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Até quando

por Sofia Loureiro dos Santos, em 18.03.13

 

Jochen Hein: see II 

 

Levantamos o corpo numa penitência diária

de quem ignora ao que regressa

não sabemos parar este irremediável aperto

do tempo esta camisa de ferro a que nos comprometemos

obrigações que só a nós amarrámos mas

que outros sentem secretamente.

Levantamos os olhos da terra para onde

queremos mergulhar mítico lugar de alimento

e paz onde o deserto das casas e das ruas não assusta

mas comove. Recolhemos a vontade aonde ela já não existe

reinventamos em cada segundo a energia que move

músculos e engole a funda tristeza da desesperança.

Até quando.

 

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publicado às 12:49

Casa de feno

por Sofia Loureiro dos Santos, em 24.02.13

 

Convidei para o jantar... um poema

 

 

 

 

 

Havia rumor de passos de vozes ranger de tábuas

entre as rosas mistura de cheiros acres e baunilha.

Havia olhares prolongados de privações

anos de chão raspado por joelhos macerados.

Havia mãos diligentes que batiam ovos

zelosamente guardados em quartos de verão.

Infâncias de memórias casas de ventos

onde se depositam amenas tardes de feno.

 

 

Suspiro com leite-creme de beterraba e chocolate

 

O suspiro:

Batem-se 8 claras com uma pitada de sal em castelo bem firme, e juntam-se 400g de açúcar batendo sempre, durante mais um pouco, até ficar um creme branco e espesso. Espalha-se num tabuleiro e leva-se ao forno lento até cozer.

 

O leite-creme de beterraba e chocolate:

Cozem-se 200g de beterraba descascada e aos bocados em água, com raspa de 1 limão e de 1/2 laranja e 1 vagem de baunilha (aberta, raspada e cortada aos pedaços); depois de cozida escorre-se, retira-se a vagem da baunilha e reduz-se a puré (com a varinha mágica) juntamente com 1/2l de leite que, entretanto, ferveu com outra vagem de baunilha e 200g de chocolate preto (de culinária), cortado aos bocadinhos para ir derretendo. À parte misturam-se 8 gemas com 300g de açúcar, 2 colheres de sopa rasas de farinha e, a pouco e pouco, o restante 1/2 litro de leite. Côa-se o leite com a beterraba e leva-se ao lume, juntando com cuidado a restante mistura do leite, ovos, açúcar, farinha e leite. Deixa-se no lume até engrossar, torna-se a coar e está pronto.

 

Serve-se o suspiro banhado em leite-creme de beterraba e chocolate.

 

 

Esta é uma homenagem à minha avó.

 

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publicado às 18:51

Impossível

por Sofia Loureiro dos Santos, em 19.02.13

 

Wayne Chisnall

 

1.

Sei que tenho memórias de um tempo feliz

daquelas memórias que servem para aconchegar os rigores da passagem

da vida. Sei que existem nalgum recanto do cérebro trancadas

em portas invisíveis. Mas não as encontro

essas memórias de tempos idos em infâncias despreocupadas e seguras.

 

2.

Impossível este amor sem vício nem dor

este diário sem carne amarrotada e madrugadas insones.

Impossível este amor de liberdades aprisionadas

pelo hábito e pela culpa. Impossível querer sem ter

a cruel lucidez da incerteza e mesmo assim amar

sem pejo nem lonjura sem o tempo que perdura em nós.

 

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publicado às 14:55

Sal

por Sofia Loureiro dos Santos, em 19.01.13

 

Salt painting

Dana Jo Cooley

 

 

Um dia de punhos apertados. No teu peito

a irmandade dos povos desabridos desastre

exato e metódico como manto de fado milenar.

 

Habita-nos um pequeno monstro cinzento

que olha e ri das faces demolhadas em banhos de sal.

Ressequidos os montes e cumes de burburinho ocupado

de tantas mãos vazias. Um dia a menos

que a falta do teu peito faz a vida inútil e comprida.

 

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publicado às 21:24

Um de Janeiro

por Sofia Loureiro dos Santos, em 01.01.13

 

 

To Every End There is a Beginning

Rich Frederick

 

Neste pequeno centro de evasão a que chamo casa

o mundo suspenso entre a raiz do sol

e o bater de uma asa

apenas a música de flores embala

a certeza da realidade que me espera.

 

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publicado às 11:49

Certo

por Sofia Loureiro dos Santos, em 30.12.12

 

 

David Freedman

 

Vou secando as flores

drenando a água em que mergulho

a felicidade momentânea.

Gasto a alma absorvo dilúvios

e reduzo a pó a grandeza que antecipo.

A solidão ecoa e infiltra todos

os poros da vida arestas que magoam.

Só o inatingível me parece certo

na prisão do encantamento.

 

Por pudor ou medo não quero

precisar tanto de amor.

 

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publicado às 22:29

Quadras de Natal (3)

por Sofia Loureiro dos Santos, em 18.12.12

 

Stefano di Giovanni

 

Quero dar ao meu amor

um fio do meu cabelo

ternura branca de dor

rugas fundas em novelo.

 

Minha alma estendida

umas mãos cheias de nada

o resto da minha vida

a seu lado ancorada.

 

A doçura da romã

quero dar ao meu amado

o respirar da manhã

rumor do campo acordado.

 

Quando chegar o Natal

com a penúria enfeitada

em poeira de cristal

serei a noite encantada.

 

E enquanto o tempo quiser

serão meus braços seu manto

sempre que o céu mantiver

o tom cinzento de pranto.

 

E enquanto o tempo poisar

no ombro do nosso amor

nos dias que irão faltar

o mundo será melhor.

 

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publicado às 14:01

Oferta

por Sofia Loureiro dos Santos, em 12.12.12

 

Bonsai

 

Nem sempre sabemos distinguir as nítidas

superfícies a transparência das luzes o brilho

inamovível da memória. Nestas árduas fadigas

de hoje recuperamos a necessidade de sentir

na simples limpeza do olhar a oferta o conforto

do silêncio.

 

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publicado às 10:37

Espelho

por Sofia Loureiro dos Santos, em 20.10.12

 

Pistoletto:

Mirrors

 

 

Gosto das imagens sem sons em que a mímica

dos rostos me prende e suspende.

Entendo melhor o brilho dos olhos a rugosidade

da pele o tremor das pálpebras,

antecipo a lava destruidora o gelo

das mãos caídas, estremeço nos braços abertos

de alguém que não me vê,

misturo as minhas com as lágrimas do espelho,

devolvo a névoa e o calor em novelo.

 

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publicado às 22:34

Poeira

por Sofia Loureiro dos Santos, em 15.10.12

 

Sherrie Rennie:

Inner-city Bred

 

 

1.

Nada me aquece neste muro construído

por minhas e outras mãos. Ouço vozes solitárias

de um fado torturado e infinito. Cada vez mais fria a ausência

do teu abraço. Ao meu lado o silêncio esfíngico

de alguém que desiste. Que sem querer mergulha na guitarra

e dedilha a dor permanente da realidade.

 

2.

Nego o passo para o monótono aviso da destruição

nego a inevitável avalanche da tristeza

uma apatia tão sem nexo nem solução

que nega o lampejo e a atração

pelo apetecível abismo.

 

3.

À minha volta a poeira desmaiada da cidade

sem ruas visíveis nem faróis fugazes.

Procuro algumas velas iguais à tremeluzente

incerteza que nos habita na usual capacidade

de apagamento que antecede a idade

das cinzas.

 

4.

Parto aplicadamente o tijolo em que

transformo os velhos pedaços deste

tecido envelhecido que

enforma o todo que já

foi habitado por

mim.

 

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publicado às 21:08


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