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Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
Mais uma vez reafirmo que não tenho opinião em relação às pretensões separatistas da Catalunha. Penso que têm todo o direito de querer e tentar a independência, no respeito pelos princípios democráticos e de liberdade de expressão de pensamento de todos os catalães.
Não me parece que o apoio ou a falta dele da União Europeia faça qualquer diferença. Na verdade a opinião das Instituições europeias não são confiáveis e variam conforme as conveniências da própria Europa. Todos nos lembramos das ameaças da União Europeia caso a Escócia escolhesse a independência, e do namoro explícito aquando do referendo do Brexit.
Aquilo a que assistimos no domingo, com as cargas policiais e a brutalidade da Guardia Civil sobre os catalães não tem desculpa, justificação ou perdão. E foi essa referência, esse reconhecimento e essa palavra de repúdio que faltou no discurso do Rei. Não esperava que deixasse de defender a unidade do Estado, a Constituição e a legalidade, acusando os separatistas de aventureiros perigosos e em rotura com a democracia e o Estado de Direito, mas o apagamento da repressão gratuita na Catalunha remeteu-o para um apoiante incondicional da facção centralista, protagonizada por Rajoy.
Na realidade todo este problema está inquinado pelos extremismos, o populismo e a fuga em frente. A verdade é que não sei quantos são os catalães que querem a independência. Não me parece ter havido igualdade de circunstância ou oportunidades para as divulgações e propagandas de ambas as partes, a consulta referendária foi um simulacro (participação de 43,03%) sem qualquer garantia de cumprimento das mais elementares regras democráticas.
Enquanto não houver serenidade e reconhecimento do poder central da necessidade de auscultar a opinião dos catalães, dando-lhes a possibilidade de referendar a independência a sério, tal como o reconhecimento das autoridades catalãs em querer saber verdadeiramente a opinião do seu povo, enquanto não houver compromissos de parte a parte, nada se resolverá.
Infelizmente o discurso do rei foi uma oportunidade perdida. Radicalizou os catalães já radicalizados e não condenou nem se afastou das soluções totalitárias e violentas de Rajoy. Penso que o Rei acabou por cavar mais fundo a sepultura da monarquia espanhola.
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