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Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
Sendo o último dia do ano é suposto dizer-se qualquer coisa inspirada, ou inspiradora. Fazer balanços de perdas e ganhos, esconjurar azares do ano que termina, vaticinar futuros imediatos e longínquos para o ano que começa.
Nada é mais previsível que a imprevisibilidade.
Mergulhados no quotidiano, no rotineiro e apagado romance das nossas existências, não temos tempo, nem ânimo, nem capacidade para ver além. A crise, a guerra, o clima, o fogo, a seca, as cheias, incertezas que se tornam certezas de tão constantes e iguais, ano atrás de ano. Sem sequer percebermos os momentos de felicidade, a sorte do acaso de termos uma vida sem grandes sobressaltos mas que nos parece sempre pouca.
Por isso nada tenho de grandioso para pensar ou dizer. Apenas que aqui estou, que continuo a amar e a torturar-me com o que não consigo resolver, a espantar-me com o que não sei e a maravilhar-me com o que posso aprender, a agradecer o amor dos que me querem, a dar-me toda a quem gosto, sem reservas nem promessas, a tentar fazer da minha vida alguma coisa de útil.
Solidariedade e abandono, solidão e resistência, talvez palavras cruas que me foram acompanhando nos últimos tempos, mas também entrega, esperança e amizade.
Amanhã é mais um dia que teremos que viver, pleno, como todos os dias do ano.
Bom 2023!
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