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Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
Leonardo da Vinci
Estive durante 3 dias num evento científico que, apesar do que escrevi anteriormente, foi muito bom, muito útil e muito agradável, embora intensivo, como todos os encontros, workshops, simpósios, conferências e cursos de anatomia patológica. Expuseram-se dúvidas, descobertas, truques para evitar erros e trocaram-se experiências, partilharam-se desconhecimentos e novas linhas de investigação.
Além disso, fizeram-me pensar nos paradoxos dos métodos e procedimentos que desenhamos para nunca falharmos nada, para que consigamos comunicar claramente na mesma linguagem, entre médicos de especialidades diferentes, para que a informação seja entendida e partilhada de forma completa e rigorosa. Mas tudo tem uma outra face.
Com esta tentativa de uniformização, detalhe e rigor, formatando os relatórios diagnósticos com as guidelines desenvolvidas para o efeito por agrupamentos de cientistas e superespecialistas nas várias áreas do conhecimento médico, mais especificamente anatomopatológico, deixamos de usar o sentido crítico, deixamos de pensar.
Os argumentos de autoridade nas várias matérias, construídos ao longo de séculos de uso do método científico, que levam à aceitação daquilo que é a verdade demostrada pelos peritos, como em todos os aspectos da vida, deve ser escrutinado por cada um de nós, sem medo de questionar e criticar, pois só assim as dúvidas suscitadas podem levantar outras e abrir espaço para investigação e saber.
A ciência alimenta-se de ciência e o que é hoje o estado da arte amanhã pode ser o contrário. Tudo isto é mais do que sabido. Mas isso é exactamente o resultado do método científico: observar, questionar, controlar, comparar, concluir.
Ainda bem que há gente que não se limita a seguir o que os outros dizem. É mais fácil e é mais seguro, mas conduz a grandes desgraças e distorções, não só na ciência. E quanto às chamadas terapêuticas alternativas, estas "são, por definição, coisas que não têm provas científicas sólidas. Qualquer coisa que tenha provas científicas sólidas deixa de ser uma terapia alternativa e passa a chamar-se medicina." E é indispensável discutir publicamente o charlatanismo, a indústria e os interesses económicos por detrás destas alternativas que, na verdade, não o são. A esperança média de vida e a qualidade de vida de hoje devem-se precisamente ao uso da ciência e do método científico. E os problemas que temos, nomeadamente ambientais, serão resolvidos com a ciência e não com crenças.
Mas para isso, vamos assumir a responsabilidade de exercitarmos a dúvida, a crítica, a verificação do que lemos, do que vemos, do que é fácil. Em tudo.
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