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O gosto da descoberta

por Sofia Loureiro dos Santos, em 30.03.13

 

 

Não encontrei nenhum trabalho, teoria ou reflexão filosófica que explicasse a razão de haver uma associação entre a literatura policial culinária. Dos autores que conheço, bem sei que poucos dos milhões que devem existir, o que desvaloriza totalmente a amostragem, três, e todos pertencentes à Europa mediterrânica, têm detectives gourmet: Comissaire Maigret, de Georges Simenon, Pepe Carvalho, de Manuel Vázquez Montalbán, e o Inspector Jaime Ramos, de Francisco José Viegas.

 

Haverá alguma conexão especial entre o gosto e o raciocínio lógico, ou entre o gosto e a pulsão para a violência, para o crime? As sensações despertadas pelos odores das ervas e das carnes, pelas texturas e pelas cores dos alimentos, pelos paladares dos doces e dos ácidos, serão semelhantes às do encontro de padrões de comportamento, dos elos perdidos nas cadeias de acontecimentos, das motivações escondidas da superfície, da incapacidade de não esgravatar à procura do tesouro, da resposta a um enigma?

 

Cozinhar ocupa as mãos, que se desdobram em afazeres de esmagar, cortar, mexer, misturar, libertando a mente para o raciocínio e a contemplação. Por outro lado, as memórias evocadas pelos cheiros e pelos sabores, poderão estimular miríades de outras memórias e de saberes aprendidos sem nos darmos conta, que ligam factos e levantam mais perguntas.

 

Há dias ouvi Francisco José Viegas contar que lhe faziam, por vezes, perguntas, como se Jaime Ramos fosse real. Pois o Inspector Jaime Ramos é real, tem uma casa onde mora, ruas por onde caminha, mercados onde escolhe os ingredientes que cozinha devagar, enquanto saboreia um bom vinho, um clube pelo qual torce, um trabalho que lhe revela a sua própria humanidade. Poderá até ser mais real do que o próprio criador. E este é um dos maiores elogios que se pode fazer a um escritor.

 

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publicado às 19:59


1 comentário

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De sivispacem a 01.04.2013 às 01:20

De caras,assino o penúltimo parágrafo,das mãos ocupadas e a mente libertada para o afloramento(que surpresas,às vezes...)de saberes que pareciam enterrados...
Os outros parágrafos(não os tenho aqui à frente...)impõem uma segunda leitura...Mas o "pathos" está assegurado...Cumprimentos,"kyaskyas"
Adenda : O "meu cabrito"(o "ensopado" do preguiçoso...)"não deu vexame"...Concedo mesmo o "delicioso"...

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