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Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
Há uma trilogia do realizador canadiano Denys Arcand, cujo primeiro filme é de 1986, o segundo de 2003 e o último de 2007, em que os títulos são para mim, a imagem dos EUA.
A inegável e estrondosa vitória de Trump nestas eleições convoca-nos para o que aí vem e para tentar perceber como foi possível chegar até aqui. Não faltarão explicações de comentadores e especialistas, políticos, politólogos e jornalistas. Para mim é incompreensível.
Como é possível um indivíduo que acicata o ódio, que é criminoso, vigarista, mentiroso, ignorante, racista, misógino, xenófobo, boçal, enfim, tudo aquilo que rasga, deslaça e divide as sociedades, tudo aquilo que estávamos habituados a considerar características inaceitáveis em qualquer ser humano, é eleito, pela segunda vez, Presidente dos EUA.
Que é feito dos valores de sã convivência que enformam o mundo ocidental do pós-guerra, o civismo, a cidadania, a humanidade, a solidariedade, a empatia, a defesa dos mais frágeis, a inclusão, a tolerância, a democracia, a liberdade? O mais assustador não é a existência de pessoas como Trump, é a quantidade de eleitores que nele depositam a sua confiança e nele votam, que concordam com o que ele diz, que comungam da sua ideologia. O mais assustador é observar, impotente, ao alastrar do trumpismo pela Europa e pelo mundo, assistir ao crescer e ao espalhar da extrema direita, cada vez mais forte e mais agressiva.
Putin e todos os ditadores que se prezam, tal como os seus aprendizes e admiradores, não tardaram a saudar a vitória de Trump.
Kamala Harris, ao contrário do que ouvi repetir vezes sem conta, não deixou de anunciar medidas concretas, não deixou de mostrar qual o plano económico que defendia, não deixou de pugnar pela decência, pela salubridade da vida e do serviço público. Os democratas lutaram, mas parece que já não há armas para vencer este tipo de batalhas.
Trump ganhou a Presidência, o Senado e o controlo da Câmara dos Representantes. Trump teve mais votos, no total, que Kamala Harris. Veremos o que vai acontecer nos EUA, na Europa e no resto do mundo.
Mas o título que me surge é mesmo A Idade das Trevas.
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