir e de encarar o horror de perceber que há pessoas dos dois lados da Guerra, pessoas com sonhos e com paixão e com idealismo. Porque há a necessidade de expurgar os fantasmas. Porque somos feitos de todos os bocados do que nos une e nos desune, do que nos enobrece e do que nos envergonha.
Porque a busca de um antepassado a que queremos colar uma figura de carne e osso, fazê-la emergir do passado, do esquecimento, da lenda, do mito, se impõe.
É uma viagem por dentro de Ibahernando, da Tierra Alta, da Batalha do Ebro, da sua família, de si próprio, em busca de Manuel Mena, seu tio-avô, que morreu pelos franquistas, integrado nos Tiradores de Ifni.
Javier Cercas é magistral na procura de um passado que teme, mas que o arrasta e engole. De um passado que o ensine a aceitar o presente e as contradições que se entrelaçam na nossa memória colectiva, na nossa condição humana.
Não tentes reconciliar-me com a morte, ó glorioso Ulisses.
Eu preferiria estar na terra, como servo de outro,
Até de homem sem terra e sem grande sustento,
Do que reinar aqui sobre todos os mortos.*
*Odisseia, Homero, Livros Cotovia, 7ª edição, Outubro de 2006, tradução de Frederico Lourenço
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.