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Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]

The Sorrow and the Pity
(versão com legendas em inglês)
Le Chagrin et la Pitié é um documentário com cerca de 4 horas, realizado por Marcel Olphüls, sobre a ocupação alemã de Clermont-Ferrand (1940 - 1944), durante a II Guerra Mundial.
Divide-se em duas partes - O Colapso e A Escolha. O realizador, entre entrevistas aos habitantes, a antigos soldados alemães, a membros da Resistência Francesa, depoimentos de várias personagens como Anthony Eden, Christian de La Mazière, Georges Lamirand e Pierre Mendès France e excertos de filmes da época, traça uma imagem extremamente incómoda da colaboração do regime de Vichy e da população da cidade.
De tal forma incómoda que o documentário (1969) foi distribuído para as salas de cinema em 1971 e apenas visto no canal FR3 em 1981, tenso sido recusada (censurada) a sua difusão até essa altura.
É muitíssimo interessante pelo que mostra do que é uma comunidade humana. A maior parte de nós tende a ajustar-se e a adaptar-se, fazendo a sua vida sem perguntar, sem querer saber, encontrando justificações para que aquilo que considera ser a sua segurança não desapareça.
Tantas vezes o nosso silêncio e a nossa incapacidade de reagir permitiram e permitem as maiores atrocidades. Mas nenhum de nós as entende como tal enquanto as vive.
Por isso os julgamentos que fazemos da mole humana é enviesada por aquilo que gostaríamos de pensar que faríamos nas mesmas circunstâncias. Por isso percebemos o quanto é artificial a divisão entre vilões e heróis. Não que eles não existam, mas somos nós mesmo que incluímos ambas as condições, e todos os cambiantes entre elas.
E não somos diferentes hoje do que éramos nessa altura. Os apoiantes das ideologias totalitárias não acabaram a 1 de Setembro de 1945, o anti-semitismo não terminou com a libertação dos campos de concentração.
A História, os movimentos das ideias, os comportamentos sociais são muito complexos. E aí está o reacender dos ódios raciais e dos totalitarismos.
O medo.
Nota - Publico o comentário de A. Teixeira que é de todo pertinente:
Convirá talvez esclarecer melhor no terceiro parágrafo que, depois da sua exibição nas salas de cinema, a primeira transmissão do documentário por televisão, no terceiro canal da televisão francesa só teve lugar doze anos(!) depois da produção do documentário.
Esse canal (FR3) era tradicionalmente o que possuía as menores audiências dos três (TF1/A2/FR3) que existiam então em França. Mas nas duas noites em que o documentário foi transmitido a FR3 tera tido uma audiência estimada entre 15 e 20 milhões de telespectadores. (A França contava então 54 milhões de habitantes) Podia ter havido uma grande dificuldade em transmitir o filme, mas revelou-se que havia uma enorme curiosidade em vê-lo.
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