De JOÃO CRUZEIRO a 22.02.2013 às 02:34
Cara Sofia
Antes de mais desejo sublinhar que, durante o Governo do PS , o seu blogue tornou-se um local que passei a frequentar , na medida em que os seus textos se caracterisavam pela isenção e equilíbrio de que se revestiam os seus comentários sobre aquele governo .
Com efeito , como todos sabemos , uns com prazer e outros ( como eu ) com profunda indignação e revolta, os Media exercem uma influência avassaladora sobre os juizos que se fazem acerca dos principais factos políticos . Por outros palavras , o Pluralismo que a Constituição "exige " para os Media está longe de ser praticado , o que coloca os Partidos de Esquerda , e em particular o PS , numa clara e revoltante inferioridade mediática , frente aos comandos editoriais favoráveis à Direita , com as suas hostes de comentadores e jornalistas , escolhidos " a dedo ", para difundir e proteger as ideologias e partidos de Direita e Centro- Direita , quer estando na oposição quer estando no poder . Portugal é , pois , na minha opinião , uma democracia adulterada pela MANIPULAÇÃO MEDIÁTICA, controlada pelo poder económico e pelos partidos com que este se articula .
Usando um exemplo extraído das competições desportivas , onde os erros propositados dos árbitros e as decisões de bastidores favoráveis a um ou dois clubes mais poderosos constituem o conhecido caldo de cultura dos climas de violência que se observam nos recintos desportivos , eu compreendo que as situações que centenas de milhares de famílias sofrem em Portugal , no domínio do desemprego , da perda das suas habitações, da miséria e pobreza crescentes , dos cortes financeiros na saúde que vão gerando o crime político das mortes prematuras de centenas ( ou milhares ? ) de "cidadãos " , da redução das prestações sociais que se refletem na miséria , na fome , no abandono escolar , da eliminação dos apoios às empresas mesmo das que ainda são viáveis , da redução drástica de rendimentos registada no corrente ano com o confisco dos pensionistas e os novos impostos sobre os trabalhadores em geral , todas estas medidas estão a criar um ambiente social explosivo de que , felizmente ,ainda só tivemos sinais ténues que os "media " realçam com o propósito de , ao condená-los , tentarem prevenir situações de violência verdadeiramente graves por parte de jovens , de desempregados e de idosos , em situação de desespero que os levarão a praticar actos , esses sim ,que atentarão contra a segurança pública , o património alheio e também a própria vida dessas pessoas desesperadas e desorientadas arrastando , no suicídio ,os seus filhos , tragédias que já se começam a verificar também em Portugal .
Face ao que se está a passar é importante reduzir rapidamente os vários factores e motivações que explicam não só os protestos mas situações muito piores que poderão vir a ocorrer .
É este meu alerta que , com a experiência social e política vivida , por mim e alguns de nós , desde os anos 40 do século passado, venho transmitir para a sua reflexão .
João Cruzeiro, obrigada pelo seu comentário.
Concordo consigo em relação à manipulação dos media por forças políticas e por movimentos corporativos, nomeadamente o dos próprios jornalistas, e ainda pela incompetência e ignorância de muitos profissionais. Concordo ainda que o clima de tensão que se vive é devido à política desastrosa deste governo e da maioria que o apoia. Mas nada disso pode justificar o atropelo da vivência democrática. Pelo contrário, mais importante é que os actores políticos e institucionais se demarquem firmemente de pseudo manifestações espontâneas e de derivas totalitárias. Nada pode justificar o impedimento seja de quem for de se expressar, por muito que não concordemos com o que diz e o que faz. Assistimos ao cerco aos ministros de Sócrates, por sinal muito compreendido pelos actuais cercados. É um péssimo e preocupante sinal que, neste momento, António José Seguro faça declarações em que é, manifestamente e objectivamente , evasivo a condenar estas situações. Populismo de que se arrependerá rapidamente, quando chegar a vez dele.