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Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
Todos temos necessidade de encontrar justificações para as tragédias. Podemos culpar os deuses, a natureza, ou a incapacidade humana, seja ela de que tipo for, mas é-nos quase impossível aceitar o acaso ou o fortuito, o imprevisível, ou o previsível mas imparável, como a morte. Por isso é perfeitamente compreensível que as famílias dos jovens que morreram se questionem e exijam respostas, na tentativa de tentar compreender o incompreensível – a morte súbita, violenta e prematura de 6 jovens universitários. Como também é compreensível a tentativa da família do único sobrevivente em protege-lo e em preservar o mais possível a sua privacidade e recuperação.
Não consigo imaginar a dor e a revoltas das famílias dos que morreram, como não consigo imaginar a dor e os sentimentos de culpa do sobrevivente, tenha ou não tido responsabilidade na tragédia. Por isso tudo me arrepiam as notícias, as especulações e os julgamentos na praça pública que se estão a fazer em relação a tudo o que aconteceu. A comunicação social vai mantendo à tona o assunto, dando notícias a conta-gotas, de forma a alimentar na opinião pública a revolta e a condenação do sobrevivente, no pressuposto de que terá obrigado a qualquer coisa que tenha levado os colegas a afogarem-se. Não sei é verdade ou mentira, mas ninguém sabe e, no entanto, as opiniões chovem e as declarações multiplicam-se, com os familiares da vítima a serem arrastados a alimentar o festival.
Sou e sempre fui totalmente contra as praxes académicas, ou outras. Algumas das coisas a que chamam praxes não são mais do que actos de vandalismo e de violência que deveriam ser tratados como tal. É possível que tenha havida horríveis praxes, mas convém não especular, sem factos e sem provas, que terá sido esses actos que levaram à morte dos jovens. E é exactamente isso que todos, de uma forma mais ou menos velada, dizem.
Os familiares das vítimas têm direito a saber a verdade, o sobrevivente tem direito a ser respeitado, ouvido e, se for caso disso, julgado e condenado, mas em tribunais e por juízes, não nos jornais e nas televisões, sem direito a qualquer defesa, tal como tem direito a recuperar e a ser tratado do trauma provavelmente permanente que sofreu.
Podia ser qualquer um de nós nesta situação ou, pior ainda, qualquer dos nossos filhos. Convém que não tornemos a situação ainda mais horrível do que ela já é.
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