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Da culpa

por Sofia Loureiro dos Santos, em 09.08.15

confessionario.jpg

 Giuseppe Maria Crespi

 

Estamos inundados de culpa e moralismo. Os políticos não defendem ideias mas afirmam as suas qualidades morais de honestidade e seriedade, independentemente do ridículo e da hipocrisia reinantes. Refaz-se a História à luz dos moralismos actuais, com uma interpretação de factos e acontecimentos numa sociedade que já não tem nada a ver com a sociedade em que ocorreram. A moda e o politicamente correcto da assunção de culpa e dos pedidos públicos de desculpas destrói a discussão dos verdadeiros problemas para ir entretendo e distraindo as pessoas com a intoxicação do bem e do mal.

 

Em vez de se discutir o emprego e o desemprego discutem-se cartazes de propaganda política, apenas do PS, claro, que os outros não têm mácula. Transforma-se  aquilo que devia ser uma troca de ideias numa batalha de banalidades, numa tralha infame de palavras e pseudo sentimentos sem qualquer interesse ou sustentação.

 

O que mais me preocupa é que a esquerda, que tanto se apregoa de esquerda e dos valores da liberdade e da lei, foram e estão submersos por esta estranha amálgama de mediocridade, deixaram-se arrastar para o lodo e vão-se afundando. As máquinas de propaganda estão desligadas daquilo que verdadeiramente envolve e motiva o voto dos cidadãos.

 

Ao contrário de Viriato Soromenho Marques não me parece que o PS tenha que pedir desculpas ou assumir responsabilidades da Troika ou de políticas que vêm desde Cavaco Silva. Essas responsabilidades são assumidas e são julgadas politicamente pelos eleitorados aquando das eleições legislativas. O problema da justiça em Portugal vai muito para além de Sócrates e Sócrates é apenas um exemplo.

 

A angústia que permanece, com a consequente desertificação da mobilização eleitoral, é a falta de clareza e a coragem de assumir riscos - falar de inconveniências que podem levar à vitória ou à derrota eleitoral - o PS fez coisas erradas e certas ao longo da sua História. A direita conseguiu empurrar o PS para o canto da defesa permanente, não tendo este sido capaz de explicar as vitórias e de explorar as desastrosas políticas da direita. Na verdade o PS tem o caminho totalmente minado pela manipulação informativa. Mas o PS tem que marcar a agenda política e ter a coragem de falar de tudo o que for preciso, sem complexos de culpa, não aceitando a política do genuflexório, confissão e penitência perpétuos.

 

Que voltem os valores republicanos e da liberdade para que termine este deprimente retrocesso civilizacional.

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publicado às 12:57


4 comentários

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De ana paula a 09.08.2015 às 14:55

Concordo com consigo e também penso que os problemas com os cartazes são um reflexo da ansiedade dos dirigentes do PS, do condicionamento que sentem para serem moderados, têm que ser moderados, pensam e, por isso, não vão à raíz de alguns problemas - tratado orçamental, por exemplo, ou o funcionamento do euro - porque, acham, podem ser chamados de radicais.

Enfim... primeiro que tudo é preciso afastar este PAF.
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De Sofia Loureiro dos Santos a 09.08.2015 às 15:06

Também concordo - é preciso afastar a PAF!
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De Zé a 09.08.2015 às 15:19

Em que sentido usa a expressão "politicamente correcto"?
No sentido em que Donald Trump e mais alguns milhões de conservadores em todo o mundo a utilizam diariamente?
Se não, então pedia-lhe o favor de definir esse conceito.
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De Sofia Loureiro dos Santos a 09.08.2015 às 15:55

O sentido em que uso a expressão "politicamente correcto" é aquele afasta todo e qualquer patrulhamento ideológico de linguagem, tentando mascarar a realidade com hipérboles e eufemismos - e esse patrulhamento existe à esquerda e à direita.

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