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Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
É claro que o espalhafato que se está a fazer em relação às declarações de António Costa, numa cerimónia que, de outra forma, não teria tido provavelmente mais que umas linhas de fundo de página num jornal, não tem a ver especificamente com o que António Costa disse mas com o que António Costa (e o PS) não diz e deveria dizer.
A falta de iniciativa política, sejam quais forem os motivos, faz com que os pormenores mas disparatados sirvam para desviar as atenções do inexcedível desgoverno desta direita que nos governa (António Costa elogiou os chineses e a sua capacidade de permanecer num país em grande depressão económica; a diferença foi interpretada por Nuno Melo como para melhor, porque convém ao Nuno Melo que assim seja). Estamos todos à espera das ideias do PS e de António Costa, sobre os mais diversos assuntos e, como político que é, António Costa deve saber que a melhor atitude é ser ele próprio a lançar uma agenda de discussão. Por muito que se compreendam as cautelas e o sentido de Estado, que até são de elogiar, pois promessas miríficas e futuros risonhos já todos conhecemos, o PS e António Costa estão a perder o timing e estão a deixar o palco para os Caius Detritus que se multiplicam e aguardam ao canto de cada sala, escrevinhando palavras separadas ou não do contexto para chicana.
António Costa não tem que se queixar - por muito más que sejam, ele sabe que são estas as regras de um jogo muito viciado e muito sujo. A alternativa é ser ele a marcar a discussão com as ideias que vai lançando, sem esperar complacência da parte de uma comunicação social inculta e trivial, para quem as discussões semânticas são muito mais importantes que os conteúdos. E por isso tem que avançar, explicar, perguntar, não usando sms a tentar minimizar males interpretativos, mas a usar a tribuna de todas as maneiras que puder e souber com as suas propostas, o seu rigor, a sua exigência e a sua clareza - em todas as áreas. E não faz mal nenhum se elogiar algumas medidas do governo - rezemos para que, em 4 anos, alguma medida tenha sido positiva - mas para o dizer exactamente nesse sentido e nessa medida, com o tal sentido de Estado de que se apruma, e bem.
Enquanto o PS não impuser a sua agenda política continuaremos em banho Maria e a perder esperança, a perder eleitores, a perder o sentido da democracia. Que não se desculpe e não se justifique, que nos interpele e nos enfrente, que nos entusiasme e nos faça pensar.
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