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Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
É muito difícil decidir o que eu, caso fosse grega, responderia à pergunta que se faz hoje a todo o povo grego - aceito a proposta dos credores ou não aceito? Esta é a dúvida. No entanto toda a direita europeia a transformou numa noutra - quero ou não sair da União Europeia?
É claro que a primeira pergunta pode condicionar o resultado implícito na segunda. Pelo menos é isso que a direita europeia quer que todos sintam e receiem.
O medo. O medo de rejeitar uma política de empobrecimento e de destruição dos valores democráticos. Os países deixaram de ser donos do seu destino, as eleições para os parlamentos nacionais transformaram-se numa caricatura da democracia pois ninguém, nas mais altas instâncias europeias, tem a mínima intenção de respeitar seja o que for das escolhas eleitorais, caso elas não sejam consentâneas com a ideologia dominante.
O medo. É nisto que se baseia a relação entre as Instituições europeias e os povos que deveriam representar.
Olho para a minha forma de encarar a vida e sinto-me tantas vezes medrosa, tantas vezes de uma moderação que não cabe bem na minha natureza bipolar e impulsiva. Mas também sei que há alguns limites que, ao contrário de algumas figuras nossas conhecidas, não ultrapasso.
E esta é uma delas. Não é possível continuar a ignorar o atropelo democrático que se tem verificado na Europa, condenando os países e as suas populações à miséria, sem que tenham quaisquer hipóteses de mudar o seu destino. Gente hipócrita, que obriga nações inteiras a fingir que não existem ou nunca existiram, gente ignorante e arrogante, que vive em mundos paralelos sem contacto com a realidade, gente perigosa que decide o destino daqueles que, diariamente, contribuem com o seu esforço e trabalho para que haja alguma esperança de felicidade.
Por isso, muito provavelmente, se fosse grega, votaria hoje não. E tenho muita pena que as explicações do PS, que tenta a moderação sobre todos os assuntos difíceis, ao contrário da clareza e da assertividade, que tenta o equilibrismo quando se desejaria um mergulho, ou um salto, ou asas para voar, se enrede em palavras de circunstância, sem que ninguém perceba exactamente a sua posição. E isto é verdade tanto em relação à candidatura presidencial, como ao problema da Justiça, à herança dos anteriores governos de Sócrates ou à crise grega. Por medo.
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