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Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
Se fosse historiadora, o que nunca poderia ser pela incapacidade memorial inata que tenho, gostaria de estudar a vida quotidiana das populações. Não sei se o que penso é a realidade - que a maior parte da História é feita com base nos documentos deixados pela minoria minoritária que pertencia às camadas sociais que detém o poder. Eu interesso-me particularmente pela massa anónima da população que se organiza numa comunidade e que se enforma numa identidade cultural.
A Mina de São Domingos é uma povoação que cresceu à volta da exploração mineira e da extracção de minérios, entre os quais o cobre, a prata e o ouro, que remonta à época romana e é redescoberta no séc. XIX.
Ao pé de Mértola, bem para dentro do Alentejo e junto à fronteira espanhola, o que facilitava bastante as rotas de contrabandistas, pode encontrar-se um enorme lago de águas ácidas e tintas, que cobrem a área correspondente à extracção de minérios a céu aberto. A cor da terra é indicativa da maior ou menor abundância em cobre.
Um dos antigos palácios dos ingleses está transformado numa estalagem, muito interessante e com muito bom gosto e num local privilegiado, junto a uma praia fluvial (praia da albufeira da Tapada Grande). O restaurante tem uma esplanada muito agradável e serve pratos regionais. O que experimentei ontem - uma sopa de cação - estava verdadeiramente divinal.
A povoação está organizada como que por arruamentos concêntricos, com ruas estreitíssimas entre as colunas de habitações. As casas dos mineiros são idênticas às casas de outros locais de exploração mineira, como em Inglaterra, por exemplo.
A 2ª feira não é um bom dia de visita por estas bandas. Tanto na Mina de São Domingos como em Mértola, está tudo fechado. O castelo está fechado, a casa museu está fechada, os restaurantes estão fechados. Subindo e descendo as íngremes ruelas de Mértola, sob um sol inclemente, acabámos por ir ter a um restaurante que se chama O Repuxo. Comi achigã grelhado, que estava uma delícia, não antes de ter provado a tentação de queijo e chouriço que nos colocaram na mesa. O melão com que terminámos a refeição era doce e fresco.
Não sei muito bem o que faz ali um outro restaurante onde entrámos, à procura de uma sombra, que se chama Terra Utópica, com uma vista deslumbrante sobre o Guadiana, mas em que a sala de comida é interior, com uma carta composta por pastas, bifes panados e semelhantes, em várias línguas, com uma fandangada num volume insuportável. Não me espanta que estivesse vazio, estado a que regressou quando fugimos a sete pés.
Alentejo profundo, simpático, vagaroso e afável. As indicações na voz cantada e em gerúndio, tendo aprendido hoje a enrolar em vez de virar, são dadas com um sorriso e uma boa vontade contagiantes. Começaram bem, estes poucos dias de descanso.
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