Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
Hoje vota-se no Reino Unido se a Europa permanecerá uma União com a Grã-Bretanha ou sem ela.
Como já disse há dias, tenho muitas dívidas quanto ao que preferiria que acontecesse. Se por um lado penso que a União Europeia foi um projecto político que permitiu a paz durante tantos anos na Europa, também estou convencida que, a continuar como até agora sem que qualquer importante reforma das suas Instituições aconteça, aprofundará as desigualdades, os nacionalismos, a xenofobia e o racismo, para além da subversão dos princípios democráticos, com a total perda de capacidade dos povos e os seus votos decidirem e gerirem os respectivos destinos.
E no fundo isso é o que mais me preocupa – o medo do funcionamento da democracia. As campanhas que ambas as posições protagonizam são bem demonstrativas de que a sigla TINA (there is no alternative) não se coloca apenas em relação à política económica. Aliás, num assunto que é eminentemente político, os fantasmas que se agitam são de cariz económico e financeiro, um retrato daquilo a que se transformaram as prioridades na União Europeia.
Não sabemos muito bem as consequências do que será a decisão favorável ao Brexit, com o provável efeito dominó que poderá desencadear. Não nos lembramos já do que era Portugal (ou o resto da Europa) sem a livre circulação de pessoas, bens e serviços, sem a abertura e a troca de experiências e de culturas de uma comunidade tão diversa e rica. Mas é precisamente o esquecimento de que se devem respeitar as diferenças e de que a solidariedade foi um dos princípios fundadores deste projecto, com a subalternização da democracia à ditadura dos mais poderosos, que faz perigar e soçobrar o que parecia imutável.
Preferiria que o Bremain ganhasse e que esta situação fosse um alerta para os decisores políticos de cada país e da União Europeia. É preciso ser optimista. Mas de uma coisa estou absolutamente certa – nada é mais importante que o respeito pelo voto e pela democracia.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.
À venda na livraria Ler Devagar