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If I can stop one heart from breaking,/ I shall not live in vain;/ If I can ease one life the aching,/ Or cool one pain,/ Or help one fainting robin/ Unto his nest again,/ I shall not live in vain. [Emily Dickinson]
Alastra a onda de neofascismo, radicalização dos valores de direita ditatorial, xenófoba, racista, com desprezo e marginalização das minorias, pela liberdade de expressão e pela democracia. Não só nos EUA, como no Brasil, também em Portugal, quando ouvimos e lemos que há pessoas que têm menos direitos que outras, devemos perceber que a democracia não é uma conquista eterna.
Ao contrário do que se pensava, a globalização e democratização do acesso à informação, a facilidade de divulgar ideias e pensamentos, não nos fez mais cultos e mais críticos, apenas aumentou exponencialmente a nossa capacidade de nos entrincheirarmos e de multiplicarmos preconceitos, raiva e medos, desaparecendo o pudor e a vergonha de explorar e expor os nossos mais escuros pensamentos. O que era indizível passou a ser bandeira.
Sempre fui contra o politicamente correcto, no que isso significa de patrulha autoritária de comportamentos e no que isso leva a bulling social. Fui ultrapassada pelos que, aproveitando esse posicionamento ideológico, o reverteram e travestiram de ataques de ódio e de raiva, apelos ao racismo e à xenofobia, com discursos de incitamento à violência.
A eleição de Trump parece ter aberto uma caixa de Pandora, apesar de não ter sido a primeira nesta onda de extremismo de direita. Mas de alguma forma destapou-se uma nuvem de pragas para que muitos de nós não estavam preparados. E não podemos ignorar o que isso diz de nós próprios, como a mole humana que aceita e elege estas criaturas como representantes e motores das nossas sociedades.
Os meios de comunicação tradicional têm, neste momento (como ouvi alguém dizer na RTP3), uma oportunidade para recuperarem da quase extinção, se souberem ser o esteio da informação rigorosa, se souberem fugir à facilidade e mediocridade do recurso às redes sociais e semelhantes, sem confirmação de fontes fidedignas, sem manipulação de factos inventados, para que os cidadãos possam ter a possibilidade de fazer escolhas informadas.
A mais que provável eleição de Bolsonaro é um susto e uma tragédia. Não consigo compreender como é que entre o alinhamento dos horrores, as pessoas elejam a corrupção, por muito destrutiva que seja, como um mal pior que o assassínio e a tortura, defendidos por aquele personagem. Resta-nos trabalhar para que tudo mude, todos os dias e incansavelmente, denunciando mentiras e manipulações, discutindo ideias, confrontando o que é diferente, apurando factos verdadeiros e não alternativos, percebendo que apenas o conhecimento e a luta contra os preconceitos, filhos dilectos da ignorância, nos liberta dos monstros em que todos nos podemos transformar. E nunca nos demitirmos nem alhearmos, nunca sermos silenciosos apoiantes do que nos destrói.
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