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Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
Via Sacra
Não sei porque tentamos sempre encontrar uma explicação ou um propósito para o que nos acontece, individual ou colectivamente. Olhamos para os factos e pensamos sempre num qualquer propósito, num determinismo natural ou divino que faz com que os transtornos da vida tenham uma qualquer justificação e um qualquer significado moral. Não acho que o homem mereça os castigos divinos, que as doenças sejam uma punição ou que as calamidades naturais sejam a vingança de um qualquer deus.
Não acredito nisso. Não acredito na revolta da natureza transformada em pandemia vírica, na nossa redenção como cidadãos melhores, mais disponíveis e mais solidários no fim deste confinamento forçado. Aliás temo pelo adensar de situações de conflito e de violência, pelo tédio e ansiedade, pela depressão e pela escassez de dinheiro, pela confusão e pelo barulho, pela incapacidade de isolamento ou pela inusitada solidão.
O que podemos e devemos é tentar aproveitar esta situação para repensar algumas prioridades, refazer alguns processos e procedimentos, inventar formas de nos mantermos minimamente sãos. Assim, quando formos libertados, poderemos apreciar a vida mais livres e mais felizes.
Porque tudo isto há-de passar e seremos outra vez responsáveis e irresponsáveis, alegres e tristes, solidários e egoístas, como só os seres humanos sabem ser. E havemos de poder abraçar, apertar as mãos, beijar e mimar, quem nos apetece. E não haverá deus pequeno ou grande que no-lo possa impedir.
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