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Da sobrevivência da Pensão Estrelinha

por Sofia Loureiro dos Santos, em 26.10.14

Porto Praca_de_Carlos_Alberto.jpg

Uma das coisas de que gosto, quando vou a congressos e cursos fora da localidade onde moro, é a hipótese de me poder deslocar a pé, entre o hotel e o curso ou congresso, seja em Portugal seja no estrangeiro.

 

Neste momento temos várias ferramentas que nos ajudam a escolher o alojamento, que nos informam da localização precisa, do preço e das facilidades que oferecem aos hóspedes.

 

Animada destes princípios e com uma fé inabalável na internet e no rejuvenescimento da nossa oferta turística, que é muito melhor do que em muitos outros países com grande propaganda, procurei um local no Porto, onde pudesse, a um preço módico, ficar perto do Hospital de Santo António, onde iria decorrer o curso durante uns 4 dias.

 

Google maps e booking.com, duas indispensáveis ferramentas de que me socorro sempre nestas ocasiões, foram, mais uma vez, a resposta às minhas perguntas: na Praça Carlos Alberto, a 5 minutos a pé do Hospital de Santo António, um Hotel a 42,00/ noite, com pequeno-almoço e internet! Que mais poderia querer

 

Na estação de Campanhã, após uma viagem de comboio onde devorei The right attitude to rain, estranhei que o taxista não conhecesse o maravilhoso Hotel. Bem, mas lá fomos. A Praça Carlos Alberto é fabulosa, lindíssima e animada. Numa das pontas via-se uma porta com o nome do Hotel. Tive um instante de apreensão, ao ver a estreiteza da ombreira e a decadência da pintura, mas nada que encolhesse o meu optimismo.

 

Carregando a mala, franqueei a porta. Esperavam-me dois lanços de escada íngreme até ao 1º andar, seguindo as setas que indicavam a recepção. Esta constava de um balcão e de um senhor medianamente simpático, que me pediu a identificação, me indicou a sala do pequeno-almoço nesse andar (atrás de uma porta em mau estado reconheciam-se algumas cadeiras esquálidas). Quando me disse que o meu quarto era o número trezentos e qualquer coisa, no 3º andar, perguntei pelo elevador. Sorrindo o senhor medianamente simpático explicou-me que não havia. Ou seja, carreguei a mala por mais dois andares de escadaria tão íngreme como a anterior. A chave era uma chave verdadeira, amarelada, com a etiqueta do número pendurada; a porta do quarto era grande, pesada e abriu-se com bastante dificuldade. Lá dentro dei com das camas lado a lado, num quarto com as paredes mal pintadas, um chão de madeira corrida e que rangia, sem armário. A casa de banho tinha uma banheira xs, com uma cortina de plástico que já vira melhores dias, um chuveiro pendurado com uma cor baça e desocupada e, mesmo a um canto do tecto, sobressaía um termoacumulador, que aqueceria (ou não) a água do banho.

 

Bom, testemos a internet - funcionava. Procurei vários hotéis mas, tal como me tinham afirmado, o Porto estava repleto de turistas e não havia lugar em lado nenhum, com excepção do IBIS São João.

 

Telefonei e reservei um quarto para os dias seguintes. Quando fiz o checkout, o senhor medianamente simpático não perguntou nada, nem porque razão não aproveitava uma única noite. Concluí que não deveria ser a primeira pessoa a prescindir de tão humilde conforto.

 

Mas tive pena. Prefiro uma caminhada pela manhã e não preciso de grande estadão para passar as noites. Mas não é preciso exagerar. E bastava uma pequena remodelação para ser uma maravilhosa pensão Estrela, em vez de estiolar em Estrelinha.

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publicado às 15:03


2 comentários

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De António Pinto a 26.10.2014 às 22:01

“Désolé”, estimada Sofia Loureiro dos Santos. Sinceramente. Eu que paro tantas vezes na Praça Carlos Alberto a tomar café à noite, seja na própria praça ou no Piolho ali ao lado, fico triste por saber que teve uma recepção tão medíocre.

É certo que nunca procurei saber de alojamentos no Porto, por razões obvias, mas tudo faria para que tivesse uma chegada mais conforme com a hospitalidade que temos prazer de dar a quem nos visita.

Entretanto eu próprio tenho lastimado entre tripeiros, a incompetência e oportunismo com que muitas estruturas na hotelaria e restauração do Porto, sem qualidade, se aproveitam do incremento turístico, oferecendo serviços para os quais não estão habilitados. Então no cais de Gaia, lá onde têm sede tradicional os armazéns de vinho do Porto e que oferece uma vista excepcional, a maioria das esplanadas é um embuste para turistas e forasteiros. Uma pena.

A minha esperança é que a procura que gera oportunismo também gere exigências de qualificação. Veremos. E que conte com a minha disponibilidade desinteressada para colaborar numa próxima deslocação. Creia que há muito bons serviços no Porto, nessas áreas, embora os preços dos alojamentos em zonas privilegiadas como essa possam não ser baratos.

Ao dispor.
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De Sofia Loureiro dos Santos a 26.10.2014 às 22:21

António Pinto, que não fique a impressão de que não tenho sido bem acolhida no Porto, o que não é verdade, bem pelo contrário. Foi a única má experiência. E só aqui a refiro porque é mesmo muito anacrónica. De qualquer forma obrigada pelo seu oferecimento!

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