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Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
Como tenho andado arredada destas lides de mares e maresias, de praias e areais algarvios, de modas veranis e de veraneio, pareço uma campónia embasbacada de cada vez que vejo algumas modernices, muito engraçadas umas, muito irritantes outras.
As bolas de Berlim passaram a ser uma miríade gastronómica variadíssima, com recheio de chocolate, caramelo e Nutella, bolas de alfarroba, beterraba e Spirulina (!!!!) – devem ser as variantes saudáveis e ecológicas. Não se vê ninguém a vender gelados, nem batatas fritas, nem água, sequer, mas as línguas de sogra ainda resistem.
As duas peças dos biquínis já não precisam de combinar na mesma cor e padrão. Agora podem ser totalmente diferentes, o que é uma forma de, comprando-se apenas 2 terem-se 4 biquínis diferentes! As alças passaram a ser uma só - aqui compartilham a moda com os fatos de banho.
Os vendedores ambulantes trocaram as estatuetas negras de pau negro (ou engraxado), os óculos e as bugigangas de contas, por grandes tapetes fininhos que, agora, substituem as antigas toalhas de praia. É vê-los aos magotes na praia, repetindo a palavra barato, com uma montanha de tapetes ao ombro. Há um vendedor que arrasa os meus nervos e os meus ouvidos todos os dias, inúmeras vezes, pois grita a plenos pulmões e canta uma cantilena vagamente parecida com o Guantanamera, importunando os outros veraneantes que, ainda por cima, ao contrário de mim, lhe acham graça. A verdade é que me parece ser o único a fazer negócio.
Mas há um mistério que me anda a intrigar e a preocupar, porque eu também tenho preocupações climáticas e ecológicas: o desaparecimento das melgas e mosquitos. Este ano e, se pensar bem, também no ano passado, os mosquitos deixaram de zunir como os aviões e desistiram de me picar. Lembro-me de passar as noites de Verão a matar mosquitos, amaldiçoando as picadelas, as borbulhas, os repelentes, as comichões, indissociáveis das férias.
Após aturada e aprofundada pesquisa na internet encontrei alguma explicação. Tanto quanto percebi a evolução dos mosquitos necessita de água e climas moderados. Climas muito frios não são favoráveis. Por isso a redução da chuva e, principalmente das acumulações de água, podem diminuir a proliferação dos mosquitos (pernilongos) e das melgas (as fêmeas).
Cá por casa acham que a explicação pela qual as melgas deixaram de me atazanar a paciência e a pele se liga com a minha crescente importância e imponência. É precisa muita paciência.
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