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Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
Por muito que a decoração esteja na moda, há sempre artigos que estão mais na moda que outros. E designs e concepts, tal como o afamado e omnipresente open concept que agora é apanágio de todas as obras de remodelação, em Nashville, Canadá, Austrália ou Portugal.
Cores garridas, toques de modernidade e de personalidade (o que significa deixar alguma coisa que lembre o clássico de há 30 anos), enfim, uma revolução total naquilo que era o nosso concept, normalmente mais close que open.
Pelo menos para mim. Aqui há dias espreitei um programa que se chama Casa Nova Vida Nova, em que um exuberante e feliz designer transformou uma sala totalmente clássica numa outra às riscas azuis, com cores tipo fato de marinheiro que, se fosse comigo, me levaria a um enfarte do miocárdio fulminante.
Além disso os open concept fazem-me sempre lembrar os grelhados a permanecer em toda a sala, a roupa a secar como decoração interior pós moderna e as vassouras e baldes como (pouco) atractivos adereços, para não falar na louça espalhada pelas bancadas e pelas ilhas.
Sou retrógrada, certo. Pelo menos para certas coisas.
Mas vou-me adaptando a algumas necessidades mais imediatas e mais práticas, tendendo cada vez mais para o minimalista. Em confinamento, no entanto, tudo tem acrescidos desafios. Desde que me montaram o bendito sommier que procuro incessantemente travesseiros, sejam eles de rolo ou mais achatados, para colocar à cabeceira da cama, ocupando o espaço entre o colchão e a parede.
Muito difícil está a tarefa. Há pouquíssimos travesseiros, mesmo que os sommiers sejam inúmeros. E os hotéis estão repletos de travesseiros e almofadões enormes. Mas online não consigo encontrar nada que me satisfaça. Ou há travesseiros sem fronha, ou as fronhas são muito maiores que os travesseiros, ou os almofadões não têm a dimensão correcta.
Obras, remodelações e mudanças dão cabo de mim. Nunca me apetece arrumar nada. Descobrem-se coisas que pensávamos perdidas, perdem-se outras que achávamos a salvo. A minha mesa de cabeceira, que não foi substituída, contém uns porta-retratos de há séculos que não consigo guardar. Vão ali ficando e pegando de estaca. Mas a verdade é que, por muito que pense que é desleixo, se calhar é o meu subconsciente a implorar-me para que alguma coisa faça a ponte entre o que era e o que agora é.
E não é nada fácil – ver o que fui, perceber o que sou e tentar encontrar um fio condutor entre ambas.
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