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Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
Finalmente a União Europeia decidiu com algum senso. Não digo muito porque a própria ideia de abrir um procedimento contra Portugal e Espanha por défice excessivo e o tempo que demorou até ao desfecho não fizeram nada bem, nem aos 2 países nem à própria União Europeia. Mas mais vale tarde que nunca.
Esta é uma vitória de António Costa e da Geringonça, em primeiro lugar, e de Marcelo Rebelo de Sousa em segundo. Tenho algum rebuço em parabenizar o trabalho de Carlos Moedas. Não percebo muito bem a entrevista em que se ufanou do difícil trabalho que tinha tido em convencer os seus Colegas - era o mínimo que se lhe exigia e, caso o resultado fosse o contrário, esperaria que se demitisse de imediato, tal como esperaria uma tomada de posição conjunta de todos os deputados europeus, em total repúdio. Mas enfim, está na moda a auto proclamação de importância e o auto elogio.
Estou convencida que o Brexit deu uma ajuda. Finalmente, tanto quanto é possível acreditar nas notícias que se lêem e ouvem, as cúpulas europeias terão percebido o inenarrável erro político de avançarem com penalizações, quando as populações nunca o compreenderiam e se afastariam ainda mais do que ainda se apelida de projecto europeu.
É também uma derrota de Passos Coelho, do PSD, do CDS e de todos os comentadores, analistas e jornalistas que, com ou sem mandato ideológico ou manobrista, fizeram uma autêntica campanha mediática endossando as inevitáveis sanções.
Mas claro que essa campanha de oposição sistemática e doentia contra o governo não acabou, nem acredito que tenha aclamado. Os jornais de hoje fazem eco dos inúmero problemas que antecipam, desde as medidas adicionais em 2016, com as sugestões da Comissão sobre o IVA, à monitorização trimestral das contas orçamentais pela Europa e à negociação do Orçamento de Estado para 2017 com o PCP, o BE e o PAN, com as manchetes da congelação salarial.
Ou seja: de fantasma em fantasma, a direita propagandista e revanchista vai somando garruços mas não desiste.
Que não desista também António Costa e a sua geringonça, que nós estamos a fazer o nosso papel - suspender a respiração pedindo que alguém não se coíba de nos resgatar a dignidade; a pedir-lhe que se lembre de medidas adicionais que penalizem aqueles que ganham com esta crise e com todas as crises; a aguentar os impostos (que não baixam), os parcos ordenados (que não sobem), as promoções nas carreiras (que não descongelam), o desemprego (que baixa muitíssimo pouco), e este calor insuportável (que não acaba).
Vamos a banhos e a refrescos com a alma um pouco mais descansada, mas nada de adormecimentos, que em Setembro voltarão as Cassandras da desgraça a gritar os próximos dramas.
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