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Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
A descredibilização da informação institucionalizada, tal como nos habituámos a concebê-la – jornais, rádio e televisão – é gravíssima. Qualquer notícia sistematicamente divulgada levanta de imediato suspeitas de manipulação. Isto vem a propósito da barragem mediática a que temos assistido em relação à TAP. Desde há uma ou duas semanas que todos os dias nos aparecem avarias, falhas, atrasos, problemas com os aviões, com os pilotos, com os sindicatos, enfim, repentinamente a TAP passou a ter um holofote noticioso diário, para reportar problemas aparentemente graves.
Mas em nenhuma das notícias é abordada a razão deste contínuo fluxo noticioso – aumentaram as avarias em relação às semanas anteriores? Houve alguma mudança nos critérios de avaliação da segurança? Quais os níveis de segurança da TAP? Em termos absolutos e em termos relativos (outras companhias de aviação europeias), como está avaliada a TAP nos vários rankings existentes? Porque problemas técnicos devem existir centenas por dia, na TAP e em qualquer companhia aérea. Não é isso que é preocupante mas a tipologia dos problemas, a forma e brevidade com que são resolvidos e os procedimentos de manutenção/ prevenção dos mesmos. Por outro lado a próxima privatização da TAP não deverá ser alheia a esta avalanche de problemas, cujo objectivo parece ser a desvalorização da companhia aérea para que os investidores privados tenham menos despesas.
A abordagem jornalística a que temos tido acesso não esclarece nenhuma dúvida e apenas instala a suspeição e a insegurança. Se é por incompetência ou por manipulação não sei, mas qualquer das hipóteses é muito degradante. A qualidade da informação é central no funcionamento de uma sociedade. Neste momento há outras fontes de informação e qualquer de nós se pode arrogar o privilégio de ser o seu próprio jornalista. Mas não só o conhecimento da profissão é nulo como as próprias fontes também não têm credibilidade assegurada, pelo que o trabalho jornalístico clássico ainda não tem substituição válida.
A cada vez maior dificuldade na afirmação dos vários jornais não será apenas fruto da crescente utilização da internet e das tecnologias de informação, mas também da enorme falta de qualidade da maioria deles. A valorização dos títulos bombásticos é preferível à veracidade dos mesmos, à verificação das fontes, ao cruzamento de dados, à investigação e estudo das matérias. Por isso a substituição da direcção do Diário de Notícias, um jornal centenário que se deveria orgulhar dos seus cabelos brancos e pugnar pela fidelização dos leitores, pode ser um sinal de esperança. Veremos se temos alguma razão para festejar.
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