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Cada um cumpre o destino que lhe cumpre. / E deseja o destino que deseja; / Nem cumpre o que deseja, / Nem deseja o que cumpre. [Ricardo Reis]
Pelo que pude entender, Paulo Branco atropelou a lei ao não pedir autorização aos herdeiros de João César Monteiro para que fossem lidos textos seus numa homenagem que decorreria no Lisbon & Estoril Film Festival, titulada Leitores improváveis, o que é lamentável e inaceitável.
Na carta aberta dirigida ao produtor, afirma-se, a certa altura:
(...) agora com um ministro, rodeado por numeroso séquito hemicílico, a ler uma carta do César a um organismo estatal e sabe-se lá mais o quê de igual jaez e esperta solicitude. Que "eles" comem tudo, está na canção e na sabedoria popular, por (forçada) experiência própria. Mas "que não deixam nada", já é de contestar. Porque deixam: deixam um rasto repulsivo, que soma ao abuso puro e duro o intuito subjacente de branquear, neutralizar, festivalar o furor interventivo, manifestamente Anti-Sistema, do cineasta, assim posto à mercê de tais canibais homenageantes. (...)
Ainda sobre este assunto, a realizadora Margarida Gil terá dito que:
(...) mas pôr um ministro, um governante, a ler um texto do João César é desfavorecer e desprezar ainda mais o cinema em Portugal (...)
Ficamos pois a saber que há cidadãos que estão proibidos de ler certos textos, ou de os interpretar, talvez porque se lhes mutaram os genes da emoção, do gosto pelas artes ou da sensibilidade. Isto porque são de direita ou governantes. Quando se preenchem estes dois critérios, não há poeta que lhes valha.
Isto é uma síndroma sobejamente conhecida, em Portugal - a apropriação do coração, da cultura e da delicadeza pela classe artística de esquerda. Diria mesmo mais, não há artistas se não os de esquerda. E quem disser o contrário é porque é de direita.
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