por Sofia Loureiro dos Santos, em 02.05.15
Guilherme d'Oliveira Martins
António Sampaio da Nóvoa avançou para Belém. Crédito para ele, que se disponibilizou para esse serviço público e de cidadania. No entanto Sampaio da Nóvoa coloca vários problemas para as eleições presidenciais e legislativas:
- Sampaio da Nóvoa apresenta-se como um outsider do sistema político, um novo político que vai regenerar o sistema. Na minha opinião é um erro e uma postura perigosa. A Presidência da República é um cargo político que, nos difíceis tempos de descrença que atravessamos, deverá ser ocupado por alguém que privilegia a política e que a exerça de forma nobre. Ser-se político é mesmo aquilo que se deve pedir ao mais alto representante da Nação.
- Sampaio da Nóvoa apresenta-se com um discurso esperançoso e bem escrito, de não resignação às desigualdades e à pobreza, de transformação da sociedade – todos sabemos que o Presidente não o fará nem é para isso que o elegemos. O Presidente da República tem que ser alguém em quem a população se possa rever como exemplo de seriedade, honestidade e coragem e que, acima de tudo, respeite. Não precisamos de um amigo na presidência, de um companheiro de luta ou de um idealista inspirador. Não há qualquer problema em ter também estes atributos, mas não é por eles que será eleito – sê-lo-á pela percepção que teremos da sua capacidade de cumprir e fazer cumprir a Constituição, de saber ouvir o sentir do povo e que saiba interpretar os sinais da sociedade para que, com a sua influência e a sua determinação, possa ser o último garante do Estado de Direito, da Liberdade, da Democracia e da credibilidade das Instituições.
- Por outro lado, Sampaio da Nóvoa poderá ocupar a esquerda do PS e a área à esquerda ao PS, mas nunca poderá ganhar a área do centro. Isso abre caminho à vitória de qualquer candidato do centro-direita – Marcelo Rebelo de Sousa ou Rui Rio, por exemplo. Continuo a acreditar que Marcelo Rebelo de Sousa não se candidatará, pois por muito popular que seja colou-se à imagem de comentador do regime e dos políticos, uma espécie de Bobo da Corte o que, temo bem, não seja exactamente o que precisamos como último garante das boas relações institucionais e internacionais (mas isso é apenas uma crença minha, em nada partilhada por muitos com quem tenho conversado).
- Mas o certo é que se o PS apoiar Sampaio da Nóvoa, como fará, caso não apareça rapidamente outro candidato que possa abarcar a área política do centro-esquerda, ficará com um espaço reduzido de actuação em relação às eleições legislativas: a) se Sampaio da Nóvoa ganhar, será que vai ser facilitador de eventuais necessárias coligações com o centro, na hipótese, cada vez mais provável, do PS não conseguir maioria absoluta?; b) e como ficará a mobilização e o entusiasmo para as eleições legislativas e a vitória do PS? Não é evidente que a direita ganhará novo alento com a ausência de um candidato ganhador? Mesmo que esqueçamos Marcelo Rebelo de Sousa, podem perfilar-se Rui Rio ou Mota Amaral, que poderão estar em condições de vencer as presidenciais.
Por isso lanço este desafio especificamente a Guilherme d’Oliveira Martins, a quem não conheço, numa espécie de carta aberta a um desejável (para mim) candidato a Belém. Quando tanto se fala de um perfil, um indivíduo com a sua craveira intelectual, a sua experiência política, a sua imagem de seriedade e de honestidade nas funções que já cumpriu e cumpre, fariam dele alguém em quem o País pudesse confiar para as difíceis futuras negociações que se avizinham, nos quadros nacional e internacional, alguém rigoroso e atento, alguém que respeite os cidadãos, o Estado, o serviço público, a nossa História, a nossa cultura e a nossa língua.
Nota: Vale a pena ouvir Pedro Marques Lopes e Pedro Adão e Silva sobre este mesmo assunto.