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Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
Viajámos calmamente pela Camarga, lagos extensos com flamingos rosa, casas baixas, campos verdejantes. É uma área rica em cavalos e touros. A alimentação está cheia de bifes e de guisados de touro, os restaurantes cobertos de cartazes e motivos típicos de touradas.
Chegámos a Aigues Mortes (Águas Paradas) a meio da manhã, e desembocámos de imediato na cidade rodeada pelas muralhas, com praças cheias de cafés e esplanadas, ruas estreitas com imensas lojas de artesanato, algum genuíno, a maior parte de pouca qualidade. Muito sabonete artesanal e perfumes e lojas de roupa altamente original e sofisticada. Na Place de Saint-Louis, a estátua do mesmo (Luís IX) que liderou as sexta e sétima Cruzadas, tendo morrido na última.
Depois de deambularmos pelas ruelas, partimos em direção a Arles, um dos locais emblemáticos de Vincent Van Gogh, que alí viveu, pintando muito e maravilhosamente, e morreu.
Muito se escreveu em relação à vida e à pintura de Van Gogh. Desde a sua devoção à religião, à sua vocação artística, ao seu relacionamento com a família, nomeadamente com o seu irmão Théo, à sua loucura, com acessos violentos (corte de uma orelha) ao seu suicídio.
Arles tem vários espaços e locais que celebram obras e pedaços da sua vida. O Espaço Van Gogh, instalado no hospital onde esteve internado (l'hôtel-Dieu), foi um grande desapontamento. Prometiam uma medioteca, mas encontramos apenas lojas com muita bugiganga. O Café Van Gogh, aquele que serviu de modelo ao quadro Terrasse du café le soir, na Place du Forum.
Antes de deixarmos Arles, no dia seguinte, ainda passámos pela ponte de Langlois, uma ponte de madeira, nos arredores, que resultou numa série de quadros de Van Gogh.
Tenho sempre algum fascínio pelos locais onde viveram os artistas que admiro.
A caminho de Sète passámos por Montpellier, onde se fundou uma das mais antigas e prestigiadas Faculdades de Medicina do mundo medieval. Cidade no caminho de muitos peregrinos para Santiago de Compostela, foi também refúgio de judeus fugidos de Espanha e ponto de encontro e passagem de muçulmanos, dando-lhe uma multiculturalidade pujança religiosa e científica, em que a liberdade de ensinar e aprender foram precoces e determinantes.
Passeámos um pouco pela cidade velha, demos uma voltinha pelas várias zonas pedonais, desembocámos na Place de La Comédie, depois na Place Jean Jaurès (com a sua estátua), fundador do L'Humanité e um dos fundadores do Partido Socialista Francês, defensor de Dreyfus, para além de muitos outros acontecimentos que protagonizou, tendo sido assassinado através de uma janela de um café.
Montpellier tem na sua História figuras como Nostradamus, muito em voga quando é preciso justificar teorias mais ou menos conspirativas e misteriosas, como o fim do mundo, através das suas Profecias, e Jean Moulin, um herói da Resistência francesa (apenas para citar dois).
Do almoço não reza a História. Sète, a cidade dos canais - Canal du Midi, Canal du Rhône, que se ligam ao Mediterrâneo e formam a Bacia de Thau. A localização do seu porto é estratégica para comércio e viagens entre Marrocos e a Europa. Através dos seu canais há pontes que se desviam ou que se elevam para passagem dos navios de grande porte.
O Hotel em que ficámos estava muito bem localizado, mesmo em cima do Vieux-Port. Mas era de tal forma minúsculo - cama, casa de banho com privé de um lado, qual cela de prisioneiro no fundo de uma caverna, que mal tinha espaço para nos sentarmos com a porta fechada, e uma cabine de duche aberta para o quarto, para além de uma selha que servia de lavatório. Enfim, em vez de quarto com casa de banho era mais uma casa de banho com cama!
Fomos passeando pelo Vieux-Port, deambulando pelos canais, que fazem desta cidade um local muito simpático. Como sou fã de uma série policial francesa (Candice Renoir), é fácil imaginá-la perseguindo assassinos pelos canais, nas suas roupas cor-de-rosa e com toques de telemóvel sempre diferentes, subtilmente alterados pelos seus filhos gémeos.
Jantamos muito bem, comendo ostras e sopa de peixe, uma delícia destas paragens.
Sabor de mar, não há dúvida que viver à beira de água inunda o espírito de azul.
Recuperando lentamente das vicissitudes de alguém a quem a idade tudo trás, um dos maiores problemas era comer, nomeadamente ao pequeno almoço. O café, que me é indispensável a esta hora da manhã, era intragável. Aliás intragável durante toda a viagem. Não sei que se passa com os franceses que assassinam alegremente o expresso, servindo uma água acastanhada, acre, em chávenas almoçadeiras, o que o faz arrefecer quase de imediato. Do outro lado da medalha, as fantásticas baguettes. Entretanto, a fruta é uma assunto que não lhes diz respeito. As sobremesas são sempre doces ou tábuas de queijo. As saladas de frutas que servem ao pequeno almoço são parcas e fingidas.
Mas não nos dispersemos em pormenores. A ideia era ir a Nîmes, passando por Pont du Gard. Esta ponte não é mais que uma porção do aqueduto romano de Nîmes, para atravessar o rio Gard, construído por volta do séc. I a.C. Tem 3 andares, sendo o superior o canal de conduta da água, que se encontrava desnivelado entre as duas pontas do mesmo, para permitir o escoamento da água, permitindo um débito médio de estimado em 40.000 metros cúbicos por dia (400 l de água por segundo!). É, sem dúvida, uma obra prima de engenharia daquela época.
Após vários séculos de degradação e ruínas, reganhou interesse a partir do século XVI, tendo sido sujeito a vários épocas de obras e de restauração. A partir de 2002, com a ajuda da UNESCO e da União Europeia, foi realizado um projecto de preservação deste monumento. Hoje em dia há uma área envolvente que acolhe turistas e estudantes, com um museu dedicado à arqueologia do sítio e à descoberta da forma de construção e arquitectura do aqueduto, bastante interessante.
Desta vez não subimos a lado nenhum. Depois de contemplarmos o aqueduto e visitarmos o museu, dirigimo-nos a Nîmes, em busca do anfiteatro romano de Nîmes (les Arènes), um dos mais bem conservados do mundo. Terá sido construído por volta do séc. I a.C, e era destinado a grandes espectáculos, como combates de gladiadores (mais frequentemente) ou , mais raramente, caça a animais selvagens. Tem forma elíptica em que as bancadas, de vários níveis, envolvem a arena.
Mais uma vez, lá fui subindo muito a custo as bancadas, para poder apreciar, em toda a sua magnitude, a enormidade do recinto.
Depois de respirar várias vezes de alívio e recuperar a serenidade, demos uma volta pela zona antiga e desembocámos no Festival Biennale de la BD, na Praça Charles de Gaulle. E lá foi ele, feliz que nem uma criança, igual às várias presentes, de tenra e menos tenra idade, que se acotovelavam entre as bancadas de livros e que enfileiravam para receber os autógrafos e desenhos dos seus autores favoritos.
Um maravilhoso momento vernissage, como lhe chamamos.
O hotel em que ficámos é um pequeno hotel de charme, que resulta de uma casa do séc. XVI totalmente restaurada. Bom ambiente, silenciosa, com pessoas discretas. O quarto muito espaçoso, com tudo o que se precisa, um duche matinal revigorante e um pequeno almoço simples mas muito bem recheado.
Avignon foi a cidade dos Papas durante cerca de 100 anos, entre 1309 (Clemente V) e 1418 (Gregório XI). As divisões políticas e religiosas que levaram, de início, à mudança da residência Papal de Roma para Avignon, culminou depois, de 1378 a 1418 e em plena Guerra dos Cem Anos, na divisão da Igreja Cristã em duas correntes (o grande Cisma), havendo dois Papas simultaneamente: um de Roma e outro de Avignon (o anti-Papa).
Durante o século de residência em Avignon, os Papas transferiram toda a sua riqueza, as suas cortes, cientistas, artistas, arquitectos, enfim, todo o seu poder para lá. Construiram um palácio verdadeiramente opulento e sumptuoso, exactamente à medida de cada um que lhe foi acrescentando áreas, frescos, etc.
É impressionante, logo que nos aproximamos, pois o palácio impõe-se de imediato na paisagem. A visita com audio-guia vale a pena. Vamos passando de sala em sala, com uma alturas de abóbadas espantosas. Impressionou-me sobretudo, uma sala que era praticamente inviolável, onde se depositavam dinheiro e outras preciosidades por baixo do chão! Subimos e descemos escadas, passando por áreas enormes e imaginando o frufru das vestes Papais, que deveriam ser pesadíssimas das jóias que as adornavam.
Fomos ver ainda a Pont d'Avignon, presente no meu imaginário desde a minha infância, por causa da canção Sur le Pont d'Avignon (esta letra só foi fixada no século XIX, numa canção popular muito mais antiga). É uma ponte sobre o rio Ródano, construída de início sobre a ruína de uma ponte romana por um pastor (Bénézet d'Avignon), em 1177.
Sobre ela tem-se uma vista esplendorosa das margens do rio. Lá fui eu para as alturas. Mas desta vez a ponte era suficientemente larga e tinha muros suficientemente altos para que não me assustassem muito.
Esta viagem foi verdadeiramente fit, de tanto que andei, subi e desci e do pouco que comi. Exaustos, ficámo-nos por um Croque Monsieur no hotel onde pernoitámos.
Para ganharmos força e ânimo, almoçámos em Orange. Eu estava com muita falta de apetite e sem saber bem o que deveria comer. Petisquei já não me lembro o quê, o que deixou o dono da Brasserie muito triste e preocupado. A seguir pedimos uma sobremesa, ao que ele perguntou se trazia duas colheres. Depois de uma negação veemente, pergunta espantado se madame ne vas pas piquer? Outra negação veemente. Quando chega a sobremesa, vêm as duas colheres, dizendo ele sabiamente - on ne sais jamais...
A Gruta Chauvet-Pont d'Arc faz parte de um complexo de grutas enfeitadas das gargantas de Ardèche. Foi descoberta em Dezembro de 1994, por Jean-Marie Chauvet e Christian Hillaire - espeleólogos - e por Éliette Brunel - viticultora.
Maciço onde se encontra a Grotte Chauvet
Possui um inúmero acervo de desenhos e pinturas pré-históricas, das mais antigas que se descobriram até hoje. As datações realizadas encontraram desenhos e pinturas de duas épocas distintas: uma com cerca de 36.000 anos (antes do presente - AP) e outra com cerca de 24.000 anos AP, o que se pensa terá acontecido por uma derrocada do tecto na entrada da gruta, que a encerrou durante cerca de 12.000 anos. Esta gruta é duas vezes mais antiga que a Gruta de Lascaux.
Distinguem-se impressões de mãos humanas, com pigmento vermelho, gravuras com digitalização e desenhos com a noção de profundidade e movimento surpreendentes. Pensa-se que haveria grupos de desenhadores, sempre os mesmos, que aí entravam. Há esqueletos de ursos pré-históricos, o que indica que seria um bom local para hibernarem.
Para preservar a gruta e os seus tesouros, foi feita uma segunda gruta, exactamente igual à primeira, que é aquela que visitamos, aberta ao público desde 2015.
Quando pensamos na evolução do Homem, naquilo que a arte e a criatividade representa nessa evolução, ficamos com a ideia que muito mudámos. Será mesmo assim? Ou foram os instrumentos que usamos que mudaram muito? A capacidade de desenvolvimento tecnológico aumenta exponencialmente e com isso a capacidade de representação do Homem, nas suas várias facetas.
Mas não estaria essa capacidade já desenvolvida na pré-história? Quando vejo estes desenhos fico perplexa e fascinada.
Depois de tantas emoções e atribulações, rumámos a Vallon-Pont-dʼArc, onde passámos a noite.
Pois descansada não foi muito, a noite. Eu, que sou resistente a tudo e já viajei inúmeras vezes para diversos sítios (dentro da Europa, bem entendido), fui acometida do mal do viajante*.
Partimos em direcção a Orange, ou a Cidade dos Príncipes. Mais umas subidas e descidas, mas passando por paisagens deliciosas, como os campos de papoilas, com lavanda nas bordas da estrada.
O nosso objectivo era visitar o Teatro antigo de Orange, que está excepcionalmente bem conservado e ainda hoje é um local onde se apreciam peças de teatro.
Este Teatro foi construído no séc. I aC, no reinado de Augusto, filho adoptivo de Júlio César, seu tio-avô materno. Tinha capacidade para cerca de 10.000 espectadores. O muro estava decorado com estátuas e colunas de mármore, e tinha entradas por onde os actores apareciam. A sua altura e arquitectura contribuíam para a optimização da acústica.
Havia o local para a orquestra, onde se colocava o coro, sendo as bancadas divididas em 3 áreas distintas para que os diversos grupos de pessoas não se misturassem. O Vomitorium era um local atrás das bancadas, onde se confraternizava com bebidas e comidas.
Foi um árduo trabalho obrigar-me a subir aquelas bancadas, com a altura que tinham (embora não tenha chegado lá mesmo acima). Mas lá fui conseguindo, apoiada ao desgraçado paciente que me acompanhava, tentando não ter ataques de pânico.
Mas, de facto, valeu a pena.
Já não valeu a pena o Museu de Arte e História de Orange. Podemos ter tido azar e muitas das peças não estarem disponíveis.
A tarde foi reservada à Pré-história.
*Para quem quiser viajar pelas terras de França, fique a saber que os hipermercados não são obrigados a ter casas de banho públicas. E que o Imodiumlingual é um medicamento vivamente sugerido para levar na mala.
Vamos então mergulhar na Provença, mais especificamente, no Luberon. Percorrendo as estradas que atravessam o terreno acidentado, ora se sobe, ora se desce, com enormes maciços calcários que se elevam à nossa volta (Petit Luberon), observamos as aldeias que aparecem na encosta.
Todas semelhantes, com as casas de uma cor de areia, que se agregam e galgam os montes, na encosta virada ao sol. Até lá, atravessamos campos de papoilas, ou de vinhas e papoilas, numa mistura de cores que só pode motivar os pintores. Muita gente de bicicleta, o que naquelas estradas estreitas e montanhosas é surpreendente.
Chegámos a Apt, ao início da tarde. Depois de darmos umas voltinhas, acabámos por ir ter a um restaurante que se chama L'Intramuros. Lá dentro, um bricabraque de objectos, desde bicicletas a relógios. Come-se muito bem e somos bem atendidos.
Depois de mais alguma passeata, passámos por uma loja de chapéus de palha, muitos e variados. A dona, muito simpática, tenta encontrar um chapéu que não me tape os olhos, e adapta um número 55 à minha cabeça. Fico a saber que é resistente ao sol e às intempéries, para além de ser arejado para o calor. Será que não voa com os ventos, que resiste ao mistral?
Nos arredores, mais aldeias semelhantes, com vários ateliers e lojas que vendem artesanato, muitas delas nitidamente feitas para turistas. Regressamos a Apt, para uma noite descansada, prontos a iniciar a próxima etapa - Orange.
Cannes, uma estação balnear de aristocratas e elites endinheiradas desde o início do séc. XX, é conhecida pela sua baía e pelo Festival international du film, cuja primeira edição se realizou em 1946, apesar de estar programada para setembro de 1939, altura do desencadear da II Guerra Mundial. Desde 2002 é conhecido pelo Festival de Cannes.
O primeiro local a albergar o Festival foi o Palais Croisette.. A partir de 1982 passa a realizar-se no Palais des festivals et des congrès de Cannes, edificado precisamente para o acolher. Neste momento já se vê a passadeira vermelha e vários cartazes com inúmeros actores e actrizes (vai começar a 16 de maio). A Palma de Ouro é criada apenas em 1955.
Há hotéis por toda a parte, uns ao lado dos outros, pequenos, grandes, mais ou menos modestos ou luxuosos. O nosso é agradável e tem um jardinzinho com limoeiros e laranjeiras, onde se pode tomar o pequeno almoço. Bem localizado, envolvido por muitos restaurantes e cafés e muito perto da baía.
Muita gente, muita mistura, muitas lojas muito caras, Ferraris descapotáveis - tudo o que um lugar que alberga estrelas e celebridades deve ser. Vale a pena passear ao longo da baía e contemplar a enorme fachada do Carlton, lindíssima. Construído entre 1909 e 1913, para albergar os aristocratas russos, tem um clube privado, na praia, desde 1930. Durante a I Guerra Mundial foi parcialmente transformado em hospital.
Mas já que estávamos enleados em destinos da alta roda, decidimos ir visitar Sanremo, transbordando França e cruzando a fronteira para Itália, viajando junto à costa, com uma vista soberba.
Depois demos um pulo a Nice, para conhecermos a Promenade des Anglais, uma extensa avenida à beira mar, tristemente celebrizada pelo atentado de 14 de julho de 2016.
Mas isto de viajar com uma pessoa de saber enciclopédico tem as suas vantagens. Ao falar do Boulevard Sadi Carnot, fiquei a saber que Sadi Carnot tinha sido um Presidente francês, neto de um outro Carnot, Lazare Carnot (Boulevart Carnot) e que o parque onde estacionámos o carro, o Parque Comandant Lamy, foi assim nomeado em homenagem a um explorador francês, que deu nome à antiga capital do Chade (Fort-Lamy), desde 1973 N'Djaména.
E ainda que Gambetta, da Place Gambetta (Léon Gambetta) tinha sido um importante político da terceira República Francesa! Pelo que aprendi, é também uma bebida provençal.
Não cesso de me surpreender.
Largada de paraquedistas no sul de França
Faz hoje 78 anos que foi assinada, em Reims, a rendição incondicional da Alemanha, após os anos devastadores da II Guerra Mundial, desencadeada pela Alemanha Nazi.
O fim da II Guerra, na Europa, tinha sido precedida pelo desembarque das tropas Aliadas no dia 6 de junho de 1944 (D-Day), na operação militar conhecida como Operação Overlord. A invasão da Normandia, pelos Aliados, iniciou a reconquista e a libertação da Europa.
Também a 15 de agosto de 1944, os Aliados desembarcaram na Provença, na operação que ficou conhecida como Anvil-Dragoon, em que invadiram a costa mediterrânica da França entre Toulon e Cannes. As duas operações faziam parte da estratégia dos Exércitos Aliados de pôr os alemães a defenderem-se em duas frentes diferentes, em França - uma vinda do Atântico (o martelo - Overlord), outra do Mediterrâneo (bigorna - Anvil).
L'Ést Republicain
L'Ést Republicain
O conjunto de Tropas envolvidas na invasão da Provença era constituído por americanos e franceses. Estes provinham do seu império colonial, a grande maioria do Norte de África - Argélia (europeus e muçulmanos), Marrocos, Senegal.
Em Toulon a batalha que se seguiu (entre 20 e 26 de agosto), deixou a cidade destruída, nomeadamente o seu Vieux Port, que foi, inclusivamente, sabotado pelos alemães.
Depois de aterrarmos em Marselha, rumámos a Toulon onde, num fim de tarde lindíssimo, passeámos pela marina e acabámos a saborear o mar, o pôr-do-sol e umas moules frites que estavam divinas.
Hoje resolvemos ir visitar o Mémorial du Débarquement et de la Libération en Provence, situado no cimo do monte Faron. Foi um susto chegar lá, por uma estrada estreitíssima, com abismos de ambos os lados, inclinações e curvas perigosíssimas. Mas valeu a pena. Para além de bem documentado, com vídeos e narrativas que explicavam com detalhe o que se passou, pudémos apreciar a extraiordinária vista sobre Toulon e um bom pedaço da costa mediterrânica.
Em todas as histórias há episódios que ficam registados e são inúmeras vezes lembrados, outros que parecem ficar esquecidos. E, no entanto, são tão importantes como os primeiros.
Viajar? Para viajar basta existir. Vou de dia para dia, como de estação para estação, no comboio do meu corpo, ou do meu destino, debruçado sobre as ruas e as praças, sobre os gestos e os rostos, sempre iguais e sempre diferentes, como, afinal, as paisagens são.
Se imagino, vejo. Que mais faço eu se viajo? Só a fraqueza extrema da imaginação justifica que se tenha que deslocar para sentir.
«Qualquer estrada, esta mesma estrada de Entepfuhl, te levará até ao fim do mundo.» Mas o fim do mundo, desde que o mundo se consumou dando-lhe a volta, é o mesmo Entepfuhl de onde se partiu. Na realidade, o fim do mundo, como o princípio, é o nosso conceito do mundo. É em nós que as paisagens têm paisagem. Por isso, se as imagino, as crio; se as crio, são; se são, vejo-as como às outras. Para quê viajar? Em Madrid, em Berlim, na Pérsia, na China, nos Pólos ambos, onde estaria eu senão em mim mesmo, e no tipo e género das minhas sensações?
A vida é o que fazemos dela. As viagens são os viajantes. O que vemos, não é o que vemos, senão o que somos.
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