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Da descrença

por Sofia Loureiro dos Santos, em 27.06.13

 

 

Acho sintomático ler várias pessoas referirem-se aos que não fizeram greve com aqueles que tiveram necessidade de justificar esse facto. Realmente está de tal forma impregnado, na ala esquerda, que quem não é grevista está vendido, é amarelo, defende o patrão, é cobarde e outros epítetos, tal como para a ala direita se passa exactamente o contrário, que muitos se sentem compelidos a explicarem-se. No fundo, é o que estou a fazer.

 

Realmente respeito muito quem faz greve, se a faz porque está convencido que essa forma de luta terá consequências, é uma tomada de posição de dignidade e clamor. Tal como respeito quem a não faz, se pensa que não se revê nesse tipo de manifestação de desagrado. Mas há patrulhas ideológicas dos dois lados, que gostam de insultar quem não faz a escolha certa, dependendo da lateralidade em que se está.

 

A verdade é que acredito cada vez menos nas greves como meio de pressão. Parecem-me anacrónicas, um ritual que se repete sem consequências. Penso que a pressão sobre o poder político, pois esta é uma greve com fins políticos e não laborais, a cumplicidade e o ganho da opinião pública se conseguem através da capacidade de chegar aos media e influenciar a opinião pública. É só estarmos atentos ao bombardeamento a que, desde que sequestrou os subsídios no sector privado - o governo tem sido submetido, com comentadores de todos os tipos, jornalistas, politólogos, economistas e filósofos, a desdizerem o que ansiavam como terapêutica salvífica nos últimos tempos do governo anterior. Também foi assim que se criou a onda de crucificação do governo de Sócrates.

 

E temos também o fenómeno das redes sociais, que podem levar à desvalorização da representatividade dos eleitos, pois confunde-se a vontade do povo com o que se lê nas redes e com a organização das ditas manifestações inorgânicas. Fenómeno esse ainda não compreendido nem aproveitado pelo regime.

 

Os bloqueios da circulação das pessoas, como os tentados na ponte 25 de Abril, ou da saída de trabalhadores que não aderiram à greve, cpomo o que aconteceu na Carris, são ilegítimas e a polícia tem por função impedi-las. A democracia assenta no respeito pelas escolhas de todos, por muito que não sejam as nossas.

 

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publicado às 21:39


8 comentários

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De Equipa SAPO a 28.06.2013 às 22:58

Boa noite,

O seu post está em destaque na área de Opinião da homepage do SAPO.

Atenciosamente,

Catarina Osório,
Gestão de Conteúdos e Redes Sociais - Portal SAPO
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De António M P a 29.06.2013 às 04:55

Ponte 25 de Abril: "os (bloqueios) tentados na ponte 25 de Abril"! Creio que ainda não decorreu o julgamento; julgamentos sumários nas redes sociais também não é sinal de muito respeito...

"A democracia assenta no respeito" pelos direitos legais e constitucionais cuja transgressão foi reprovada nesta greve. Quanto ao que a preocupa, conhece alguém que tenha sido obrigado a fazer greve? A não fazer, há muita gente, sob risco de cessação de contratos, perda de confiança das chefias, etc.

Com consideração, amp
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De joao antunes silva a 30.06.2013 às 04:13

Meu caro Antonio M P

Concordo com o seu comentario e quero acrescentar aqui algo ao meu proprio comentario abaixo escrito .
Os media referiram o local , mas não salientaram o ridículo da Polícia em afirmar que o propósito daquele pequeno grupo era bloquear o acesso à Ponte !!!!. Com efeito , o grupo foi acompanhado pela Polícia , a qual interveio quando o mesmo se encontrava ainda e apenas num acesso de Campo de Ourique à Avenida Eng.º Duarte Pacheco ,portanto num local muito longe de apenas um dos vários acessos à Ponte e que serve sobretudo o transito para a Serra de Monsanto e diversos outros destinos , como as saidas de Lisboa para Sintra e Cascais .
Os Media não mencionaram o que acima refiro , colaborando assim na tentativa de criar um " fait divers " que ofuscasse o sucesso da Greve Geral , o que em parte conseguiram .
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De A.Teixeira a 01.07.2013 às 01:51

É bom revê-lo por aí, António Marques Pinto, embora pregando uma moralidade (a do primeiro parágrafo) que, conhecendo a sua veterania e militância, não tem (desculpe lá) qualquer cabimento...

Imagine lá que, vendo-o tão prudente quanto a "julgamentos sumários", me lembrei logo de lhe perguntar em que "tribunal" foi julgada a "famosa dívida" de 38.000 contos de Sá Carneiro que serviu de pretexto ao ataque pessoal que o PCP lhe moveu durante a campanha das legislativas de 1980?

Se já não se lembrar do episódio eu recordo-lho (http://espectivas.files.wordpress.com/2011/01/sa-carneiro-paga-o-que-deves.jpg?w=265&h=384)
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De António Marques Pinto a 01.07.2013 às 02:52

Estimado António Teixeira:

Continuo a pensar que julgamentos sumários nas redes sociais também não são sinal de muito respeito... De resto, não se refere à matéria da minha observação, o que é pena, mas ao meu direito moral – se bem entendi - para fazê-la. Em matéria de militância por causas, creio que nenhum de nós está isento. Pela minha parte tenho até orgulho em defender as minhas ideias. Mas em matéria de ex-militâncias, se é a isso que se refere, vou dar-lhe mais um argumento para atacar o meu moralismo: é que eu também já fui militante da JOC, Juventude Operária Católica.

Eu poderia dizer que o “documento” que insere não implica as minhas militâncias e muito menos a minha pessoa, mas que tenha de recuar tanto na história para tentar fazê-lo, é sintomático. Em todo o caso e já que traz isso “à baila”, espero que o julgamento respectivo se faça ainda antes daquele a que se refere o não-bloqueio da ponte 25 de Abril.

Obrigado pelo cumprimento que retribuo.
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De joão antunes da silva a 29.06.2013 às 05:47

Quero somente acrescentar-lhe uma pista de reflexão : enquanto as redes sociais não conseguirem realmente gerar uma agenda ideológica claramente maioritária e fortemente mobilisadora pela limpidez e simplicidade dos seus objetivos - como, por exemplo, aconteceu nas penúltimas eleições em Espanha , em alguns ( poucos ) países árabes e no Brasil - o essencial do poder continuará ser decidido por quem controla os Media .
Com efeito, eles beneficiam do facto de o escrutínio do poder dos Media ser feita, no essencial, pelos próprios òrgãos de comunicação social que , têm um mínimo de entendimento tácito que submeterem o pluralismo aos interesses dos seus proprietários ou tutores .
O resultado prático e fácil de entender , infelizmente ,por poucas pessoas - como a Sofia -, é que nos períodos de decisões "eleitorais" os interesses dos grandes poderes económicos e financeiros , que controlam a linha editorial das mais importantes televisões , rádios e meios cibernéticos , protegem os partidos de Direita e os respectivos candidatos .
Estamos hoje perante uma espécie de "Direito Divino" da Direita controlar os Media , situação a que importa tentar pôr termo, o que espero venha a ser conseguido quando os chamados poderes inorgânicos , impondo um PLURALISMO MEDIÁTICO , consigam que a influência ideológica das Organisações de Esquerda seja idêntica em meios às do grande poder económico .
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De pink a 29.06.2013 às 16:26

Quanto aos ganhos,qdo. os há, os mais pressurosos a reclamá.los quem são? os que ficaram no miradouro...

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De Sofia Loureiro dos Santos a 29.06.2013 às 17:30

Obrigada aos comentadores e ao SAP pelo destaque.

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